Nelson Motta
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Romancista consagrada desde “A louca da casa”, a espanhola Rosa Montero dedicou três anos de trabalho para escrever “O perigo de estar lúcida”, pesquisando as ligações entre a criação artística e a loucura, a insanidade, a extravagância, que ela acredita serem inseparáveis desde o início dos tempos, quando Sêneca dizia que não há gênio sem uma dose de loucura, entendendo-se gênio como qualquer criador e não só os extraordinários.

Misturando confissões pessoais de sua longa trajetória de jornalista e escritora com uma impressionante pesquisa científica e literária, Rosa sabe do que fala, porque já esteve lá, está sempre: na fronteira fluida entre a lucidez e a loucura. Por que tantos escritores são alcoólatras e alguns morrem de tanto beber como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, William Faulkner, Dashiell Hammett, Dorothy Parker, Dylan Thomas, Oscar Wilde, Marguerite Duras, Patricia Highsmith e, naturalmente, Charles Bukowski? Outros cheiram cocaína como Julio Verne, Mark Twain, Freud, Robert Louis Stevenson, ou são movidos a haxixe como Baudelaire e Theophile Gauthier, ou fumadores de ópio, a droga suprema segundo Jean Cocteau, como Rimbaud, Shelley, Flaubert, Keats, Byron, que foram ajudados por ela no início e destruídos no fim?

Esse pessoal pegava pesado. Dylan Thomas, que morreu aos 39 anos, estabeleceu um recorde de 18 uísques seguidos. Hemingway matou uma sequência de 17 daiquiris em Havana. Faulkner, aos 37 anos, tomava no café da manhã uma aspirina e meio copo de gim. Quando colocou o ponto final em sua obra-prima “O som e a fúria”, passou sete dias bebendo até cair. Melhor só o norueguês Knut Hamsun, que foi receber o seu Prêmio Nobel de Literatura completamente mamado, cambaleando pelo palco rsrs.

Estes são apenas alguns exemplos, de nomes mais conhecidos, mas os processos de criação são comuns aos melhores e piores criadores; é uma forma de fugir da lucidez para liberar a imaginação e seus verdadeiros sentimentos e transformá-los numa história, para entreter e emocionar estranhos, para tirá-la de dentro de si, em uma forma de processo psicanalítico também. É um jeito de estar na vida, em que as emoções da escrita de um livro equivalem à de uma paixão amorosa, na angústia de expressar o que não existe, mas está dentro de si, e você quer compartilhá-lo com o mundo, quer que o ouçam.

A criatividade também está associada a distúrbios mentais e vários casos são estudados por Rosa, mas o principal é a maravilhosa poeta americana Sylvia Plath, um prodígio intelectual de QI 160, que cometeu suicídio aos 28 anos, depois de várias internações e aplicações de eletrochoques, e descreveu seus inacreditáveis sofrimentos em seu livro “A redoma de vidro”. São muitos os que foram diagnosticados erroneamente e tratados com remédios venenosos e eletrochoques que destruíram seus cérebros.

Há escritores profissionais que fazem romances como quem fabrica sapatos, mas, para Rosa, escrever salva a vida dos que vivem de juntar palavras.

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