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‘Toda menina baiana tem um anjo da guarda.” Assim começaria “Toda menina baiana” se tivesse vingado a primeira letra escrita por Gilberto Gil. Acompanhar o passo a passo de canções é uma das possibilidades para quem tiver acesso ao acervo do artista, agora sob a guarda da Academia Brasileira de Letras. Ocupante da cadeira 20 da ABL desde abril do ano passado, Gil decidiu, com sua mulher, Flora, abrigar na instituição papéis e objetos de toda a vida profissional.

— O acervo ganha um abrigo seguro, uma plataforma bem qualificada, porque é uma casa da palavra, da língua, e com um grau de acolhimento a esse tipo de material muito maior do que o de outros lugares. E é uma casa à qual eu me associei. Então, há uma ligação direta do ponto de vista do meu trabalho — afirma Gil, por telefone.

O conjunto esteve no Instituto Antonio Carlos Jobim e, por três anos, foi matéria-prima para a criação do museu virtual de Gil no Google Arts & Culture, inaugurado em junho de 2022, quando dos 80 anos do músico. Para este projeto, muita coisa foi digitalizada, mas a ideia não era deixar tudo disponível, e sim produzir recortes temáticos e exposições para o site.

— O mundo digital ainda não abriga os vários interesses e as várias formas de acesso que esse material representa — diz Gil. — Ainda é muito novo, instável, não sabemos como vai ser utilizado e explorado. Ainda estamos na fase do aprendizado. Eu tenho muita dificuldade de trabalhar com o mundo digital, por falta de um conhecimento, uma inteligência treinada para isso.

Letra de 'Refazenda' — Foto: Guito Moreto
Letra de 'Refazenda' — Foto: Guito Moreto

Para Gil, “o acervo em papel facilita a vida de muita gente”. É o que também pensa a jornalista Chris Fuscaldo, que chefiou a equipe responsável pelo trabalho para o museu do Google:

— O digital é fundamental para quem está em outros lugares. Mas, para quem está no Rio, é incrível poder ver as coisas pessoalmente — ressalta ela, também autora de um livro sobre o disco “Refazenda”, a ser lançado em fevereiro.

Ainda não se sabe quando tudo estará disponível para o público. Segundo a arquivista Maria Oliveira, da ABL, ainda é preciso adequar o material às normas da casa. Mas, em algum momento do próximo ano, pesquisadores poderão, por exemplo, ver os papéis em que Gil escrevia suas letras.

O GLOBO folheou cadernos escolares — inclusive de seus filhos — da década de 1970. Há páginas dedicadas ao repertório de “Realce”, o disco de 1979 em que está “Toda menina baiana”. A faixa-título sofreu muitas modificações até chegar ao formato final. O autor se lembra de escrevê-la e reescrevê-la enquanto viajava pelos EUA lançando o LP “Nightingale” (também de 1979).

Há ainda registros de “Super-homem, a canção” e “Não chore mais”. Essas versões parciais são chamadas por compositores de “bonecas”.

— As bonecas iam testando vários vestidos até virarem um ente artístico — brinca Gil.

Ele estima que, em 50% das vezes, escrevia as letras com o violão do lado, já criando as melodias. Mas diz que nem sempre o instrumento estava presente.

— Havia muita coisa fora do campo musical, apenas como exercício de construção poética. Não necessariamente precisava chegar a uma canção, mas, na maior parte dos casos, era voltada para isso sim — conta.

Ao folhear os cadernos, é inevitável caçar letras inéditas. No “Caderno de composições — 1976-78”, há uma em forma de soneto datada de 1977 e batizada de “Abram alas”. Ao lado do título está escrito “(R. Lee)”. O GLOBO fotografou a página e enviou para Gil, que não se recorda dos versos nem da relação deles com Rita Lee.

Caderno com recortes e fotos de Gil — Foto: Guito Moreto
Caderno com recortes e fotos de Gil — Foto: Guito Moreto

“Eu sou um santo dos últimos dias/ Testemunha de J.K./ Estou crente que o novo Messias/ Mora no Jardim de Alá”, diz a primeira quadra.

A memória também não ajudou em outros casos, como numa letra que fala em “espadachim negro”.

— Às vezes revejo esses rascunhos, dá vontade de retomá-los, mas não tenho tempo para isso. Todo o tempo é dedicado ao trabalho com o repertório já feito, com o público já conquistado. Tomou o lugar desse artesanato para ficar criando, cinzelando — explica ele, que está buscando tempo para compor uma canção para o novo filme de Cacá Diegues.

O acervo tem muitos outros itens além de cadernos. Há, por exemplo, figurinos de shows e um traje do bloco Filhos de Gandhy, livros, teses, premiações, passaportes. E também há fotos, como as reunidas para a edição do livro “Gil 60 — Todas as contas”.

O artista deseja se aproximar ainda mais da ABL. No último dia 14, ele fez, no auditório da casa, um show de voz e violão para acadêmicos, funcionários e convidados.

— Tenho sentido falta de estar mais presente, participar mais dos projetos, e não consigo por causa da excessiva ocupação do mundo dos shows. Tenho representado a ABL em feiras de livros e lugares associados à literatura, o que me dá muita satisfação. Talvez no ano que vem tenha mais tempo de frequentar — acredita.

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