Cultura
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Presidente da Academia Brasileira de Letras para 2022, Merval Pereira está tendo a honra de dirigir a instituição no seu aniversário de 125 anos. Mas encara também muitos desafios, já enfrentados por seu antecessor, Marco Lucchesi. Entre 2017 e 2021, Lucchesi ajudou a instituição a superar uma grave crise econômica e as incertezas da pandemia de Covid-19, que a fez fechar as portas pela primeira vez em sua história.

Agora, Merval dá continuidade ao trabalho de Lucchesi, que inclui também uma abertura maior da ABL para a sociedade. Nesta entrevista, o atual presidente fala sobre os projetos para a efeméride, a necessidade de posicionamento na defesa de valores democráticos e sobre o que significa ser uma academia no século XXI.

Como a ABL chega a mais este aniversário?

Fazer 125 anos não é pouca coisa. No Brasil, pelo menos. Isso é sinal de que a ABL é uma instituição perene, que resiste ao tempo. E se adapta. Essa é a nossa sensação. A série de posses este ano (de personalidades como Gilberto Gil, Fernanda Montenegro e Paulo Niemeyer Filho), concretizaram o que o (acadêmico) Marcos Vilaça dizia: “Tradição e modernidade”. Quando lançaram o iPad, ele (na época, presidente da ABL) deu um para cada acadêmico. É só um exemplo dessa permanente tentativa de modernizar a academia. Não apenas tecnicamente, mas também a mentalidade. Não é só uma renovação de idade, mas de visão de mundo, de cultura, de atuação.

A representação regional é importante?

Nós temos essa preocupação na escolha dos candidatos. Queremos ter uma representatividade regional importante. A gente fica atento à ideia de ampliar cada vez mais o escopo da academia, o grau de atendimento das demandas populares. Embora já tenha um dia sido qualificada de “torre de marfim”, a gente quer tirar essa imagem de ser uma coisa apartada do Brasil. E, com relação à representatividade, procura pensar em candidatos por suas regiões e gênero. Temos pessoas de todas as regiões e de vários estados.

A ABL só elegeu sua primeira acadêmica mulher, Rachel de Queiroz, em 1977. Desde então ingressaram Nélida Piñon, Lygia Fagundes Telles e Rosiska Darcy, entre outras. A ideia é tornar a casa cada vez mais igualitária em gênero?

Queremos que mais mulheres participem da Academia. E queremos mais negros, mais indígenas... O Daniel Munduruku já tentou uma candidatura e poderia ter se candidatado novamente, com muita chance de ser eleito. Está na nossa cabeça que a diversidade é uma mudança de paradigma que a atualidade pede. Precisamos acompanhar as mudanças na sociedade.

Em função da pandemia, a ABL suspendeu as atividades presenciais ao longo de mais um ano. O que este período de pausa ensinou?

A presidência de Marco Lucchesi (de 2017 a 2021) foi um divisor de águas. É um intelectual que se transformou em um gestor. Estudou o assunto, entendeu que a Academia estava passando por graves dificuldades e deixou claro que ela precisava ter uma atividade mais abrangente. E, mesmo na pandemia, fizemos coisas que nunca tínhamos feito, como podcasts. Agora, estamos fazendo uma nova Revista Brasileira, que terá também um blog literário, além de podcasts. Vamos fazer uma revisão do nosso site e entrar mais firmemente nas mídias sociais como Facebook, Twitter...

E ainda tem a digitalização do acervo da ABL, que abriga documentos de escritores e da própria instituição...

A digitalização é importantíssima. A partir deste mês, todo cidadão vai poder entrar e procurar documentos históricos e ter acesso a atas.

Qual a importância de abrir as portas para o público?

Retomamos as visitas guiadas nos moldes de antes da pandemia, com atores falando com estudantes. E também estamos planejando para o ano que vem uma visita guiada em metaverso, em um acordo com universidades. A ideia é colocar o Machado de Assis para conversar com alunos, e coisas desse tipo. Este ano teremos uma peça de teatro sobre Machado que o (acadêmico) Geraldinho Carneiro está escrevendo. A partir daí vamos filmar os atores e preparar o conteúdo para o metaverso.

Falando em público, como está a retomada do Teatro R. Magalhães Jr.?

Fernanda Montenegro fez uma leitura na semana passada e lotou todos os mais de 200 lugares. E havia ainda um grande público para assisti-la no telão. Também estamos planejando o centenário de Dias Gomes, em outubro, com diversas encenações de obras dele. Tony Ramos deverá ler textos.

Sabemos que a academia não faz política partidária. Mas, de uns tempos para cá, é possível notar um posicionamento cada vez maior na defesa da ciência, da cultura e da democracia. A academia está mais ativa neste sentido? Por quê?

Tem a ver com valores. Como parte das comemorações dos 125 anos, fizemos uma sessão sobre a importância das academias para a democracia. Um dos participantes, via vídeo, foi o escritor nicaraguense Sergio Ramírez, exilado em Madri. Ele falou sobre a perseguição do presidente (da Nicarágua) Daniel Ortega às academias do país. Os ditadores perseguem as academias porque elas fortalecem a cultura e a democracia. Nós estamos em um momento do Brasil muito conflituoso. Então temos que tomar posição por valores. Política discutimos entre nós, nos chás, como em qualquer reunião: Lula, Bolsonaro, terceira via... Mas, institucionalmente, o que a academia deve defender é a liberdade de expressão contra a censura. São coisas que estão na ordem do dia. Não fomos procurar para tomar posição. Estamos convivendo com isso. A partir daí, durante o período anterior, com Lucchesi, e agora também, sempre que a democracia e a liberdade de expressão estão em risco, nós tomamos posição. Mesma coisa quando há censura, ainda que não seja a censura grosseira da ditadura militar.

A revitalização do Centro, que sofreu enormemente durante a pandemia, é um assunto que interessa à academia?

Com certeza. A ABL faz parte de um conselho coordenado pelo secretário (de Planejamento Urbano do Rio) Washington Fajardo, que visa a ações de revitalização no Centro. Eu mesmo recebi, na semana passada, um grupo que quer discutir essa questão na Academia. Estamos completamente ligados a isso, pois vivemos no Centro, é onde nossa sede funciona. Temos que cuidar do local onde trabalhamos.

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