Cultura Música

Trio paranaense Tuyo apresenta no Rio o seu folk vestido de eletrônicas

Grupo fará três sessões com ingressos esgotados na Audio Rebel, e vai participar do show de Baco Exu do Blues no Circo Voador
O trio Tuyo em ação Foto: Luciano Meirelles / Divulgação
O trio Tuyo em ação Foto: Luciano Meirelles / Divulgação

RIO — Do tempo em que estudou Letras, Lio Soares, de 32 anos, conservou a paixão pela literatura latino-americana, especialmente a de autores como o argentino Adolfo Bioy Casares e o colombiano Gabriel García Márquez — mestres que souberam explorar, em seus contos, o “aspecto introspectivo da narrativa, o processo de olhar para dentro”. Dali veio o mote para música que Lio queria fazer com a irmã mais nova, Lay, de 25, e o namorado Jean Machado, de 27 — Tuyo, nos sentidos que a língua espanhola dá para “teu” e, também, numa possível contração de “Tu” e “Yo” (você e eu). Em três sessões (com ingressos esgotados) no sábado, na Audio Rebel, o trio vem revelar aos cariocas os mistérios muito íntimos de “Pra curar”, seu álbum de estreia, lançado em novembro.

Afinadíssimos e expressivos vocais, em canções de alta melancolia vestidas por violão folk, de cordas de aço, ou, na maior parte das vezes, por eletrônicas eloquentes e elegantes: o Tuyo de “Pra curar” pega o ouvinte nos primeiros segundos de suas canções e o põe num ambiente envolvente de exacerbação emocional, como nos melhores discos de Bon Iver (projeto do americano Justin Vernon) e do inglês James Blake.

— Tuyo rompe com o arquétipo da figura negra que reproduz os sons da sua própria raiz — advoga Lio, que ano passado fez com Gianlucca Azevedo, um dos produtores de “Pra curar”, o show “Sad songs Vol. 1”, só de canções do branco Justin (que acabou se tornando parceiro de rappers negros como Kanye West). — Temos a vontade de explorar outros lugares, como o da música eletrônica. E tentamos também aprofundar a questão da nossa presença na sociedade. O personagem negro em geral é muito achatado. Os negros também passam por depressão, traumas.

Em suas primeiras apresentações oficiais na cidade (em março, eles cantaram umas poucas músicas no projeto Rebuliço, no Teatro Ipanema), o Tuyo traz Gianlucca nas traquitanas eletrônicas (Jean cuida do violão), para mostrar o que Lio define como a “fusão bizarra de elementos fortemente orgânicos com os eletrônicos”.

— Agora, vai ser uma parada bem performática, estamos em um momento de transição. O Rio nunca recebeu um show com o repertório do nosso EP ( “Pra doer”, de 2017 ) e, em novembro, saiu o disco novo. Ficamos devendo aquelas músicas, nosso público é muito engajado, temos que cantá-las — conta a cantora. — A gente quer interagir com as pessoas que a gente conhece da internet. Elas têm uma presença mais forte do que a gente consegue controlar.

Com faixas como “Terminal”, “Eu não te conheço” e “Vidaloca” (“um adjetivo bom pra vida é ‘louca’ / porque pra viver não pode bater bem”), “Pra curar” vem como a continuação natural de “Pra doer” (do quase hit “Amadurece e apodrece”).

— O legal do álbum é que a gente conseguiu contar uma história mais complexa que a do EP — acredita Lio. — A gente gosta muito dos temas delicados. Nós três viemos de Londrina, onde a música sertaneja é muito forte. Tem essa questão do rompimento sertanejo, romântico, que toca muito a todos. Mas a gente fala também dos rompimentos internos e dos enfrentamentos pessoais. Gostamos de fotografar o fim das coisas.

Lio e Lay nasceram em uma família musical e cantam desde crianças. Lio foi para Curitiba há dez anos, para estudar Letras. Jean (capixaba criado em Londrina, que era amigo das meninas desde a infância) foi dois anos depois. E Lay, em 2017.

— Nenhum de nós imaginava que ia seguir na música, ela pegou a gente de surpresa — jura Lio, que, em 2016, acabou indo parar com a irmã no programa “The Voice” usando seus nomes de batismo: Lilian e Layane. — O Tuyo já existia, e uma amiga nossa nos inscreveu usando esse nome, já que não era um programa de bandas. A gente tinha a certeza de que não ia passar, mas foi passando e passando. O programa nos fez acreditar na nossa música. Se aquele povo tão competente queria investir nela, por que a gente não ia querer?

Nesta sexta, o Tuyo aproveita a estadia carioca para participar do show de Baco Exu do Blues, cantando “Flamingos”, música do seu aclamado disco “Bluesman”.

— Na gravação, o Diogo ( Baco Exu ) dirigiu as vozes e me senti confortável com isso. Ele sabe exatamente o que quer — elogia Lio.

Serviço

Onde: Audio Rebel — Rua Visconde de Silva, 55, Botafogo (3435-2692).

Quando: Sábado, às 18h, 20h e 22h.

Quanto: R$ 50 (ingressos esgotados).

Classificação: 16 anos.