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Rei dos clipes de funk, KondZilla estreia série sobre adolescência na periferia de SP

Com 'Sintonia', da Netflix, ele abre aposta no audiovisual: 'Quero ocupar todos os espaços'
Doni (MC Jottapê), Nando (Christian Malheiros) e Rita (Bruna Mascarenhas) são os amigos de infância que protagonizam a série 'Sintonia', criada por KondZilla Foto: Christian Gaul/Netflix / Christian Gaul/Netflix
Doni (MC Jottapê), Nando (Christian Malheiros) e Rita (Bruna Mascarenhas) são os amigos de infância que protagonizam a série 'Sintonia', criada por KondZilla Foto: Christian Gaul/Netflix / Christian Gaul/Netflix

SÃO PAULO - KondZilla quer diversificar o "rolê". Na música, onde reinava absoluto nos domínios do funk, o empresário e produtor musical Konrad Cunha Dantas , de 30 anos, diz ter chegado aonde queria (seu canal no YouTube é o maior do Brasil em assinantes e audiência, embora tenha perdido fôlego e some hoje metade das visualizações do início de 2018, quando chegou a quase 1 bilhão por mês). Agora, diz, o objetivo é o audiovisual. E ele não está falando de videoclipes dos artistas de sua produtora, como Kevinho, MC Kekel, Dani Russo e MC Fioti. "Sintonia" , que chega à Netflix no dia 9 de agosto, no Brasil e em mais de 190 países, é parte do movimento:

— Eu quero ocupar todos os espaços que for possível, e que sei que não acreditam ( que eu possa ocupar ). Se alguém já conseguiu, então, também consigo. Esta série foi isso. Se alguém me desafiar, vou lá e faço.

Com seis episódios, a primeira temporada apresenta os personagens principais de uma comunidade pobre da periferia paulistana em que a forte cena musical, a presença opressora da criminalidade e a influência religiosa se confundem. O aspirante a funkeiro Doni (MC Jottapê), o pequeno traficante Nando (Christian Malheiros) e a jovem marreteira Rita (Bruna Mascarenhas) são os protagonistas de histórias que se cruzam e remontam à infância e à adolescência de KondZilla.

— Minha referência é a rua, a comunidade em que eu cresci no Guarujá, Vila Santo Antônio, e as coisas que vi em São Paulo. É muito o olhar de uma pessoa que veio de uma favela do litoral para uma favela de metrópole — diz ele, explicando a gênese do projeto, escrito por Guilherme Quintella, Duda Almeida e Thays Berbe, sob o comando de Pedro Furtado.

Além da cena musical do funk, "Sintonia" investe muito na oposição entre o mundo do crime e a presença redentora da Igreja Evangélica na comunidade onde vive o trio de protagonistas.

— É uma coisa que funciona em todas as periferias do Brasil, não apenas em São Paulo — afirma KondZilla. — A religião está muito presente em países subdesenvolvidos: a questão da energia, vibração, fé e força para tentar suprir uma necessidade, uma deficiência, como se fosse um amuleto da sorte. Isso está presente em qualquer comunidade periférica que precisa ascender em algum momento, e para isso deposita muita esperança na fé.

Konrad Dantas, o KondZilla, produtor e empresário que administra um negócio milionário do funk Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Konrad Dantas, o KondZilla, produtor e empresário que administra um negócio milionário do funk Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Kond, como também é chamado, dirigiu metade dos seis episódios da primeira temporada — os outros foram dirigidos por Johnny Araújo. Na prática, o empresário retorna para a sua atividade de formação. Aos 18 anos, estudou cinema em uma escola de computação gráfica voltada para pós-produção. Desistiu depois de perceber que não tinha prazer na rotina de sets, que muitas vezes entravam madrugada adentro.

— Talvez o mais diferente na série foi entender que tem de eleger algumas cenas para ter mais tempo no set, e entregar as outras dentro do plano de filmagem. Isso foi o mais diferente, porque não dá para estourar 75 diárias. Sempre fiz projetos grandes, mas  eram curtos e pontuais. "Sintonia" foi um projeto grande e longo — explica ele.

'60 paus de pipoca ou uma mensalidade?'

O canal do "rei dos clipes de funk no YouTube"  chegou a ser o terceiro mais visto do mundo, mas hoje está em quinta colocação no ranking geral.

“Agora é a hora de colher o sucesso e aproveitar que a plataforma (Netflix) está querendo investir. Existe uma queda no funk, sim, mas e o cinema? Quantas pessoas pessoas assistem a programas numa plataforma? Mais vale pagar 60 paus de pipoca ou uma mensalidade?”

KondZilla
Empresário e produtor

KondZilla, no entanto, não vai abandonar o funk, nem a música, nem os clipes. O investimento recente no portal que leva seu nome, e que abriga suas atividades como produtor musical e de audiovisual, faz parte de um movimento de repaginação. De acordo com ele, trata-se de um local para falar sobre o gênero, retratar sua cultura e documentar o que chama de movimento:

— Eu luto pro funk ser um movimento musical, não só um gênero musical. Se tem rap e rock em outros países, o funk também pode ser universal. E aí não vai ser apenas um gênero, mas um movimento — completa.