Nelson Motta
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Nelson Motta

Jornalista, compositor, escritor, roteirista e produtor.

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Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 12/07/2024 - 04:30

Riscos do consumo de lixo digital

O consumo de lixo digital pode levar ao brainrot, prejudicando a vida real com perda de tempo e danos cerebrais. É importante encontrar um equilíbrio para evitar a dependência digital, principalmente em crianças.

O nome não poderia ser mais brutal, brainrot, literalmente “podridão cerebral”, criado em 2007 de deboche mas que agora serve para definir um distúrbio de comportamento sério provocado pelo consumo de conteúdo fútil na internet: o cérebro usado como lixeira. E isso tem consequências muito graves na vida real das pessoas. A primeira delas é a perda de tempo irrecuperável, que poderia ser usado para atividades mais úteis e prazerosas. Mas não, a pessoa fica abduzida pelo fluxo contínuo de vídeos e fotos e textos e memes, do qual não se consegue mais sair. É sempre só mais umazinha, como os dependentes de álcool, tabaco e cocaína, e assim se passam horas até o cansaço e o tédio. Já aconteceu comigo algumas vezes, é preocupante.

Claro que é útil e necessário para um profissional seguir as páginas de interesse de sua área, esses não têm tempo a perder. O caso dos news junkies, “viciados em noticias”, já vem dos tempos da imprensa escrita, é uma adição como outra qualquer, mas ao menos dá a ilusão de estar mais informado. Mas, na era das fake news, quanto mais lê, menos está. Viciados em política e pornografia não contam, são hors concours em consumo de lixo digital.

Já o caso dos loucos por esporte encontrou na internet uma mídia ideal, por congregar todas as outras, ampliando o acesso ao seu time do coração e às comunidades de torcedores. Não é perda de tempo, é viver sua paixão por clubes e por seus ídolos esportivos, que o representam numa metáfora da guerra e da competitividade da vida.

O problema é o conteúdo fútil, que não é preciso nem explicar o que é, todo mundo sabe: o combo fofocas, celebridades, “produtores de conteúdos” vazios, receitas sexuais, conselheiros sentimentais, influenciadores de araque, astrologia de invenção... É tudo lixo digital, que não acrescenta um grama de conhecimento. E pior, ocupa espaço do cérebro para melhores contribuições.

E assim as vidas ficam ainda mais vazias, o cérebro vai apodrecendo, horas grudado no celular em uma dependência digital incontrolável. Nada a fazer em um espaço de tempo livre, ou pior, em uma espera qualquer, e o dedo corre para o celular em busca de uma dose de feeds fúteis para amenizar a ansiedade.

Em adultos, é uma doença moderna, que atinge mais pessoas rasas, superficiais, sem objetivos na vida, de baixa inteligência e exigência, que estão apodrecendo seus cérebros já adoecidos. Mas em crianças, que já nasceram com a linguagem digital na ponta dos dedos, que aprenderam a ver o mundo na vertical, no fluxo de imagens, é uma ameaça muito mais grave, pelo descontrole, pela falta de supervisão e de orientação, por alimentar o cérebro de lixo e o desviar de conteúdos mais nutritivos.

Não é fácil, mas é preciso encontrar um equilíbrio para evitar a dependência digital e o consumo de lixo nas crianças — sem privá-las das descobertas da riqueza e diversidade da vida por elas mesmas através do celular, um instrumento insuperável de comunicação dos tempos modernos.

Diz-me o que vês e te direi quem és.

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