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Cultura

Nos 25 anos da morte de Renato Russo, projetos incluem filmes baseados em canções, livro e espetáculos

Documentário vai mostrar processo criativo e levar espectador para dentro da cabeça do artista
Renato Rsso em show da Legião Urbana no Metropolitan Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo/ 09/10/1994
Renato Rsso em show da Legião Urbana no Metropolitan Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo/ 09/10/1994

Quem viu a mostra “Renato Russo”, em cartaz no Museu da Imagem e do Som de São Paulo entre 2017 e 2018, pôde se imaginar na casa do cantor da Legião Urbana graças aos móveis e objetos expostos. Um documentário que está começando a ser realizado pretende algo bem mais difícil: levar o espectador para dentro da cabeça de Renato.

A morte do artista completa 25 anos amanhã. Ele morreu aos 36 anos por complicações decorrentes da Aids.

“Renato Russo — É só o amor” (título provisório) tem como matéria-prima a mesma fonte da exposição do MIS: o acervo de 6 mil itens do cantor e compositor. São 20 diários, 50 cadernos, fitas cassete, fitas de vídeo, desenhos e muito mais. Tudo ficou por quase 20 anos no seu apartamento da Rua Nascimento Silva, em Ipanema, e foi tratado e organizado pela equipe técnica do museu paulista. Está hoje numa empresa especializada em guarda de acervo, a Clé.

Objetos do acervo de Renato Russo
Foto: André Hirae / Divulgação
Objetos do acervo de Renato Russo Foto: André Hirae / Divulgação

— O material permite ver o processo criativo de um cara genial: o que ele pensava, como escrevia e reescrevia as letras. O documentário vai ser o Renato se apresentando a partir do que ele deixou — diz a produtora Bianca de Felippes, da Gávea Filmes.

Ideias sem conclusão

As muitas estrofes que ficaram de fora de “Eduardo e Mônica” estão num caderno. Também se constata como eram muitas e frequentes suas ideias para filmes, peças e músicas, nem todas concluídas. No final da vida, estava desenvolvendo uma ópera com o maestro Silvio Barbato — que morreu em 2009 no acidente com um avião da Air France. E tinha obsessão por listas (dez músicas, dez filmes etc.), como retratou “O livro das listas”, lançado em 2017 pela Companhia das Letras.

Desenho do acervo de Renato Russo
Foto: André Hirae / Divulgação
Desenho do acervo de Renato Russo Foto: André Hirae / Divulgação

Bianca comprou da Legião Urbana Produções — empresa do filho do cantor, Giuliano Manfredini — o direito de usar o material. Além do longa-metragem, planeja-se uma série de cinco episódios distinta do filme. Espera-se finalizar o documentário no final de 2022, para exibi-lo em 2023.

A produtora também realizou filmes baseados em composições de Renato: “Faroeste caboclo” (2013) e “Eduardo e Mônica” (com Gabriel Leone e Alice Braga), concluído em 2019 e que ainda não estreou por conta da pandemia — a previsão agora é início de 2022. Ambos foram dirigidos por René Sampaio, também produtor do documentário. Deve-se fechar uma trilogia com outro filme inspirado em canção, mas o título é mantido sob sigilo.

A cineasta convidada para “Renato Russo — É só o amor” é Susanna Lira, com vários trabalhos no gênero e uma relação emocional com o tema.

— O primeiro LP que eu comprei foi “As quatro estações” [da Legião, de 1989] . Virou um guia para entender a minha adolescência. Renato era o cara que falava as coisas que eu sentia e pensava — afirma.

Ela não pretende filmar propriamente o acervo, como se registrasse em imagens o que ele tem. Diz querer se “afastar da linguagem jornalística” para fazer o documentário. Ou seja, não haverá entrevistas.

— O material é tão extenso que fala por si mesmo. A ideia é montar uma narrativa que o Renato gostaria de ter feito.

O diretor de arte Batman Zavareze também tem vasta experiência em sua área e é mais próximo do personagem, a quem chama de “anjo” e “profeta”. Tendo trabalhado na MTV de 1991 a 1996, gravou, como câmera, entrevistas de Renato e shows da Legião várias vezes.

— Uma entrevista na casa dele significava 40 minutos de gravação e quatro horas de convivência — conta o também fã. — As músicas dele batiam em mim de maneira arrebatadora. Quando a Bianca me convidou, falei o mesmo que falei quando fui chamado para o DVD dos 30 anos dos Paralamas do Sucesso: “Vou fazer esse filme para mim”.

Seu trabalho consistirá, por exemplo, em animar os escritos e os desenhos de Renato.

— Vou ser o agente da caneta dele. E estou aprendendo a desenhar como ele. Mas no sentido contrário: vou partir do desenho pronto para chegar ao ponto em que começou.

A ousadia maior, segundo diz, está no desejo de criar peças tridimensionais para o filme.

— Quero fazer coisas malucas, extrapolar.

Como não haverá entrevistas, não haverá no documentário a presença dos outros “legionários”, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá. Eles travam há anos uma batalha judicial com Giuliano. Este não concorda que os dois usem o nome Legião Urbana em seus trabalhos. Na última decisão do imbróglio, de junho, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça manteve o direito de Dado e Bonfá utilizarem a marca.

A pandemia dificultou acontecimentos para marcar os 25 anos de morte. Mas, nos dias 22 e 23 deste mês, no Centro Cultural Banco do Brasil, serão feitas apresentações de “Renato Russo, o musical”, grande sucesso protagonizado pelo ator Bruce Gomlevsky.

E Julliana Mucury está lançando “Renato, o Russo”, resultado de sua tese de doutorado em literatura brasileira. O livro tem como eixo a análise dos versos que o artista escreveu. A editora é a Garota FM Books, da jornalista Chris Fuscaldo, autora de “Discobiografia legionária” (2016).

Um projeto grande está confirmado, mas ainda não houve o anúncio de quando começará: a turnê de Seu Jorge interpretando composições de Renato.