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Numa manhã de primavera em 1970, a modelo Pattie Boyd tomava café da manhã em sua mansão em ruínas no interior da Inglaterra quando recebeu uma carta marcada como “Urgente”. Dentro do envelope havia um bilhete curto e apaixonado.

“Querida L”, começava a carta, “Parece que passou uma eternidade desde a última vez que vi ou falei com você!” À medida que Boyd lia, o texto assumia um tom desesperado: “Se ainda há um sentimento em seu coração por mim… eu preciso saber!”

“Não telefone”, acrescentou o emocionado escriba. “Envie uma carta… isso é muito mais seguro.” O autor finalizou com um (hoje não tão) misterioso “E”.

Em uma entrevista recente, Boyd lembra ter presumido que a carta fosse de um fã enlouquecido. Ela mostrou o texto ao marido, o guitarrista dos Beatles, George Harrison, e esqueceu o assunto. Mas algumas horas depois, o telefone tocou e quem ligava era Eric Clapton, um dos melhores amigos de Harrison, que perguntou: "Você recebeu minha carta?"

Carta que Pattie Boyd recebeu de Eric Clapton na primavera de 1970, enquanto era casada com George Harrison — Foto: Christie's Images Ltd. via The New York Times
Carta que Pattie Boyd recebeu de Eric Clapton na primavera de 1970, enquanto era casada com George Harrison — Foto: Christie's Images Ltd. via The New York Times

Mais de 50 anos após ter colocado Boyd no meio de um dos triângulos amorosos mais míticos do rock, a carta será leiloada. Nesta sexta-feira, a Christie's vai apresentar mais de 110 itens do acervo de Boyd, incluindo a carta (com valor estimado em US$ 19 mil), além de fotografias de Clapton e Harrison e letras de músicas escritas à mão por ambos os grandes nomes do rock.

Boyd diz que decidiu passar adiante a correspondência íntima porque havia superado essa parte de sua vida. “Eric escreveu as cartas mais divinas e lindas, e não quero continuar lendo”, disse Boyd. "Isso dói."

Após receber o telefonema de Clapton, Boyd disse que não sabia se deveria se sentir “feliz ou culpada” por ter chamado sua atenção. Frustrada no casamento – com Harrison cada vez mais preocupado com a separação dos Beatles – Boyd disse que não conseguia escolher entre os dois homens. “Meu signo astrológico é Peixes, que são peixes nadando em direções diferentes”, disse Boyd. “Tomar uma decisão sobre esses temas importantes é sempre um inferno.”

Clapton perseguiu Boyd pessoalmente, em cartas e em música. Ela lembra de quando foi convidada para ir a um apartamento em Londres, onde ele tocou uma música que havia escrito sobre um homem obcecado por uma mulher que continua recusando seus avanços. Era “Layla”, que se tornou uma das grandes canções de amor da década de 1970.

“Eu simplesmente sabia - sabia, sabia! - que era sobre mim”, diz ela, lembrando do momento em que ouviu “Layla” pela primeira vez. “Fiquei com calor e frio porque era linda, muito intensa e incrível. Ao mesmo tempo, a velha pisciana em mim pensou: 'Oh meu Deus, se George ouvir isso, ele vai perceber que é sobre mim.'”

A venda da Christie's inclui uma pintura usada como capa do álbum “Layla and Other Assorted Love Songs”, do grupo de Clapton na época, Derek and the Dominos.

Clapton recusou um pedido de entrevista para este artigo, mas numa entrevista de 2007 ao The New York Times, ele disse que, embora estivesse apaixonado por Boyd, “Layla” não era um documentário. “Criar uma música é apenas colocar uma marca em um sentimento”, disse ele.

Boyd descreveu seu relacionamento com Clapton como “uma aventura”, mas disse que se sentia “moralmente obrigada a permanecer uma mulher casada”. Sua mãe se divorciou duas vezes, acrescentou ela. “Eu vi como isso foi destrutivo para ela e por isso não queria repetir a história.”

Logo após o início do envolvimento entre os dois, Clapton se perdeu no vício em heroína. Mas ele escreveu novamente para Boyd em 1971, quando enviou uma carta escrita em uma página arrancada do romance “Ratos e homens”, de John Steinbeck.

Carta que Eric Clapton escreveu a Pattie Boyd em 1971 em uma página arrancada de “Of Mice and Men”, de John Steinbeck — Foto: Christie's Images Ltd. via The New York Times
Carta que Eric Clapton escreveu a Pattie Boyd em 1971 em uma página arrancada de “Of Mice and Men”, de John Steinbeck — Foto: Christie's Images Ltd. via The New York Times

“Estou no limite da minha mente”, escreveu em uma letra cursiva elegante. “Se você não me quer, por favor, quebre o feitiço que me prende. Enjaular um animal selvagem é um pecado, domesticá-lo é divino”.

Essa carta também está à venda na Christie’s, com um preço estimado em torno de US$ 19 mil.

Entre outras correspondências no leilão está uma carta de 1971 que Harrison enviou a Boyd de Nova York, onde o Beatle teve várias reuniões de negócios e comeu “muitos” sanduíches de queijo grelhado, escreveu. Boyd disse que Harrison sempre disse a ela que a amava em cartas e cartões postais, mas muitas vezes se concentrava nas irritações da vida na estrada. Eram “cartas propriamente ditas”, disse Boyd, “enquanto as de Eric não tinham nada a ver com o dia ou com o que ele estava fazendo no estúdio. Ele era simplesmente intenso.”

Harrison estava ciente dos sentimentos de seu amigo por Boyd. Em suas memórias, “Wonderful Tonight”, Boyd se lembra de uma festa na qual Clapton disse a Harrison: “Tenho que lhe dizer, cara, que estou apaixonado por sua esposa”. No entanto, os homens nunca chegaram a brigar. Para os músicos, disse Boyd, “a rivalidade é exercida por meio de uma guitarra”.

Eventualmente, Boyd sucumbiu ao charme de Clapton. Em julho de 1974, ela deixou Harrison. Uma semana depois, Clapton ligou e pediu que ela se juntasse a ele em uma turnê, uma ligação que levou a um casamento de 10 anos e a outra música clássica. Em 1976, Clapton escreveu “Wonderful Tonight” enquanto esperava Boyd escolhia uma roupa de festa.

“Quando finalmente tomei minha decisão e desci as escadas, achei que Eric estaria chateado comigo por demorar tanto”, disse Boyd. “Em vez disso, ele disse: ‘Ouça o que compus”.

Numa época em que muitos artistas escrevem as suas letras, e mesmo cartas de amor, em smartphones, Adrian Hume-Sayer, diretor de vendas especializadas da Christie's, espera que essas pérolas deixem de existir. Também é raro um triângulo amoroso “estar no centro de tanta criatividade”, disse ele.

Boyd parece ciente de como os tempos mudaram. “Havia mais romance anos atrás”, diz. “Tenho certeza de que as pessoas fazem coisas românticas agora, mas não consigo imaginar como. Se você sabe, por favor me diga."

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