Cultura Música

Roger Waters: 'Não sou contra Israel'

Lançando disco sobre ‘medo’, músico explica apoio a veteranos de guerra e diz que turnê atual deve ser a última
Roger Waters Foto: Victoria Will / AP
Roger Waters Foto: Victoria Will / AP

LONDRES — Roger Waters não sabe quanto tempo vai permanecer fazendo turnês, mas o ex-Pink Floyd está certo de uma coisa: enquanto estiver no palco, os veteranos de guerra terão um lugar marcado em seus shows.

Waters, cujo pai morreu na Segunda Guerra, tem um carinho especial por eles. Em todas as suas performances, o músico lhes reserva uma parcela de ingressos.

— Quando comecei a turnê de “The wall”, passei a convidar veteranos por todas as cidades por onde passamos. Estou fazendo a mesma coisa agora. Reservamos certa quantidade de lugares para os veteranos que quiserem vir — ele diz.

Nesta entrevista, o astro de 73 anos fala sobre ex-combatentes, seu novo álbum solo (“Is this the life we really want?”, lançado ontem) e suas inclinações políticas.

Seu apoio aos veteranos é intenso. Por quê?

Tem a ver com meu pai e também com Bob Woodruff, jornalista americano que sobreviveu a ferimentos por uma bomba no Iraque. Em 2013, ele e sua mulher, Lee, pediram que eu fizesse uma apresentação como parte de um projeto ( Stand Up for Heroes, organizado pela Fundação Woodruff ) que levantava fundos para veteranos de guerra.

Mas não parou por aí.

Eu já tive a ideia de formar uma banda que reunisse homens feridos em combate. Conheci alguns deles e tocamos por alguns anos. Muitos viraram meus amigos.

Seu álbum parece ter sido inspirado por questões importantes do mundo atual. É um disco sobre o medo?

Sim. Medo do fato de que tudo está nos escapando, e que ninguém é aquela criança que vai dizer: “O rei está nu”.

Pode falar um pouco sobre a turnê atual?

O show se chama “Us and them” (nós e eles), que é o título de uma canção de “The dark side of the moon” (1973). Mas é extremamente apropriado para hoje. Aquela música segue tendo um significado forte. E as novas músicas desse novo álbum são, essencialmente, sobre nosso dilema enquanto seres humanos: será que vamos encontrar maneiras de acomodar as necessidades das outras pessoas? Descobriremos nosso potencial de empatia pelos outros, incluindo refugiados?

Você sempre foi aberto quando se trata de política. Inclusive, sofreu críticas pelo apoio a um boicote a Israel. Por causa disso, alguns já o chamaram de antissemita. O que acha disso?

Não tenho nada contra Israel, muito menos contra judeus ou o judaísmo. Mas sou fundamentalmente contra a ideia de pessoas serem subjugadas e privadas de seus direitos. Expressei esse meu posicionamento, e aí sugeriram que eu fosse antissemita, o que não é verdade. Irei para o meu túmulo defendendo os direitos das pessoas comuns.

Por quanto tempo você acha que seguirá fazendo turnês?

Provavelmente não por muito tempo. Essa deve ser a minha última, ainda mais se ela durar muito tempo. Vamos ver. Eu tento me manter em forma, caso contrário não conseguiria continuar tocando ao vivo.

É possível que, antes de se aposentar, você e David Gilmour, o guitarrista do Pink Floyd, façam alguns shows juntos?

Acho bem improvável.