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Cultura Música

Seal vem ao Rock in Rio com a cabeça na Bahia de Dorival Caymmi

Cantor inglês, que recebe Xênia França no Palco Sunset, fala de sua paixão pelo compositor e da vontade de conhecer a Boa Terra
Seal faz show no Palco Sunset do Rock in Rio no dia 27 de setembro Foto: Divulgação
Seal faz show no Palco Sunset do Rock in Rio no dia 27 de setembro Foto: Divulgação

RIO - Dorival Caymmi pergunta na canção: "Você já foi à Bahia?". Seal não foi. "Então vá", a letra continua. O cantor britânico quer seguir a recomendação de seu ídolo ( "Amo a voz de Dorival" ) e pretende visitar Salvador, aproveitando sua passagem pelo Brasil para o Rock In Rio — ele é a atração principal do Palco Sunset na primeiro dia do festival, 27 de setembro, em show que recebe a cantora (baiana, vale lembrar) Xênia França.

—  Já estive no Brasil diversas vezes, é uma vergonha que até hoje eu não tenha ido pra Bahia. Quero tentar ir agora. Amo música brasileira e muitos dos meus músicos brasileiros preferidos são da Bahia, como Dorival e Dori Caymmi — conta Seal, que ao ser peguntado se conhece Nana, fica curioso e pergunta como se soletra seu nome: — N-A-N-A? Filha de Dorival? Vou ouvir logo. Sempre que tenho oportunidade de ouvir música brasileira, agarro a chance.

No Rock In Rio, pode ser que Seal faça algo de seus ídolos baianos ao lado de Xênia ("ainda não conversamos sobre como será nosso encontro", explica). O que existe de certo é que o cantor montou um repertório sob medida para os fãs a plateia do festival — com fãs antigos em meio aos que conhecem apenas seus hits. O repertório será formado basicamente pelas canções de seus dois primeiros discos, de 1991 e 1994. Ou seja, estão garantidos sucessos como "Crazy", "The beggining" e"Killer" (do álbum de estreia) e "Kiss from a rose" e "Prayer for the dying" (do segundo).

— Mostrarei um pouco do material inédito que estou preparando — adianta.

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Um próximo disco de inéditas, quatro anos depois de "7"? Seal explica que não, a ideia é lançar uma série de EPs, que talvez virem um disco — ou não. Ele justifica:

— A indústria da música está de cabeça pra baixo. Competir nas paradas, ter um disco como número um não significa mais nada — avalia o cantor. — Mas o mais importante continua sendo o mesmo de quando eu comecei, e de antes de mim: a canção e a voz. Tudo o mais muda. Isso não.

Em seu mais recente álbum, "Standards" (2017), Seal reafirma sua fé na canção e na voz, regravando clássicos do cancioneiro americano, como "Autumn leaves", "My funny valentine" e "Smile".

— Ideias vêm e vão. Grandes canções duram para sempre. Elas eram ouvidas antes de mim e serão ouvidas depois que eu for — defende Seal. — É mais dificil cantá-las do que cantar minhas músicas. Você está mais exposto, além disso é muito mais difícil cantar baixo do que alto. O mais importante numa canção desse tipo é a narrativa. Você tem que contar a história, senão elas não funcionam. É por isso que Sinatra é tão grande, ele sabia contar a história.

A consciência da grandeza de Sinatra e dos rumos da indústria da música parecem acompanhar Seal desde que ele surgiu, no início dos anos 1990, com sua bela e potente voz inserida na sonoridade eletrônica então na vanguarda do pop. Sua observação sobre reality shows como "The voice" reflete isso — ele foi técnico da edição australiana do programa.

— Um programa como esse não é necessariamente bom ou ruim para o cantor. Depende de algumas coisas: dos organizadores, se eles se importam com a arte ou com a TV; dos técnicos, que são quem pode educar os artistas com uma dose de realidade, mantendo-os atentos à vida que existe depois do programa; e os próprios artistas, que têm que saber se querem ser famosos pelas semanas que durarem o programa ou se eles escolheram a música para a vida, por amor. Como técnico, procuro ensinar a eles a aproveitarem aquela oportunidade. Com muitos, mantenho contato até hoje. Rennie Adams, de quem fui técnico, acaba de voltar de uma tour comigo.

Seal, no entanto, diz que não participaria. Não por nenhum purismo artístico, mas por motivos bem mais prosaicos:

— Não teria coragem de fazer isso. Não conseguiria lidar com esse nível de rejeição.