Música
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Por — Rio de Janeiro

Copacabana, 4 de maio de 2024. Quando iniciar o último show da Celebration Tour, no sábado, a irrequieta senhora Madonna Louise Ciccone, de 65 anos, estará mais uma vez reverenciando a própria história. Suas quatro décadas de carreira já foram cantadas em prosa, e talvez verso, mundo afora. Mas “Madonna”, biografia escrita por Mary Gabriel que acaba de chegar ao país, é especialmente interessante quando a retrata antes da fama. É aí que a gente vê como a gigante de 1,61m se tornou A Madonna — e mesmo os que não gostam dela haverão de reconhecer que vossa alteza não conquistou seu reino por golpe de sorte ou de marketing. Nunca foi o acaso.

Parece filme americano. O conto começa em Pontiac, no Michigan, nos anos 1950. Tony Ciccone era o caçula de uma família de imigrantes italianos que batalhavam duro naquela época. Ele foi para a Força Aérea, tornou-se engenheiro, subiu na vida. Conheceu Madonna Louise Fortin, filha da classe alta local. Casaram-se em 1955. O primogênito, Anthony, nasceu em 1956. A primeira filha do casal, a “nossa” Madonna (“Nonni” para o papai), veio em 16 de agosto de 1958, na vizinha Bay City. No total, foram seis filhos.

Pense na bagunça e, sobretudo, numa família feliz, bem encaminhada, com música rolando o tempo todo em casa e no entorno. Tudo lindo, não fosse o súbito câncer que vitimaria mamãe Madonna em 1963 — e ainda abalaria a fé da família católica. Aos 32 anos, Tony, viu-se então viúvo e com uma penca de crianças menores de 8 anos.

A filha Nonni teve que amadurecer antes da hora. Da sua maneira, assumiu o comando — principalmente para azucrinar empregadas e, anos depois, a pretensa substituta da mãe. As crianças amavam o pai, mas tentar impor a elas uma nova mãe foi um erro de Tony.

Foi por esses e outros infortúnios que, diz a biografia, não teve jeito de Madonna se tornar uma menina recatada e do lar. “Meu pai nunca me criou para casar e ter filhos. Ele me criou para ser muito focada, pensar em objetivos, ser advogada ou médica e estudar, estudar, estudar”, lembra a popstar.

Caldeirão

Deu no que deu. A menina cresceu empoderada muito antes de inventarem esta palavra. Em crescentes atritos com o pai, soube desde então o que queria da vida: não ser mandada por ninguém. Ensaiava seu futuro com as bonecas: “A minha Barbie (...) dizia para o Ken: ‘Não vou ficar em casa e lavar a louça. Fique você em casa! Vou sair hoje à noite, vou jogar boliche, tá?’ Ela era sexy e durona”, contou a cantora certa vez.

A futura estrela sempre foi considerada “ousada demais, brusca demais, até vulgar”, como diz a biografia. Pode ser, mas sempre foi coerente com seu desejo (ou necessidade) de fazer sucesso, ser conhecida e respeitada. Mais que isso, nunca se calou na hora de defender os seus — o que inclui não só as mulheres, como também gays e latinos e outros segmentos com quem se identificou ao longo da sua trajetória.

Pausa, então, para contextualizar Pontiac, que hoje tem apenas 62 mil habitantes (em comparação, Copacabana tem cerca de 162 mil). Naqueles dias, a cidade era um pequeno caldeirão com famílias de várias partes do mundo, cada grupo carregando sua religião: católicos, protestantes, batistas, católicos ortodoxos, judeus, metodistas episcopais africanos. Havia espaço para todo mundo. Os vizinhos mais próximos dos Ciccone eram uma família negra e uma hispânica.

Junto com a religião andava a música de cada um. Num país que vivia uma revolução acelerada nos costumes e valores, o liquidificador cultural foi ligado no máximo. O som das ruas e das diferentes comunidades bateu fundo na esponja Madonna naqueles anos 1960. Sem falar em Beatles, Stones, Bob Dylan, Led Zeppelin, The Who... todos tão fascinantes quanto a independência de mulheres como Joni Mitchell ou Carole King. A lista de influências é longa, e todas contribuíram para Madonna abrir sua cabeça — também ligada na literatura de Hemingway, Salinger, Fitzgerald, Anne Sexton... Madonna queria conhecer tudo ao mesmo tempo.

Nessa época, a revolucionária gravadora Motown levou a família Jackson para o mundo, e Madonna ficou fascinada por Michael. Queria ser ele e percebeu que poderia fazer igual, mas tinha que correr atrás porque o garoto, da mesma idade que a sua, já era uma estrela, e ela estava longe disso. Pelo contrário, até apanhou, literalmente, para ser aceita entre a turma que rezava na cartilha da Motown.

Aluna esperta, zero inibição, ela trocou as aulas de piano pela dança. Dançava loucamente e, já no circuitão escolar, ganhou respeito por isso. Mas logo também tomou gosto pelo canto — que, no mundo da música, é praticamente sinônimo de liderança. Chegou a tocar bateria e teclado em bandas com amigos, até ver que essas tarefas seriam muito limitantes para o que queria: soltar o corpo e a voz.

Depois de brilhar na universidade de dança de Michigan, aquele mundo ficou pequeno demais. Em 1980, a pequena Ciccone rumou para a “cidade mais italiana do mundo”, Nova York. Desembarcou com muitas ideias na cabeça e menos de US$ 50 no bolso (para comparação: estima-se que sua fortuna chegará a US$ 680 milhões até o fim deste ano.)

O início não foi nada fácil, ainda mais para uma jovem irritante, arrogante e... irresistível. Sua sedução natural — descoberta ainda na infância, diz a biografia — ajudou muito a romper conceitos arraigados. Aceitando empreguinhos aqui e ali, incluindo em teatro e cinema, catando restos de sanduíche nas cestas de lixo, Madonna seguiu em frente. Chegou a ser contratada para shows em Paris, mas não quis ser mais uma atração americana descartável em solo europeu. Voltou para Nova York, mais ou menos para a estaca zero.

Mais ou menos. Já conhecendo sua praia, fortaleceu relações que a levaram adiante. Sua ligação forte com a comunidade gay, por exemplo, nasceu desse corre diário e até hoje é uma das suas marcas. “Por trás de um grande homem há uma grande mulher, e por trás de uma grande mulher existe um gay”, disse ela.

Sexo, sim

Como mostra o livrão, Madonna sempre entendeu o que estava acontecendo ao seu redor. Mesmo com a “descoberta” da música negra como mercado, o cenário profissional da cultura dos anos 1980 estava muito centrado em homens brancos e seu poder de consumo, celebrando o amor heterossexual sempre sob a ótica masculina. Das mulheres na indústria musical, diz a biografia, “esperava-se sensualidade, não sexualidade, com o objetivo de excitar uma plateia criada para observá-las, mas não ouvi-las”.

Pois Madonna não encarnou esse papel. Enfronhada no meio alternativo da cidade, encontrou seu caminho e suas turmas. Viu em David Bowie o tipo de espetáculo que queria fazer. Convenceu-se de vez que criaria uma obra sem limites, em constante mudança, sempre costurando música, dança e moda. E, claro, tirou a sexualidade das coxias, levou-as para os palcos gigantes, com letras, músicas e coreografia. Ousadia, mas com controle de qualidade.

Já o desejo de ver seu nome brilhar solo, sem essa coisa antiga de ter uma banda, só fez crescer quando Madonna começou a compor, uma espécie de mágica que surpreendeu até mesmo a ela. “As canções jorravam de mim. A dor, a solidão, o amor, tudo que eu sentia. Quer dizer, toda minha experiência de deixar minha família e ir para Nova York foi muito traumática.”

Dos limões, ela fez hectolitros de limonadas. Em 1981, conseguiu sua primeira apresentação solo em Nova York. No ano seguinte, lançou seu primeiro single. “Everybody” chegou ao 3º lugar da Billboard. Ela chorou quando ouviu sua música no rádio.

E o resto é história, a mesma história que ganha mais um capítulo no próximo sábado e, pelo jeito, vai continuar chacoalhando o mundo da música pop por mais um bom tempo.

Muita história para contar

Livro do ano: Assinada pela jornalista Mary Gabriel, que foi editora da agência de notícias Reuters, “Madonna” é muito bem documentada e conta a trajetória da estrela até 2023, quando ela decidiu criar esta turnê que ora se encerra. Com 854 páginas, não é uma hagiografia, mas não esconde a admiração pela artista. A obra foi considerada o livro do ano pelo Sunday Times, biografia do ano pelo Guardian e melhor livro sobre música pelo Telegraph.

Mercado: Outro livro sobre a popstar recém-chegado é “Madonna: 40 anos de vanguarda”, de Thati Aquino e José Fontes Netto (Ed. Dialética, 319 páginas, R$ 143). A biografia narra a vida e a obra de Madonna pela perspectiva do marketing — de entretenimento, herético, pessoal. “É sobre sua longevidade numa cultura habituada ao descarte”, diz a apresentação do livro.

Inocência: Quem é fã de Madonna vai gostar dos infantis que ela publicou nos anos 2000, ainda disponíveis em boas livrarias: “As rosas inglesas” e “As maçãs do Sr. Peabody” (ambos de 2003); “Yakov e os sete ladrões” e “As aventuras de Abdi” (ambos de 2004) e “Enrico de Prata” (2005).

Serviço:

‘Madonna’

Autora: Mary Gabriel. Tradução: Alessandra Bonrrunquer, Luana Balthazar e Patrícia Azeredo. Editora: BestSeller. Páginas: 854. Preço: R$ 119,90.

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