Sentada ao piano, Elena Bashkirova observava a dificuldade de seu filho, o violinista Michael Barenboim, e o clarinetista espanhol Pablo Barragán com as estantes de partitura do Teatro B32, em São Paulo. Segura a clarineta aqui, gira a trava da base ali, há certa impaciência. Bashkirova olha os dois homens jovens com autoridade de professora, como quem diz: “Podemos?”
Em 1998, a pianista russa fundou o Jerusalem Chamber Music Festival Ensemble, formação de câmara que comporta também a violoncelista Astrig Siranossian, francesa de origem armênia, e aterrissa no Municipal do Rio neste sábado (13), às 18h, na Série O GLOBO/Dellarte de Concertos Internacionais. Com eles, a plateia paulistana pôde presenciar a precisão, com toques cristalinos, originados na capacidade de escuta mútua dos instrumentistas. Tal proficiência se deu tanto em obras de compositores da tradição clássica, como Mozart e Beethoven, como também em Béla Bartók e no contemporâneo alemão Jörg Widmann, num vislumbre dos rumos futuros desse gênero.
— De fato, existe hoje em dia certa abertura à música contemporânea que talvez faltasse no passado — diz Michael, que é filho de Bashkirova com o maestro argentino-israelense Daniel Barenboim. — É difícil para mim imaginar um mundo em que só toco música mais antiga, por mais bela que ela possa ser. Estou muito interessado em descobrir a criatividade dos artistas de hoje.
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Nascido na França e radicado em Berlim, ele é spalla da West-Eastern Divan, uma orquestra com base em Sevilha fundada por seu pai — o primeiro músico judeu que se arriscou a reger a obra de Richard Wagner, compositor preferido de Hitler, ante uma plateia israelense — e pelo intelectual Edward Said. Ali se reúnem músicos com origens libanesas, israelenses, palestinas, sírias e, claro, espanholas.
— Trata-se de uma projeção de como as coisas poderiam ser diferentes caso as pessoas estivessem vivendo em igualdade. Igualdade é o principal tema do Divan — afirma Michael, que carrega posições bastante críticas da atuação de Israel na Faixa de Gaza.
Indagado sobre como as coisas andam no Divan e sua missão, em especial neste momento em que a solução de dois estados parece impossível de ser estabelecida entre Israel e Palestina, o violinista é enfático, na linha do ativismo que uniu seu pai a Said:
— São injustificáveis as mortes de mais de 33 mil palestinos de Gaza, a maior parte deles mulheres e crianças , mais aqueles soterrados por escombros, bem como o bloqueio sistemático de ajuda contra a fome generalizada na região. Fico horrorizado com a maneira que se permite que isso ocorra, até mesmo contra ordens específicas do Tribunal Internacional de Justiça.