PUBLICIDADE

Por Silvio Essinger

O rapper canadense Drake Divulgação

Bastou Beyoncé confirmar na quinta-feira que lançaria seu esperado álbum, “Renaissance”, no dia 29 de julho para que o astro mundial do rap Drake não só anunciasse o seu como o pusesse na rua. E a surpresa não terminou com a rapidez com que “Honestly, Nevermind” se materializou no streaming, na madrugada desta sexta.

O inesperado sétimo álbum do canadense é também o mais excêntrico de toda a sua carreira. A rigor, nem é um disco de hip hop, mas um em que ele resolveu embalar suas reflexões amorosas na mais característica house music: vertente da música eletrônica dançante que se popularizou nas boates gays e acabou por conquistar o mainstream no começo dos anos 1990, a bordo de faixas de cantoras como Crystal Waters, Robin S e CeCe Peniston.

Não é a primeira vez que o rap e a house se encontram — alguns lembrarão da música “I’ll house you”, dos Jungle Brothers, em 1988. Mas o que Drake faz em “Honestly, Nevermind” é algo bem menos adrenalínico e sem gritaria das divas. É um disco de fim de noite, com uma sofrência bem mais elegante do que a capa pode sugerir. Bem mais próximo, por exemplo, da música do conterrâneo Weeknd e do seminal disco de dor de cotovelo que o rival Kanye West fez em 2008, “808 & heartbreak”.

No entanto, apesar da coragem estilística, o sucessor de “Certified lover boy” (álbum que Drake lançou ano passado e que disputou as paradas com o “DONDA” de Kanye) não difere em sua essência dos outros álbums do rapper.

Nas letras, ele traz a habitual lista de queixas amorosas, do tipo “por que é tão dificil desistir de você?” (em “Calling for you”) e “como você diz na minha cara que o tempo cura tudo?” (em “Falling back”). Esta última, aliás, tem um clipe que mostra Drake se casando com 23 mulheres — um filme que ecoa, de maneira um tanto infeliz, a série documental em cartaz na Netflix “Rezar e obedecer”, sobre mulheres que foram obrigadas a desposar o líder da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Já musicalmente, o disco do canadense segue numa constante, que ameaça soar enjoativa até que um ou outro elemento novo entrem na jogada, mais para o fim. Poder ser um certo sabor de música flamenca em “Tie that binds”, uma pegada mais rap em “Sticky” ou o caráter mais r&b contemporâneo de “Down hill” e “Liability” (em que Drake alega: “estou mudando por você”).

Capa do álbum "Honestly, nevermind", do rapper Drake — Foto: Reprodução

Apenas a última faixa de “Honestly, Nevermind”, “Jimmy Cooks” (única que que traz um feat, do rapper 21 Savage), se inscreve totalmente na tradição do hip hop, quase como um corpo estranho no disco. Não chega a ser a música que vai salvá-lo, mas que dá uma boa sacudida no disco, isso ele dá.

Cotação: Regular