Cultura Rock in Rio

Nile Rodgers quer conhecer funk carioca e elogia Jota Quest: 'PJ (baixo) e Paulinho (bateria) tocam demais'

Sucesso no Sunset em 2017, guitarrista e produtor voltará ao Rock in Rio no palco Mundo
Nile Rodgers no palco do Rock in Rio, em 2017 Foto: Bárbara Lopes / O Globo
Nile Rodgers no palco do Rock in Rio, em 2017 Foto: Bárbara Lopes / O Globo

RIO — A banda do Nile Rodgers chegou, para a-a-a-animar a festa. Salve, simpatia. O guitarrista do Chic, um dos alicerces da música disco e produtor de meio mundo na música pop, de Madonna a Duran Duran, de Daft Punk a Jota Quest, vai repetir a dose no Rock in Rio, com direito a upgrade: depois do bailão de 2017 no Palco Sunset, desta vez ele estará no Palco Mundo, na mesma noite de Red Hot Chili Peppers, Panic! At The Disco e uma provável atração nacional, no dia 3 de outubro. Feliz, Mr. Rodgers?

— Você só pode estar brincando — diz o músico de 66 anos de seu escritório, em Nova York, onde nasceu e mora quando não está em sua outra casa, em Westport, no Connecticut, ou viajando o mundo com sua guitarra e seus dreads. — Antes de mais nada, eu sou apaixonado pelo Brasil, pela música, pela cultura. Você sabia que o disco de estreia do Chic, de 1977, tinha uma música chamada “São Paulo”? Já era parte da nossa admiração pela música daí.

Apesar de ser um velho frequentador do país — “você não devia ser nascido, mas havia no Rio uma boate chamada Papagaio, a gente tocava lá”, lembra ele, em referência aos anos 1970 e 1980 — , ele lembra com carinho especial a apresentação no Sunset em 2017, na mesma noite em que Justin Timberlake fechou o Palco Mundo, depois de Alicia Keys.

— Foi uma das noites mais emocionantes da minha vida — resume ele, que venceu um câncer em 2013 e em novembro daquele mesmo ano de 2017 passou por uma cirurgia para extirpar outro tumor. — Aquele é o segundo palco do festival? Não tinha a menor ideia disso, não me importa. Qualquer lugar em que pudermos tocar está bom.

Ele lembra que o show teve alguns problemas técnicos.

— Não sei se caiu uma chuva, ou se foi algo com o som, no começo — diz. — Mas foi espetacular assim mesmo.

No momento, ele se dedica ao que sempre fez: tudo.

— Minha vida é a combinação de um monte de coisas — começa. — Estou compondo, orquestrando músicas para discos de outros artistas, produzindo, trabalhando com Bruno Mars... E estamos em turnê com a Cher, nos divertindo demais todas as noites!

Ele diz que gosta de todas essas atividades, mas que tem um sonho surpreendente.

— Se eu pudesse, ficaria em casa tocando minha guitarra, mas isso não sustentaria o padrão de vida que tenho — confessa. —Eu pratico muito com o instrumento ( sua técnica de ritmo com a mão direita é louvada há décadas ) , mas gostaria, por exemplo, de voltar ao violão clássico, que eu tocava quando era jovem e hoje em dia não tenho mais tempo para estudar. Outro dia, fui tocar com Diana Ross e a banda dela estava levando a canção de uma forma diferente daquela que gravamos. E fui eu aprender de novo...

Nos shows do Chic (hoje em dia apresentado como Nile Rodgers e Chic), a banda apresenta sucessos de seu catálogo e do currículo dele como produtor, como “Like a virgin”, de Madonna, “Let’s dance”, de David Bowie, e “Get lucky”, do Daft Punk.

— Ao vivo, somos 100% orgânicos, o som vem dos instrumentos, não há uma back track, uma batida por trás — diz ele. — Mas isso é porque somos uma banda à moda antiga, eu uso muitos recursos eletrônicos nas minhas produções, e às vezes eles melhoram muito as canções.

Para alguém com uma folha corrida como a dele, escolher canções para uma hora de show pode ser complicado, mas ele desdenha:

— Tem seus truques, mas é só você sentir o que o público quer, sem vaidade, e todo mundo fica feliz.

Ele diz que Bruno Mars é um forte candidato a carregar a tocha do funk.

— Ele é o melhor exemplo de um artista jovem e completo — diz. — Um grande performer , canta, dança, toca... Acho que muito disso vem de tudo o que ele ouvia enquanto crescia no Havaí. Tocamos juntos no Carnegie Hall, em Nova York, e fiquei chocado com a forma com a competência dele na guitarra.

Rodgers ainda não conhece a acepção carioca do funk:

— Vocês têm um funk próprio? Ainda não tive a oportunidade de ouvir — diz. — Conheço muitos músicos brasileiros que são funky , cheios de suingue. A cozinha do Jota Quest, com PJ ( baixo ) e Paulinho ( bateria ),  é ridícula. Tocam demais...