Cultura
PUBLICIDADE

Por Bolívar Torres

Nome mais badalado da 20º Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Annie Ernaux conversa, hoje, às 15h, com a escritora gaúcha Veronica Stigger na mesa Diamante Rubro.

Disputada nas ruas de Paraty, a francesa ganhou notoriedade principalmente após receber o Prêmio Nobel de Literatura em outubro. O último nobel que participou da festa havia sido a bielorussa Svetlana Aleksandrovna Aleksiévitch, em 2016.

Autora de livros como "O lugar", "Os anos" e "O acontecimento", Ernaux usa suas próprias experiências para documentar as transformações na sociedade francesa das últimas décadas. Em entrevista coletiva para jornalistas, ontem, ela falou sobre questões que perpassam sua obra, como a luta pelos direitos das mulheres, e também sobre a recepção do público em Paraty, onde foi muito disputada pelo público.

Nobel

Eu tinha dúvidas porque meia hora antes do anúncio oficial o telefone fixo havia tocado e apareceu um número da Suécia. Achei que fosse uma brincadeira e não atendi mais o telefone. Eu soube da notícia às 13h, na minha cozinha, quando liguei o rádio para ouvir o anúncio. Só quando anunciaram percebi que era verdade. O sentimento é de total irrealidade. Saí de mim mesma, saí do meu corpo, não sabia o que tinha no meu corpo.

A recompensa

Não sei o que vou fazer, nunca tive tanto dinheiro. Muito honestamente, é como ganhar na loteria. Isso muda o olhar sobre as coisas. Sempre há essa pergunta entre o que fazemos e o que nos dão em relação ao nosso trabalho.

Primeira nobel mulher

Entre todos os vencedores do Nobel de literatura francesa, não havia representação feminina. Acho que de todos os sentidos do prêmio, ser a primeira mulher é o que tem um sentido maior.

'O jovem' , de  Annie Ernaux, é obra mais vendida em livraria na Flip — Foto: Hermes de Paula
'O jovem' , de Annie Ernaux, é obra mais vendida em livraria na Flip — Foto: Hermes de Paula

Adesão dos leitores

Quando escrevo, não penso em ninguém. Busco alguma coisa que vem realmente de mim mesma, uma busca a partir de sensações vividas, reviradas e desdobradas. É como ir ao fundo das coisas com as palavras. Não escrevo para as mulheres como eu, para as transfugas de classes como eu, mas escrevo de um lugar, do lugar de uma mulher, de uma transfuga de classe e de outras coisas que eu também não sei.

Escrever como mulher

Escrevo como uma mulher. Escrevo com toda minha história, tudo que conheço da minha vida. Mas por isso mesmo até mesmo uma outra mulher não escreveria como eu se tiver outra história de vida. Eu parto de minhas lembranças, de coisas que podem estar ligadas à memória coletiva, como a memória de uma canção, de um fato político.

Impacto de seus relatos

Não se pode dizer a partir de um momento ou de um livro que ele seja seu. "O acontecimento" não é mais meu, é do mundo, e com isso vai encontrar outras histórias (como a do livro). Mas podemos dizer que toda a literatura é isso.

Sentir-se escritora

Nunca me senti escritora (risos). Não, estou brincando. No fundo, sou apenas isso (escritora). Mas a consciência de que essa é uma questão de vida e morte, isso eu senti ao escrever, "O lugar," sobre meu pai. Era um livro que não tinha a forma habitual dos meus anteriores, era mais curto, sem um conteúdo ficcional. Lembro de ter pensado que para mim dava no mesmo se o editor publicasse ou não. Lembro de ter pensado que é isso que faz um escritor. Essa impressão de fazer o que precisa ser feito.

Lembranças do Rio

Estive no Rio em 1972. É a ditadura no Brasil. E isso podia ser sentido na cidade. Fiquei apenas dois dias, mas o guia que tínhamos só nos mostrava a casa dos ricos. E falava sempre dos cariocas. Havia uma população branca que era superior aos outros, era mesmo uma atmosfera de extrema direita. Era sensível na cidade.

Literatura brasileira

Conheço muito pouca a literatura do país. Gosto muito do primeiro livro de Geovani Martins ("O sol na cabeça") e de Clarice Lispector, mas são escritores que li mais tarde na minha vida.

Mais recente Próxima
Mais do Globo

Ar condicionado e desumidificador são dois itens imprescindíveis para manter a temperatura e a umidade relativa do ar estáveis

Manto Tupinambá receberá cuidados especiais no Museu Nacional; veja quais

Novo espaço oferecerá aulas de flauta doce para 40 crianças da rede pública de ensino da cidade

Escola da Grota chega à Ilha da Conceição, em Niterói

Maior parte das ofertas combina atividades lúdicas e educativas

Artes, esportes e imersão em inglês: confira opções de colônias de férias na Barra da Tijuca

Organização social foi alvo de desinformação repassada por servidor cedido à Abin

'Abin paralela' bolsonarista propagou fakenews sobre o Instituto Sou da Paz

Idosa, que vive no icônico edifício Chopin, na Praia de Copacabana, enfrenta uma disputa judicial entre o marido e a família, que o acusa de violência doméstica e patrimonial

Ministra critica desembargadora que deu tutela de socialite a motorista e pede intervenção do CNJ: 'desacreditou da vítima'

Esquema de espionagem também alcançou agências de checagem e movimento contra desinformação

Abin paralela monitorou oito parlamentares, quatro ministros, perfil no Twitter e podcast crítico a Bolsonaro

Supremo suspendeu cobrança de ITCMD para alguns casos em 2021, até que seja promulgada lei complementar sobre o tema

Justiça impede cobrança de imposto sobre heranças e bens no exterior, ampliando alcance de decisão do STF

Ex-presidente afirma falsamente não saber nada sobre o documento, que propõe políticas conservadoras para um possível segundo mandato do republicano

Contra pornografia e aborto e a favor de deportação em massa: o que é o Projeto 2025 e por que Trump tenta se afastar dele?