Música
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Por — Rio de Janeiro

No final de 2019, tudo era alegria: Junior tinha encerrado com a irmã, Sandy, a turnê “Nossa história”. A volta da dupla aos palcos, depois de 12 anos, teve risos, lágrimas, lances antológicos e faturamento de US$ 2,2 bilhões – naquele ano, eles só perderam para Elton John, que arrecadou 2,8 bi na estrada. Mas mal sabia o músico de 39 anos que logo em seguida viria a pandemia de Covid-19. O que eram planos mirabolantes viraram uma agonia no isolamento – que agora, enfim, ele pode revelar, de maneira triunfal, nas canções de “Solo – Vol. 1”, o primeiro disco do seu protagonismo artístico.

— Assim como para muita gente, a pandemia foi uma super rasteira, veio uma sensação de “eu não posso planejar mais nada, não ser que vai ser da minha vida”. Ao mesmo tempo, eu me sentia absolutamente envolvido emocionalmente com o que estava acontecendo como país, com a conduta do governo em relação à Covid... as pessoas estavam morrendo! Ali, eu me vi bem desanimado, bem sem vontade — confessa Junior, numa tarde nublada no quarto de um hotel de luxo em São Paulo.

No horizonte, o que havia era um ameaçador déjà vu das crises de ansiedade e da síndrome do pânico que tivera entre 2012 e 2013, quando estava decidido a puxar a tomada de um dos projetos musicais criados no período pós-Sandy & Junior, o Dexterz, trio de música eletrônica com Amon-rá Lima e Júlio Torres.

— Um dos motivos pra encerrar o Dexterz foi que eu não estava bem de cabeça, aquilo não estava me fazendo bem, eu não estava feliz. Quando conheci a Mônica (Benini, modelo e designer de joias com quem se casaria em 2014 e teria dois filhos), eu estava no auge das crises de pânico, ela segurou a barra comigo — conta.

No fim das contas, na pandemia as crises não voltaram, mas Junior sumiu da vida dos amigos, não respondia mensagens e, “sem conseguir ter a dimensão, o peso real das coisas”, algumas vezes entrou “nuns parafusos” — amenizados com algumas sessões de análise e a ajuda de uma velha amiga.

– Mais uma vez, era na música que estava o meu resgate — resume. — Quando eu estava mais fragilizado, minha analista falou: “vai pro estúdio, fecha a porta e mergulha na tua música!” De fato, foi o que me afastou desses pensamentos. Quando vi, eu estava feliz, dançando no meio do estúdio.

Capa do álbum "Solo — Vol. 1", do cantor Junior — Foto: Reprodução
Capa do álbum "Solo — Vol. 1", do cantor Junior — Foto: Reprodução

Uma das músicas mais reveladoras da psiquê de Junior no “Solo — Vol.1” é “Sou”, que traz uma poderosa sequência de versos: “tantos sonhos pra viver ainda / meu passado tem minhas digitais / só o tempo é quem pode me definir / sinto que não tenho nada o que provar / a quem quiser me questionar / foi com meus passos que eu cheguei aqui.” É uma música que o artista desenvolveu a partir de outra, que o seu pai, o sertanejo Xororó, fez com alguns amigos para presentear o filho em seu primeiro disco solo.

— No começo da pandemia, eu me desfiz do meu estúdio e a gente (ele, a mulher e os filhos) se mudou para o interior. Fiquei pelo menos uns seis meses sem encostar no meu violão, não mexi com música por esse período todo. E aí meu pai, sagaz como ele é, sentiu a necessidade de me dar essa cutucada assim. E me mandou todo o primeiro verso da música — conta. — Eu ia argumentando palavra por palavra da música com ele assim: “Olha, eu quero dizer isso porque o que eu sinto é isso.” E ele: “poxa, filho, mas não dá para falar isso de um jeito mais leve?” (risos). A gente foi negociando até chegar a um ponto que os dois estivessem bem contentes.

Sentindo que precisava de mais parceiros com quem dividir esse disco solo, Junior procurou o cantor e compositor Dani Black (filho da cantora Tetê Espíndola), que conhecera numa festa da amiga Maria Gadú. Eles fizeram algumas canções, mas a que entrou no “Vol. 1” foi a malcriada – e de certa forma poética – “Foda-Se”.

— Ela nasceu de uma de uma das bases que eu fiz no começo do processo de tentar encontrar a sonoridade do disco, e que ficou guardada por meses até ser retomada. Na busca por melodias, veio a sensação de que aquilo precisava ser falado, não cantado — explica Junior, que acabou encontrando, por acaso, no Instagram, um texto de Dani Black recitado pelo próprio. — Meia hora depois, mandei a música gravada, do jeito que está. Ele pirou e mostrou para os amigos. É uma canção falando “foda-se”, no meio de um disco pop, era assim que eu queria.

A dupla Sandy & Junior, em 2002 — Foto: Divulgação
A dupla Sandy & Junior, em 2002 — Foto: Divulgação

O easter egg de “Foda-Se” é a participação, no coro, da irmã, Sandy.

— Essa ideia foi do (tecladista e produtor Felipe) Vassão, ele ouviu a demo e pensou: “e se a gente botasse a Sandy para fazer essas vozes?” E as vozes do disco, eu gravei todas no estúdio da casa dela. Era só dizer: “vem cá, desce, vem gravar um negócio.”

Tudo isso leva a “Ninguém É santo”, a canção mais evidentemente sobre sexo do disco.

— O sexo faz parte da vida de um adulto, era uma parte com a qual eu queria lidar também — ressalta Junior, que começou a carreira ainda criança, com a irmã, e que passou o início da adolescência sob o olhar de uma mídia muitas vezes preocupada com “rumores” sobre sua masculinidade. — Desde os 13 anos eu tive que lidar com esse assunto da sexualidade, e nem na puberdade direito eu estava! Apesar de ter sido um moleque bem precoce em relação a isso, as coisas foram acontecendo conforme eu ia tendo espaço. Não pude ser adolescente, os conflitos da adolescência eu só fui viver com 20 e tantos anos.

17 tatuagens

Hoje definitivamente um adulto — com tatuagens que foram se multiplicando e chegaram ao número de 17 —, Junior conta com um reconhecimento de público que foi para além da dupla com Sandy e mesmo de seu trabalho como músico, no palco e nos estúdios. Tudo por conta do canal do YouTube “Pipocando música”, do qual foi apresentador entre os anos de 2017 e 2019.

— É uma coisa de geração. Eu fiquei muito tempo afastado da grande mídia e então ali foi nascendo um novo público, uma molecada de 18, 19 anos — conta. — Por esses dias, inclusive, fui jantar lá em Campinas, num restaurante coreano, com meus pais e minha irmã. O garçom me puxou num canto e disse: “Só quando você chegou é que eu confirmei quem era todo mundo. Porque eu reconheci você do ‘Pipocando música’!”

A recente separação de Sandy e Lucas Lima, seu amigo, Junior tem encarado com serenidade:

— O que eu acho mais estranho é botar um ex quando eu vou falar do Lucão. Quando eu fiquei sabendo, eles já estavam com essa ideia amadurecida. Eles me chamaram para contar, e tudo já estava num lugar muito bem resolvido, eu admirei muito os dois. Sinceramente torço para que eles sejam muito felizes e que que essa nova fase só traga coisas boas.

Mais do que uma empreitada financeiramente vantajosa, a turnê da volta de Sandy & Junior em 2019 trouxe para o músico a chave do que poderia ser esse novo Junior que agora se apresenta por inteiro no “Solo — Vol. 1” (ele ainda não tem uma data para lançar o Vol. 2, com as outras músicas que gravou).

— Ali, pude ver quais eram as minhas possibilidades artísticas, o que me alimentava, o que me dava tesão de fazer. Me vi completo de novo, precisando usar tudo que eu sabia — explica. — Eu estava cantando, dançando, tocando, produzindo, fazendo não sei o quê... Era o 360 graus que eu já tinha vivido e não vivia mais, só em pedaços. Esse ambiente de banda grande, no palco, cantando as músicas que eu tinha composto, com letras em português, foi muito revelador de quem eu era como artista.

Junior reconhece que, de fato, nos shows do “Solo” planejados para o ano que vem, pela primeira vez em toda a sua carreira ele vai estar no palco como homem de frente, sozinho. O que não será nenhum problema.

— Um dos meus grandes prazeres na música é o momento do ao vivo. É a adrenalina do show, a sensação de queda livre que se tem nessas duas horas. Show é uma aventura, você vive ele, tem que improvisar em situações diversas — ensina

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