Cultura

Musical conta a vida de Bibi Ferreira

Aos 95 anos, atriz e cantora é homenageada em peça, enquanto anuncia show, CD e programa de rádio
Amanda Acosta vive a protagonista em 'Bibi, uma vida em musical', com direção de Tadeu Aguiar e texto de Artur Xexéo e Luanna Guimarães Foto: divulgação/Guga Melgar
Amanda Acosta vive a protagonista em 'Bibi, uma vida em musical', com direção de Tadeu Aguiar e texto de Artur Xexéo e Luanna Guimarães Foto: divulgação/Guga Melgar

RIO — Bibi Ferreira nasceu num tempo em que ser ator não era status aceitável nem sequer profissão. Mas, filha de quem foi — a bailarina Aída Izquierdo e o ator Procópio Ferreira, um dos responsáveis pela profissionalização do ofício no país —, viveu o palco tão intensamente que, aos 95 anos, é um mito em atividade.

Depois de encarnar vários tipos, a atriz-cantora começa 2018 convertida, ela própria, em personagem teatral. Na última sexta-feira, estreou no Oi Casa Grande um musical criado em sua homenagem, “Bibi, uma vida em musical”, o que dá a ela a chance de se ver em cena e rever as diferentes fases de seus 76 anos de carreira.

— Fico feliz ao perceber que as pessoas realmente acompanharam a minha história, e que a minha carreira se destaca a ponto de ser contada — ela diz.

A atriz e cantora Bibi Ferreira em sua casa, no Flamengo Foto: Divulgação/Márcio Alves/18-2-2016
A atriz e cantora Bibi Ferreira em sua casa, no Flamengo Foto: Divulgação/Márcio Alves/18-2-2016

Com direção de Tadeu Aguiar, o musical busca revelar como e por que Bibi se tornou quem é, uma atriz-cantora exclusivamente dedicada à cena e à plateia, o fenômeno ao vivo que a torna uma das grandes damas dos palcos brasileiros.

Escrito pelo colunista do GLOBO Artur Xexéo e por Luanna Guimarães, o espetáculo é guiado por três narradores e uma série de personagens — a produção envolve 19 atores e oito músicos. Juntos, eles reconstroem histórias pessoais e profissionais de Bibi, vivida por Amanda Acosta (estrela de “My Fair Lady” em 2006). As cenas são embaladas por clássicos da sua carreira, como “Gota d’água” e “La vie en rose”, além de canções originais criadas por Thereza Tinoco, idealizadora do projeto ao lado da produtora Cláudia Negri.

"HISTÓRIA VIVA", DIZ DIRETOR

— A Bibi é a história viva do teatro no Brasil — diz Aguiar. — Estudou muito para ser atriz, cantora, instrumentista, dançarina. Leu muito, aprendeu línguas... Enfim, é uma mulher que se preparou e ainda se prepara todos os dias. Pode discutir sobre todos os elementos que envolvem uma produção. Domina o universo teatral inteiro, tudo que existe dentro do seu corpo e tudo o que há no entorno. E é essa mistura entre trajetória pessoal, história teatral e o hoje que mostramos.

A narrativa, dividida em dois atos, começa antes do nascimento da atriz, quando o espectador é apresentado à história da família — pais, tios e avós, todos ligados ao circo e ao teatro. É no picadeiro familiar dos Irmãos Queirolo que Bibi surge pela primeira vez em cena, aos 24 dias, substituindo uma boneca de pano que havia sido perdida.

“Ela foi, sem dúvida, a primeira atriz brasileira pronta para o gênero musical ”

Artur Xexéo
Coautor do texto de 'Bibi, uma vida em musical', sobre a homenageada, Bibi Ferreira

Depois, aos 3 anos, passa a animar os entreatos das peças da Cia. Velasco, da qual sua mãe participa após se separar de Procópio. A estreia profissional, no entanto, ocorre junto ao pai, em 1941, quando protagoniza “La Locandiera”, de Carlo Goldoni. Sempre precoce, no ano seguinte monta a sua própria companhia, que absorve lendas como as atrizes Cacilda Becker e Maria Della Costa, além da diretora Henriette Morineau.

Bibi também é uma das primeiras mulheres a dirigir teatro no país. Assina a estreia, em 1954, de “Senhora dos Afogados”, de Nelson Rodrigues. E torna-se a principal atriz de musicais no Brasil, em obras como “My Fair Lady” (1964) e “Alô, Dolly” (1965).

— Ela foi, sem dúvida, a primeira atriz brasileira pronta para o gênero musical — diz Xexéo.

"GOTA D'ÁGUA"

O segundo ato começa com o início da ditadura militar, no mesmo 1964 em que chega ao Rio o dramaturgo paraibano Paulo Pontes. É com Pontes que Bibi estabelece a mais intensa parceria amorosa e artística da sua vida, que resulta em obras como “Brasileiro, profissão: esperança” (1970), com Ítalo Rossi e Maria Bethânia em cena; a versão brasileira para o “O Homem de La Mancha” (1972), com letras de Chico Buarque; e finalmente a criação de “Gota d’água” (1975), de Pontes e Chico Buarque, considerado até hoje um dos maiores feitos teatrais de Bibi, somente igualado aos seus 35 anos de relação com as histórias e canções de Edith Piaf.

“São quase 90 anos no palco. E continuo nele”

Bibi Ferreira
Atriz e cantora, aos 95 anos de idade, sobre sua extensa carreira

— Tenho consciência de tudo que fiz — diz ela. — Comecei com meu pai, aos 19 anos, mas lembro de dançar no Municipal, aos 6, de fazer o filme “Cidade mulher” com 13, de ser ensaiada pelo Noel Rosa... São quase 90 anos no palco. E continuo nele.

Não é modo de dizer. Em fevereiro, Bibi apresentará o show “Por toda minha vida” no Municipal do Rio, com transmissão ao vivo para cinemas de todo o país. Além disso, seguirá pelo ano preparando projetos como um programa de rádio, “Palavra de Bibi” (em maio, na Roquette Pinto), CD (em homenagem a Frank Sinatra), DVD, fotobiografia e um novo site.

“BIBI, UMA VIDA EM MUSICAL".

Onde: Oi Casa Grande — Av. Afrânio de Melo Franco 290, Leblon (2511-0800). Quando: Qui. e sex., 20h30m; sáb., 17h e 21h; dom., 19h. Até 1/4. Quanto: De R$ 50 a R$ 150. Classificação: 10 anos.