SXSW
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Por — São Paulo

Principal nome do Brasil na programação musical do South by Southwest de 2024, e pela primeira vez no festival que ocorre em Austin, no Texas, até 16 de março, Marcelo D2 quer levar para a capital texana o seu samba do futuro. O resgate da ancestralidade para construir o porvir é um dos motes do festival de tecnologia, música e cinema, e também a linha que conduz seu trabalho mais recente, o “Iboru”, lançado ano passado.

Em entrevista ao GLOBO, dias antes de subir a um dos palcos intimistas do SXSW, nesta terça e quarta, ele conta que a ideia do novo samba tradicional — uma “mistura de terreiro com inteligência artificial” — foi o que o trouxe de volta para a música, depois de um período em que pensou em desistir. “Queria fazer uma coisa diferente”, diz. O diferente veio primeiro com “Amar é para os fortes”, de 2018, que também virou um álbum visual e, depois, uma série de mesmo nome. “Mas foi o ‘Iboru’ que me trouxe de volta”, diz.

Agora, D2 diz que está numa fase mais otimista, mas menos utópica. A energia que deve levar para o SXSW é a que ele tinha em 1992, quando estava começando: “A vontade de fazer acontecer, de ir mudar o mundo”.

O que o levou ao SXSW?

Faz muito tempo que acompanho de longe o festival. Há dois anos eu quis ir só para acompanhar, mas no fim não consegui. Agora vou do melhor jeito, que é para tocar. A ideia é fazer uma grande roda de samba mais intimista. Uma roda que seja representativa do novo samba tradicional.

O SXSW é um festival que fala muito de futuro, um tema que também marca “Iboru”. Que futuro é esse?

É legal você falar de futuro porque, para mim, o “Iboru” é o futuro. Em 2018, eu quis assumir minha carreira porque estava muito cansado. Confesso que desde 2013, quando lancei “Nada pode me parar”, até 2018, quando saiu “Amar é para os fortes”, pensei algumas vezes em parar de fazer música, sabe? Fazer uma coisa diferente, abrir uma floricultura na Califórnia, vender flores… (risos). Mas não sei se estava bem pronto para isso. E aí veio a coisa do cinema, que me abriu uma porta nova. Teve também o “Assim tocam meus tambores”, com processo criativo aberto feito com o Twitch. Mas foi o “Iboru” que me trouxe de volta para a música. Com ele achei um lugar de pertencimento.

Que lugar é esse?

Eu estava caindo num lugar já meio cansado do que estava fazendo. E o “Iboru” parecia um samba do futuro. O que vejo é a inteligência artificial fazendo samba, é a molecada da favela transmitindo para o mundo inteiro. Me acendeu uma vontade de fazer de novo. E tem um universo muito grande nisso tudo que vai além da música, com cinema, com ocupação. Parece que estou lá em 1992, em que eu estava começando e pensava “vou fazer acontecer e vou mudar o mundo”. Eu estava apagado. E para mim “Iboru” acendeu essa chama.

Por que voltar ao passado é importante para construir o que vem depois?

Para o “Iboru”, fui falar com muita gente. Nina Da Hora, Ailton Krenak, o meu parceiro Luiz Antônio Simas… E todos eles falam sobre esse futuro ancestral. O Simas tem a metáfora que, para mim, é a mais perfeita: ele diz que o “Iboru” é um arco e flecha que você precisa puxar para trás para lançar lá na frente. É isso. A gente não constrói realmente um futuro se não olhar para trás. É uma burrice tamanha pensar no futuro querendo inventar a roda porque a roda já está aí. O negócio é pegar essa roda que está inventada e levar para a frente.

Você está otimista em relação o futuro?

Sim. Acho que passou um pouco aquela coisa que eu tinha meio utópica de que o mundo poderia ser maravilhoso e a gente iria dividir tudo igualmente. Comecei a botar mais o pé no chão e ver que o mundo é isso aí, sabe? O que a gente pode começar a construir é esse universo em volta da gente.

Você falou samba com inteligência artificial. É algo que está explorando?

Eu tô engatinhando. Sou um cara do outro século também, né? Passei dos 50 anos. Mas estou tentando me juntar com gente entranhada nisso. Sou muito freak nesses lugares. Preciso saber pelo menos um pouco para não ficar boiando. E me fascinam muito essas novas tecnologias e esse futuro. Eu queria muito que o samba tivesse nesse lugar porque o samba tem essa coisa de conforto que parece a casa da avó, que parece a família. E, se a gente juntar isso com inteligência artificial, a gente tem o casamento perfeito. É o cheiro de café da avó como o TikTok. Samba de terreiro com inteligência artificial. Esse é o universo que eu quero construir no “Iboru”.

Dirigindo o curta de Iboru ao lado de Marcelo D2 — Foto: Wilmore Oliveira
Dirigindo o curta de Iboru ao lado de Marcelo D2 — Foto: Wilmore Oliveira

A religiosidade entra nisso?

Eu não diria religiosidade, mas diria fé. Sou um cara de muita fé. Aquela coisa que você falou do otimismo… Acho que tenho mais fé do que otimismo. Essa fé encontrei no Ifá, em que me iniciei depois que minha mãe morreu. Me trouxe um conforto muito grande. Foi importante para minha sanidade mental descobrir essa conexão com meus ancestrais. É importante para a autoestima, para poder acordar e levantar.

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