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Cultura Música

Vinil completa 70 anos com novas fábricas e rendendo dinheiro

Formato lançado em 1948 foi ameaçado por várias inovações tecnológicas
Em 1948, veio o vinil. Ele reinou por décadas, vendo outras mídias surgirem e sumirem Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
Em 1948, veio o vinil. Ele reinou por décadas, vendo outras mídias surgirem e sumirem Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo

RIO - Algumas inovações tecnológicas só revelam sua dimensão tempos depois. Em 21 de junho de 1948, a Columbia pôs nas lojas dos Estados Unidos, a U$ 4,85, um disco com o “Concerto para violino em Mi menor” de Mendelssohn. Trazia o violonista Nathan Milstein e o maestro Bruno Walter regendo a Orquestra Filarmônica de Nova York.

O disco tocava na velocidade de 33 e 1/3 rotações por minuto (o padrão até ali era 78 rpm) e podia abrigar cinco ou seis canções de cada lado (e não apenas uma, como de costume). Era o primeiro LP da História.

E esse long playing acabaria inaugurando toda uma nova era musical, a dos álbuns: obras de arte que se estendem por 40 e poucos minutos de audição e que tiveram seu primeiro exemplar mundialmente celebrado em 1967, no “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” dos Beatles.

Transformação
dos formatos
do álbum
Vinil
Criado em 1948 e até hoje em fabricação.
LONG PLAY RECORD
Cassete
90
INTERSOUND
FE
Rigid-construction cassete mechanism
Lançado em 1963 pela holandesa Philips, brilhou na era do walkman, foi morto pela pirataria nos 2000, mas agora está tendo um renascimento, apesar de sua baixa qualidade sonora.
HIGH BIAS IECII/TYPE II STEREO
Cartucho
8
Stereo
Formato baseado numa fita magnética sem fim embalada numa caixa plástica, lançado em 1964, e voltado para os aparelhos de som automotivos. Durou basicamente até o fim dos anos 1970, e em grande parte nos Estados Unidos (embora, no Brasil, álbuns de Roberto Carlos e Jorge Ben tenham sido lançados em cartuchos).
high fidelity
8 - track stereo tape
cartridg
CD
Disco digital, que prometia bater os LPs por causa de sua melhor qualidade sonora e pela praticidade de seu tamanho. Reinou a partir dos anos 1990, mas nunca chegou a extinguir os discos de vinil. A pirataria digital e o streaming, mais recentemente, contribuíram para o encolhimento do seu mercado.
DAT
120
Digital Audio Tape
DT-
PDP-64
Som digital numa fita magnética menor que o cassete. A Sony até que tentou emplacar o formato em 1987, mas poucos álbuns foram editados em DAT.
High Performance For Digital Recording
Digital Audio Tape
For Professional Use
Minidisc
Formato digital de música que foi lançado em 1992 pela Sony, com a promessa de ser portátil e regravável como o cassete e ter a qualidade som do CD (sem interromper a execução quando o aparelho era submetido a solavancos). Problemas: o aparelho de reprodução era caro e a indústria fonográfica não acreditou nele, fabricando poucos álbuns no formato. Durou até 2013.
USB
Lady Gaga, Beatles, Queen, Bob Dylan e Bon Jovi foram alguns artistas que tiveram álbuns lançados em pen drives, em edições limitadíssimas. Tara de colecionador.
Streaming
Hoje as mídias físicas foram substituídas pela nuvem dos formatos online. Para se ouvir música, basta acessar plataformas de streaming, como Spotify, Deezer e o YouTube. Com isso, a compra de vinis, cassetes etc virou curtição de colecionadores.
Transformação dos
formatos do álbum
LONG PLAY RECORD
Vinil
Criado em 1948 e até hoje em fabricação.
90
INTERSOUND
FE
Rigid-construction cassete mechanism
HIGH BIAS IECII/TYPE II STEREO
Cassete
Lançado em 1963 pela holandesa Philips, brilhou na era do walkman, foi morto pela pirataria nos 2000, mas agora está tendo um renascimento, apesar de sua baixa qualidade sonora.
8
Stereo
high fidelity
8 - track stereo tape
cartridg
Cartucho
Formato baseado numa fita magnética sem fim embalada numa caixa plástica, lançado em 1964, e voltado para os aparelhos de som automotivos. Durou basicamente até o fim dos anos 1970, e em grande parte nos Estados Unidos (embora, no Brasil, álbuns de Roberto Carlos e Jorge Ben tenham sido lançados em cartuchos).
CD
Disco digital, que prometia bater os LPs por causa de sua melhor qualidade sonora e pela praticidade de seu tamanho. Reinou a partir dos anos 1990, mas nunca chegou a extinguir os discos de vinil. A pirataria digital e o streaming, mais recentemente, contribuíram para o encolhimento do seu mercado.
120
DT-
PDP-64
High Performance For Digital Recording
Digital Audio Tape
For Professional Use
DAT
Digital Audio Tape
Som digital numa fita magnética menor que o cassete. A Sony até que tentou emplacar o formato em 1987, mas poucos álbuns foram editados em DAT.
Minidisc
Formato digital de música que foi lançado em 1992 pela Sony, com a promessa de ser portátil e regravável como o cassete e ter a qualidade som do CD (sem interromper a execução quando o aparelho era submetido a solavancos). Problemas: o aparelho de reprodução era caro e a indústria fonográfica não acreditou nele, fabricando poucos álbuns no formato. Durou até 2013.
USB
Lady Gaga, Beatles, Queen, Bob Dylan e Bon Jovi foram alguns artistas que tiveram álbuns lançados em pen drives, em edições limitadíssimas. Tara de colecionador.
Streaming
Hoje as mídias físicas foram substituídas pela nuvem dos formatos online. Para se ouvir música, basta acessar plataformas de streaming, como Spotify, Deezer e o YouTube. Com isso, a compra de vinis, cassetes etc virou curtição de colecionadores.

ANÁLISE : O streaming é um caminho sem volta

Setenta anos depois, era para ter virado peça de museu no decorrer de uma revolução digital que, sobretudo com o streaming, derrubou o meio físico como forma predominante de se consumir música. Mas o LP foi renascendo como produto de nicho nos últimos anos e, agora, entra numa nova fase.

Em seu 12º ano de ininterrupto crescimento nos Estados Unidos, os discos de vinil terminaram 2017 respondendo por cerca de 8,5% das vendas totais de música no país (14% entre os produtos físicos, o que denota um crescimento de 3% em relação a 2016 — e um salto e tanto em comparação com 2005, quando sua participação foi de 0,9%).

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Como se fabrica o disco que manteve o charme para resistir às tecnologias
Como se fabrica o disco que manteve o charme para resistir às tecnologias

Enquanto isso, a gigante Sony anunciou que vai voltar a produzir LPs ainda em 2018, no Japão, após um hiato de 28 anos. E o grande símbolo da nova cultura do vinil, o Record Store Day, celebrado em 21 de abril, bateu recorde de vendagem nos EUA: 733 mil LPs, ao longo de uma semana (desde 1991 não se vendia tantos álbuns de vinil por lá num mesmo intervalo de tempo).

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No Brasil, o primeiro LP só foi editado em 1951. Era “Carnaval em Long-Playing”, com faixas de Heleninha Costa, Geraldo Pereira e Os Cariocas, entre outros. Mas o renascimento do formato também tem chamado a atenção. O país abriga duas das 65 fábricas de discos de vinil em operação no mundo.

A Polysom, no Rio, completa 20 anos em 2019, produzindo de dez a 12 mil discos ao mês; e a Vinil Brasil existe desde o ano passado, em São Paulo. Além disso, o Brasil chega aos dias de hoje com pelo menos duas dezenas de pequenos selos fonográficos exclusivamente dedicados a lançar LPs, em tiragens de 300 a 2 mil cópias.

ENFIM, RENDENDO FRUTOS

Em todo o país, as feiras de discos se multiplicam pelas capitais e chegam às cidades menores. Em Porto Alegre, o Noize Record Club, iniciativa liderada pela revista de música “Noize”, lança sua 14ª edição, encartando o LP da cantora Xênia França.

Enquanto isso, um marco para o vinil brasileiro está a caminho das lojas: “ Tranquility Base Hotel and Casino ”, novo álbum dos ingleses Arctic Monkeys. Desde 1996, quando os LPs deixaram de ser fabricados pelas grandes gravadoras no Brasil, um lançamento internacional desse porte não saía em vinil por aqui.

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Presidente da gravadora Deck, que promove o lançamento de “Tranquility...”, e consultor da Polysom, onde prensa os álbuns de seus artistas, João Augusto começou a apostar no “negócio LP” ainda em 2009. Hoje, diz que sua insistência pessoal está enfim rendendo frutos.

— Nunca pensamos em lucros, mas eu não sabia que seria tão difícil fazer discos, ainda mais com qualidade. Se soubesse, provavelmente não teria entrado no projeto. A partir de 2012, a Polysom passou a fazer discos de vinil com qualidade reconhecida no mundo inteiro, ao mesmo tempo em que conseguiu chegar ao mercado com um preço um pouco menor, embora ainda acima do desejado. Hoje podemos dizer que valeu a pena — conta ele, que investe este mês também no lançamento do novo álbum de Elza Soares, “Deus é mulher”, agora em vinil.