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Por — Rio de Janeiro

Esta quarta-feira (6) à noite, na Galeria Vermelho, em São Paulo, Arnaldo Baptista — o fundador dos Mutantes, ao lado do irmão Sérgio e da então namorada (depois, esposa) Rita Lee — autografa exemplares de “Ficções completas”, volume que reúne, pela primeira vez, toda a ficção científica que escreveu em meados dos anos 1970. Estão no volume, editado de forma quase artesanal pelo selo Grafatório, os contos inéditos “O abrigo” e “The Moonshiners” e a novela (publicada originalmente em 2008 pela Rocco) “Rebelde entre os rebeldes”.

Aos 75 anos, por Zoom, de sua casa em Juiz de Fora, Arnaldo hesita em falar de idade e das marcas que o tempo deixou, e demonstra nem sempre estar à vontade com o passado. Ele prefere falar de eternidade.

— Eu estava lendo um livo do (guru do LSD) Timothy Leary e ali ele fala de uma companhia na Califórnia que faz criogenização. Então, se você está com uma doença terminal, você vai lá, fala com ela e aí hiberna. Você acorda quando puder sarar a doença — explica ele, levando sem querer a conversa para o assunto Rita (que sucumbiu a um câncer, aos 75 anos, em maio deste ano). — Sou um ateu psicodélico, então você pode pensar que estou pensando o que você quiser que eu pense. Nesse sentido, a Rita já foi para mim, não quer dizer nada. Se pudesse, tinha mandado ela para a criogenização. Mas ela não sabia disso, né? Ou estava vivinha.

Glórias e dissabores

Com a edição das “Ficções completas”, Arnaldo Baptista diz querer “alcançar o maior número possível de almas” para esses textos escritos numa época de muitas glórias com os Mutantes, mas também de muitos dissabores (a saída de Rita do grupo, o fim do casamento e, depois, a sua própria saída). Alienígenas, naves espaciais, filosofia, misticismo, motocicletas e até um supercomputador se encontram nessa histórias que, segundo os especialistas André Araújo e Fernando Silva e Silva (que assinam texto crítico no volume), “Arnaldo pôde ensaiar, para além de suas célebres invenções musicais, uma reflexão instigante sobre as possibilidades e os impasses da criação de mundos”.

Para o ex-mutante, o futuro, em 2023, dificilmente faz jus às projeções de sua ficção científica dos anos 1970.

— Isso porque a maior parte do pessoal aqui do Brasil é careta e religiosa. O que eu tento falar sobre o nosso país é que como seria bom se a gente tivesse mais eletricidade solar grátis, mais automóveis elétricos, se a gente se aprofundasse no conhecimento compartilhado — diz ele, que também alimentava sonhos bem mais prosaicos na época em que produziu os contos e a novela. — Muitas fábricas de automóvel fabricam motocicletas. Mas por que até hoje não tem uma moto Ferrari ou Lamborghini?

Capa do livro "Ficções completas", de Arnaldo Baptista — Foto: Reprodução
Capa do livro "Ficções completas", de Arnaldo Baptista — Foto: Reprodução

“Rebelde entre os rebeldes” tem vários personagens baseados em pessoas que o cercavam na época (e que acabaram emprestando seus nomes à trama). Só Meg, a heroína, que era “uma musa que me veio à cabeça”.

— Horácio (um supercomputador) era o meu avô, ele foi prefeito de Avaré. Mauro era o nome do meu mecânico de corridas de motocicleta. Eu estava decepcionado com o governo e pensei em ir embora do Brasil, então peguei a moto com um amigo e a gente saiu. Viajamos uns 22 mil quilômetros até chegar ao Panamá e, de lá, eu voltei, porque tinha o lançamento do LP dos Mutantes. Esse meu amigo foi até o Alaska.

Ilustração do livro "Ficções completas", do cantor e compositor Arnaldo Baptista — Foto: Reprodução
Ilustração do livro "Ficções completas", do cantor e compositor Arnaldo Baptista — Foto: Reprodução

Além dos textos, “Ficções completas” traz ilustrações que, segundo Arnaldo, “estão além de qualquer pensamento meu e são tão bonitas e exatas que ajudam a compreender melhor o enredo”. Elas foram feitas por inteligência artificial. Ou, como preferiram creditar os editores, pelo supercomputador Horácio.

— Está dizendo na TV que vão usar essa inteligência artificial na Fórmula 1. Não sei o que vão fazer, mas sei que vão usar! É interessante ver o quão longe a gente ainda pode ir. Ver um disco voador e saber o que comanda aquilo acima da velocidade da luz, acima do tempo — divaga Arnaldo.

Os Mutantes, em 1971: Arnaldo Baptista (à esq.), Rita Lee e Sérgio Dias — Foto: Rodolpho Machado
Os Mutantes, em 1971: Arnaldo Baptista (à esq.), Rita Lee e Sérgio Dias — Foto: Rodolpho Machado

Vivendo em Minas Gerais desde que se retirou de São Paulo (onde em 1982 sofreu com edemas pulmonares e cerebrais depois de se jogar da janela de uma das clínicas onde foi internado para tratar problemas psiquiátricos), Arnaldo passa os dias hoje de maneira franciscana, pintando quadros. Em 2020, dificuldades financeiras o obrigaram a concordar com a rifa de um dos seus casacos queridos dos tempos de Mutantes — mas o ganhador devolveu o casaco em troca de um punhado de quadros pintados por ele.

De vez em quando, Arnaldo Baptista vai assistir a shows em Juiz de Fora. Um desses foi o de Tim Bernardes, um de seus grandes admiradores, com quem fez questão de se encontrar:

— Foi ótimo! A gente está acostumado com guitarrista que arrebenta tudo, né? Mas nós chegamos lá, ele estava sentado no palco com um amplificador Fender Twin Reverb e uma batelada de pedaleira. Ele foi conversando com a gente muito calmamente, mostrando como fazia cada um dos sons. Foi legal porque, ao mesmo tempo, explicou tudo e fez uma música.

Álbum de inéditas

Enquanto lança as suas “Ficções completas”, Arnaldo segue com a produção de um álbum de inéditas, já na fase da gravação da bateria e do baixo. O disco não tem data prevista para sair — e ano que vem, por sinal, completam-se 50 anos de seu primeiro e mítico álbum solo, “Lóki?”

— Está sendo ótimo fazer esse disco, é como se eu estivesse no paraíso. Eu tenho os instrumentos com que sonhei a vida inteira, o contrabaixo Gibson, a guitarra Gibson, a bateria Ludwig, órgão com som de Hammond... eu só tenho que me manter consciente do que estou fazendo — relata. — Até já pintei a capa do disco, que vai se chamar “Esphera”. Com ele, estou lançando a ideia do som espherophônico. Você tem alto-falantes em baixo, em cima, dos lados, atrás e na frente, como se você estivesse dentro de uma esfera de som. Nesta casa ainda não dá para fazer, porque é pequena, mas vou melhorar.

Animado com toda a agitação em torno do livro, Arnaldo diz que até sente falta de subir ao palco:

— Mas para eu conseguir tocar tem que ser com amplificador valvulado. Só que até conseguir provar isso (que precisa desse tipo de equipamento), fico em casa.

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