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Cultura

'No Brasil, não gozamos mais da diversidade religiosa', critica Seu Jorge, em cartaz no filme 'Abe', que trata do tema

Músico e ator aguarda os lançamentos dos longas 'Pixinguinha, um homem carinhoso', 'Marighella' e 'Medida provisória'; álbum festivo 'Baile a la baiana' deve sair neste segundo semestre
Seu Jorge e Noah Schnapp, de 'Stranger Things', em cena do filme 'Abe'. Foto: Divulgação
Seu Jorge e Noah Schnapp, de 'Stranger Things', em cena do filme 'Abe'. Foto: Divulgação

No cinema, em séries ou na música, tem muito Seu Jorge vindo aí. Em cartaz nas telonas com “Abe”, de Fernando Grostein Andrade — no qual contracena com Noah Schnapp, o Will Byers de “Stranger Things” —, o cantor, compositor e ator carioca também está nos longas “Medida provisória”, de Lázaro Ramos, “Pixinguinha, um homem carinhoso”, de Denise Saraceni e Allan Fiterman, no qual interpreta o músico na juventude (ambos sem previsão de estreia), e “Marighella”, de Wagner Moura, em que vive o guerrilheiro e que deve entrar em cartaz em novembro. Para TV, está gravando a segunda temporada da série “Irmandade”, da Netflix. E ainda prepara o lançamento de dois álbuns: o festivo “Baile ala baiana”, que deve sair no segundo semestre, e “The other side”, que começou a ser gestado em 2009 e traz parceria com Marisa Monte e Arnaldo Antunes, releitura de outros compositores, como Milton Nascimento, e um dueto com Maria Rita.

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Em “Abe”, Seu Jorge interpreta Chico, um chef baiano que dá aulas de gastronomia para Abe, um menino de 12 anos do Brooklin que vê na cozinha uma oportunidade de pacificar sua conflituosa família, metade judia por parte de mãe, metade muçulmana por parte de pai.

— A grande questão do Abe é que ele não sabe se faz o ramadã ou bar mitzvah, e, na sua cabeça, ele pode querer fazer os dois — diz o artista, traçando um paralelo entre a ficção e a realidade brasileira. — No filme, a questão religiosa é extremamente importante. Nós, no Brasil, atravessamos um período confuso, em que parece que não gozamos mais da pluralidade e da diversidade religiosa. Houve, por exemplo, uma ascensão da religião evangélica e um ataque muito grande às religiões de matrizes africanas. Essas divergências religiosas apresentadas no longa estão perto da gente — reflete.

'Posso morar em qualquer lugar do mundo', diz Seu Jorge. Foto: Divulgação
'Posso morar em qualquer lugar do mundo', diz Seu Jorge. Foto: Divulgação

Nascido Jorge Mário da Silva, cria da comunidade Gogó da Ema, em Belford Roxo, Seu Jorge mora em Los Angeles desde 2013, quando foi com a família por conta de um trabalho como ator e resolveu ficar. Bem adaptado à vida nos Estados Unidos, vem com frequência ao Brasil, onde tem “negócios, amigos, família”, e se declara cidadão do mundo.

— Sou agraciado por ser uma pessoa que conseguiu transcender as fronteiras do Brasil com a música. Posso morar em qualquer lugar do mundo, como já morei um pouco em Paris, na Itália, nos EUA, tive um período gostoso em Portugal — conta.

Seu Jorge debutou no cinema com o Mané Galinha, de “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles. De lá para cá, atuou em outros 17 longas. São mais filmes do que discos: 12 no total, sendo oito de estúdio e quatro ao vivo. E a lista de produções para o cinema tem tudo para aumentar, pois segundo o artista, “os convites não param, fico muito feliz”.

Filha na música

Para quem o acompanha desde os tempos de Farofa Carioca (grupo do qual fez parte nos anos 1990) e quer saber o que vem por aí — seu último de álbum solo de inéditas foi o segundo volume do celebrado “Músicas para churrasco”, de 2015, e, depois, veio o disco que gravou com o parceiro Rogê, em 2020 — Seu Jorge avisa que em breve tem coisa nova na praça.

— O “The other side” sai ano que vem, estamos nos últimos momentos burocráticos. E o “Baile a la baiana”, eu pretendo dar uma atenção agora, nesse segundo semestre. Quero já publicar algumas músicas desse trabalho que é muito divertido, é um álbum pós pandêmico. Porque quando eu voltar, é pra voltar pra ser feliz — espera o cantor, que comemora o fato de a filha, Flor, de 18 anos, estar investindo na carreira musical (em junho, ela lançou o single “Sapiens”). — Ela é musicista, cantora e compositora, vem experimentando desde criança. A música dela não depende de mim pra acontecer, depende só dela.