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Sepultura dá continuidade a sua história em disco e filme

Banda lança ‘Machine messiah’ e celebra em doc a sobrevida pós-irmãos Cavalera
Eloy (à esquerda), Paulo, Derrick e Andreas: disco gravado na Suécia Foto: Divulgação
Eloy (à esquerda), Paulo, Derrick e Andreas: disco gravado na Suécia Foto: Divulgação

RIO - A decisão de Max e Iggor Cavalera de sair em turnê para celebrar os 20 anos do álbum “Roots” (o show carioca aconteceu mês passado, no Imperator) não incomodou particularmente o guitarrista Andreas Kisser, que gravou com os irmãos o disco de 1996 e que hoje leva adiante o grupo Sepultura junto com o baixista Paulo Jr..

— Para eles, eu não sei, mas para o Sepultura, isso seria uma perda de tempo — diz ele, em pleno trabalho de preparação para o lançamento de “Machine Messiah”, o 14º disco de inéditas da banda brasileira de rock mais bem-sucedida no mundo, que saiu na sexta-feira. — O “Roots” é um disco fantástico, que influenciou muitas bandas. Parece que ele foi gravado hoje. Mas esse novo mostra o que somos hoje. Estamos em um momento fantástico, sempre experimentando, buscando influências novas. Queremos levar a música do Sepultura a um outro patamar.

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Terceiro álbum do Sepultura pelo selo alemão Nuclear Blast (e o primeiro a ser lançado na América Latina pela Sony Music), “Machine Messiah” foi gravado na Suécia, entre maio e junho, com o produtor Jens Bogren (de discos de Opeth, Kreator, Soilwork e Paradise Lost).

— É um tipo de disco que nunca tínhamos feito, tivemos que nos preparar física e musicalmente para gravá-lo — explica Kisser, que passou por uma longa pré-produção com a banda, no Brasil, antes de embarcar para as gravações. — Fizemos um disco pensando nos tempos do vinil, onde cabiam no máximo 10 músicas em disco. Compusemos faixas especialmente para abrir os lados A ( a que dá título ao disco ) e B ( a épica “Sworn oath” ). É um disco old school , mas com música moderna. No mundo do metal ainda existe essa tradição de fazer álbuns.

Disco cheio de detalhes, que vão da arte da capa (da artista filipina Camille Della Rosa) à escolha dos estilos e formatos musicais (há até uma complexa faixa instrumental, “Iceberg dances”), “Machine Messiah” teve a participação de uma orquestra tunisiana de violinos nas faixas “Phantom self” (que abre com uma batida de maracatu) e “Sworn oath”. De resto, o álbum é a consagração da formação que inclui o baterista Eloy Casagrande (há cinco anos no grupo) e do vocalista americano Derrick Green, que em 2017 completa 20 anos de Sepultura (ele foi o substituto do fundador Max Cavalera, que saiu em 1996 e depois montou o Soulfly).

— Perder o Max foi o maior baque da nossa carreira, porque deixamos para trás tudo que havíamos conquistado em 10 anos. Ele saiu no meio da turnê do “Roots”, o que foi muito inoportuno. Em 2006, o Iggor saiu também, mas nunca paramos — diz Andreas, participante ativo de “Sepultura, o filme”, documentário oficial da banda, dirigido por Otavio Juliano, que estreia em abril (e sai em busca dos festivais internacionais de cinema), com produção da Interface Filmes e distribuição da O2.

Juliano passou seis anos dedicado às filmagens. Nesse período, acompanhou a banda por cinco continentes.

— Fizemos entrevistas com Scott Ian ( Anthrax ), Phil Anselmo ( Pantera ), membros do Slipknot, Motörhead e Megadeth... O doc vai das origens em Belo Horizonte até o momento atual, com imagens inéditas cedidas pelos membros da banda. E conta com o show dos 30 anos de carreira gravado em São Paulo exclusivo para o filme — relata o diretor, que não contou com a colaboração dos irmãos Cavalera, fundadores do Sepultura. — Honestamente, me dediquei mil por cento para realizar um doc completo mesmo sem os dois. Não ter a participação deles foi um desafio.

— Não é um filme para ficar lavando roupa suja. ( Os últimos 20 anos ) foram de reconstrução, crescemos no palco, viajamos, conhecemos vários países. Muitos se perguntaram se aquilo era o Sepultura, disseram o que o Sepultura deveria ser... Mas temos nossos fãs e nossos discos e seguimos trabalhando. Ficamos longe desse embate — assegura Kisser, que acompanha de longe a reedição em vinil e CD, dia 27, de discos do Sepultura na caixa, a “Roadrunner albums 1985-1996”. — É um projeto com o qual não concordamos e do qual nem chegamos a participar da escolha da arte, infelizmente temos esse limite de ação. E se são os discos do Sepultura pela ( gravadora ) Roadrunner, onde estão os com o Derrick ( “Against”, de 1998; e “Nation”, de 2001 )?

Mês que vem, o Sepultura estreia o show de “Machine Messiah” na Europa em turnê com os alemães do Kreator. E em abril, eles excursionam pelos Estados Unidos com Testament e Prong. Nada de Brasil na agenda, ainda. Mas o guitarrista se mostra confiante:

— O metal está num bom momento, as grandes bandas lançaram grandes discos, a começar pelo Big Four ( Metallica, Slayer, Anthrax e Megadeth ). Quando eles estão bem, levam todo mundo junto.