Cultura

‘Não dá para saber quem se safa’, diz ator de 'Atlanta' sobre a segunda temporada da série

Um dos astros da série que virou marco da cultura negra nos EUA, Brian Tyree Henry conta como 'os roubos' ganharam destaque na trama atual
O ator Brian Tyree Henry como o rapper Paper Boi da série de TV 'Atlanta' Foto: Divulgação
O ator Brian Tyree Henry como o rapper Paper Boi da série de TV 'Atlanta' Foto: Divulgação

RIO — Criador, produtor, roteirista e ator de “Atlanta”, Donald Glover já definiu sua série de TV como uma espécie de “‘Twin Peaks’ com rappers”. Comédia de tons sombrios sobre a luta pela sobrevivência dos negros pobres naquela que é considerada a meca da negritude na América, a série estreou em 2016, levando dois Emmys e dois Globos de Ouro.

“É bom saber que os negros americanos têm uma série de TV que reflete, pelo filtro do humor, as suas histórias. Dizem que “Atlanta” é uma comédia, mas acho que é bem mais.”

Brian Tyree Henry
Ator

A primeira temporada empilhou situações surreais sobre seus dois protagonistas. De um lado, Earn (Glover), um ex-aluno da Universidade de Princeton, vive uma desesperadora penúria até vislumbrar a chance de empresariar seu primo. Do outro, Alfred Miles (Brian Tyree Henry), o tal primo, que começa a despontar para o sucesso no rap, sob a alcunha de Paper Boi.

— Tenho visto televisão por toda minha vida, e há muito não assistia a nada como “Atlanta” — puxa a brasa Tyree Henry, em conferência telefônica para jornalistas da América Latina nesta semana, para divulgar a segunda temporada da série, em cartaz no Brasil desde o último dia 30. — É bom saber que os negros americanos têm uma série de TV que reflete, pelo filtro do humor, as suas histórias. Dizem que “Atlanta” é uma comédia, mas acho que é bem mais.

Todos os episódios da primeira temporada estão disponíveis no aplicativo do canal FOX Premium e na Netflix. A nova temporada vai ao ar às sextas, às 21h30m. Em seguida, os episódios ficam disponíveis também no app.

— Não dá para saber quem vai conseguir se safar, é uma época do ano em que tudo está mais perigoso. Nada é sagrado, e isso vale para todos os personagens. Não é só porque Alfred está mais famoso como Paper Boi que ele não corre riscos — adianta o ator. — Ele está cansado, e não está ganhando nenhum dinheiro com aquilo.

NOVOS FILMES A CAMINHO

Diferentemente de Donald Glover, que grava discos com o projeto Childish Gambino, Brian Tyree Henry não tem passagens pelo rap. Sua origem é o teatro: ele fez parte do elenco original do espetáculo da Broadway “O livro de Mormon”. Seu por vezes intimidador Paper Boi, bem como a pessoa por trás dele, o confuso Alfred, são pura construção dramatúrgica.

— Eu ponho coração ali, quero garantir que você ouça Alfred rir, chorar, que veja sua raiva... Quero humanizá-lo. Há muito no personagem para além das correntes de ouro. Foi o maior desafio que enfrentei — diz. — Quando se criam personagens masculinos, especialmente negros, eles devem ser durões, mas essa não é a verdade.

Tida como um dos grandes acontecimentos recentes da cultura negra nos Estados Unidos, a série “Atlanta” abriu para Tyree Henry a possibilidade de trabalhar em longas-metragens dos mais elogiados cineastas negros da atualidade. Em breve, ele poderá ser visto em “If Beale Street could talk” (o novo de Barry Jenkins, de “Moonlight: sob a luz do luar”, baseado em livro de James Baldwin) e “Widows” (de Steve McQueen, diretor de “12 anos de escravidão”):

— Baldwin é um dos meus escritores favoritos, sou muito grato a Barry por poder participar da encenação de uma história dele. E Steve é um visionário. Fico feliz que eles tenham visto que posso acrescentar algo aos seus trabalhos. Quero mais!