Duas primas de Gal Costa acionaram a Justiça de São Paulo solicitando que um testamento feito pela cantora em 1997 volte a ter validade jurídica. Verônica Silva e Priscila Silva afirmam que a baiana foi coagida por Wilma Petrillo, empresária que afirma ser viúva de Gal, a revogar o documento em 2019. A revelação foi publicada neste sábado (30) pelo G1 e confirmada pelo GLOBO, que teve acesso ao processo.
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Segundo as primas, o testamento previa que o patrimônio da cantora fosse usado para criar a Fundação Gal Costa de Incentivo à Música e Cultura. O testamento determinava que a gestão da fundação ficaria a cargo de cinco primas de Gal. O documento traz a assinatura de Wilma na condição de testemunha.
“A Fundação”, diz o processo, “teria como objeto a formação de músicos e outros artistas ligados à área, promovendo festivais, concursos, concedendo bolsas de estudos de músicas para pessoas carentes dentre diversas outras finalidades de cunho exclusivamente filantrópico, sendo estabelecido ainda que a referida Fundação”, que não teria fins lucrativos.
![Wilma Petrillo no velório de Gal Costa — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/izdbnDSzPEEeamLjhU__KOzYqJA=/0x0:3543x2214/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/p/G/jqZ0uDSMiIw4ZkqlfDnA/101148708-wilma-petrillo-the-widow-of-brazilian-singer-gal-costa-mourns-next-to-the-coffin-during-th.jpg)
Em 2000, dizem as primas, Gal lhes entregou todo o seu acervo de figurinos, incluindo peças usadas em espetáculos da Tropicália, “com a finalidade de que o referido acervo constituísse patrimônio da Fundação Gal Costa”. Elas alegam que só souberam que Gal havia cancelado o testamento após a morte da cantora, em 9 de novembro de 2022, quando começaram a se movimentar para viabilizar a fundação.
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De acordo com o processo, as primas tentaram entender “a motivação para a efetiva revogação do testamento, sem qualquer aviso prévio ou posterior”. “As autoras”, segue o documento, “já tinham algumas suspeitas de que teria ocorrido possível manipulação de Wilma Teodoro Petrillo (...) para que a revogação fosse levada a cabo”. Segundo elas, a “conduta” de Wilma perante Gal “sempre foi de manipulação”, “seja em relação a sua carreira, seu patrimônio, sua família, funcionários e amigos e além de todos que com ela se relacionavam”.
Wilma, acusam as primas, “passou a ter amplos poderes não só da gestão da carreira de Gal Costa, como também a administração do seu patrimônio”, “resultando no empobrecimento e endividamento" da cantora”. “Acrescente-se a isso que durante a relação pessoal e empresarial que Wilma Teodoro Petrillo manteve com Gal Costa, esta vivia visivelmente infeliz e adoecida, conforme dezenas de testemunhos”, continua o documento. As primas também insistem que Gal nunca “buscou reconhecimento da união estável” com Wilma.
Gabriel Penna Burgos Costa, filho da cantora, contesta na Justiça a união estável de Gal e Wilma. No processo, as primas fazem coro à declaração de Gabriel, que diz ter sido coagido por Wilma a assinar uma carta atestando a união estável dela e de sua mãe. O testamento anulado afirmava que Gal “conserva o estado de solteira e não tem descendentes”, “podendo, assim, livremente dispor de seu patrimônio”.
O GLOBO apurou que o fato de não ter herdeiros foi decisivo para a decisão de Gal de criar uma fundação a partir de seu patrimônio. A cantora adotou Gabriel em 2007, uma década depois de fazer seu testamento. Em 2019, Gal teria se consultado com advogados de sua confiança para saber que destino dar à fundação. Teria ouvido que, uma vez que ela já tinha um herdeiro legítimo, Gabriel, não precisaria mais se preocupar com o destino de seu patrimônio após sua morte.
Gabriel recentemente entrou na Justiça pedindo a exumação dos restos mortais da mãe. Segundo ele, há “dúvida razoável” sobre a causa da morte da cantora. No atestado de óbito, consta como causa da morte de Gal “infarto agudo do miocárdio, neoplastia maligna de cabeça e pescoço”. Segundo a ação movida por Gabriel, “o fato de haver sinais de tumor maligno” (neoplastia) “não é causa mortis”, mas pode ser considerado “circunstância correlata ao falecimento” após “devida aferição apropriada (por autópsia)”. A defesa de Petrillo afirma que a causa da morte da cantora foi “um câncer agressivo na região do nariz, conforme atestam prontuários médicos do hospital Albert Einstein”.
Neste domingo (31), a advogada de Wilma, Vanessa Bispo disse ao GLOBO que as alegações das primas de Gal são “absurdas” e constituem uma “aventura jurídica”.
— Segundo informações da minha cliente, Gal sequer convivia com essas primas. Gal anulou o testamento porque quis. Ela era uma mulher forte, com opiniões próprias, sempre fez o que quis. Nunca foi uma mulher fraca para ser coagida por quem quer que seja. A história de vida dela demonstra disso — afirmou Bispo. — Uma acusação de coação é muito séria e precisa ser provada. As pessoas que alegam coisas contra Wilma vão começar a responder judicialmente por injúria, calúnia e difamação. Essas alegações causam repúdio e espanto.
Advogada de Gabriel, Luci Vieira Nunes disse ao GLOBO que seu cliente só vai se pronunciar sobre o caso a partir de amanhã. Neste domingo, o “Fantástico”, da TV Globo, vai exibir entrevistas com Gabriel e Wilma.