Cultura
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Por Maria Fortuna — Rio de Janeiro

Daniela Mercury só conseguiu finalizar “Baiana”, disco que lança nesta sexta-feira (2) nas plataformas digitais, depois do resultado das eleições. É que o veredicto das urnas impactaria diretamente na seleção que ela faria das canções entre as mais de 60 inéditas que compôs recentemente. As músicas, por sua vez, definiriam a mensagem que a artista transmitiria ao público.

Capa do disco 'Baiana': referência a Carmen Miranda — Foto: Reprodução
Capa do disco 'Baiana': referência a Carmen Miranda — Foto: Reprodução

O alívio de ver um governo antidemocrático não ser reeleito não a impediu de fazer um álbum de tom político. Daniela mete o dedo na ferida da fome, do fascismo, defende a liberdade e a floresta. Mas também fala de esperança, alegria e, sobretudo, celebra a cultura brasileira. A ideia é “descansar o coração, recuperar a saúde emocional”, diz ela, que cai na estrada com a turnê do disco a partir de amanhã (sábado, 3).

Nesta entrevista por Zoom, a cantora e compositora de 57 anos afirma que, apesar de seu engajamento político na campanha do presidente eleito, não postula o cargo de Ministra da Cultura, para o qual seu nome teria sido cotado. Descreve o que sentiu ao ver Gilberto Gil ser atacado (“é como machucar alguém da nossa família”), fato que a fez lançar campanha para descobrir a identidade do agressor.

A artista também defende Ludmilla, cantora bissexual criticada por fazer show no Catar, país que não respeita direitos humanos e persegue pessoas LGBTQIA+. Daniela fala ainda da felicidade sexual proporcionada pela relação com sua companheira, a jornalista Malu Verçosa.

Daniela Mercury: 'Não pretendo o cargo de Ministra da Cultura' — Foto: Divulgação/Célia Santos
Daniela Mercury: 'Não pretendo o cargo de Ministra da Cultura' — Foto: Divulgação/Célia Santos

Seu novo disco me parece movido à indignação. Estou certa?

Sim. A pandemia me trouxe forte a coisa da memória, junto com a angústia de lutar pela cultura. Foi um processo criativo livre, relacionado à angustia à emoção. A indignação esteve presente e o desejo de trazer esperança e luz. Vejo essa necessidade de o artista apontar caminhos. Quando vemos Gal Costa, Moraes Moreira, Erasmo Carlos irem embora, percebemos o quanto somos ligados a eles. Essas pessoas me educaram. Me disseram como lidar com a ditadura, no que acreditar e como me comportar.

Você compôs a canção “Caetano filho do tempo” para o compositor. Já mostrou a ele? Deu frio na barriga?

Dá muito frio na barriga, sim (risos). Ele ainda não ouviu, estou louca para mostrar. Fiquei pensando em como falar de Caetano. Porque ele é de uma imensidão, de uma complexidade... Acabei tentando pegar a relação dele com o samba e o lado mais familiar de quem, daqui, conviveu com Dona Canô (mãe do artista). Já fiz música para Gil também, "De Deus, de Alah, de Gilberto Gil", e "Quando o carnaval chegar" acabou virando um frevo para Gal (que elas gravaram juntas). Há vontade de falar sobre eles. A gente não nasceu por geração espontânea. A internet criou um muro de compreensão. Muito da nossa história não está ali, e as pessoas não entendem o impacto do que foi feito por cada um de nós.

Falando em Gilberto Gil... Você saiu em defesa dele depois que foi atacado no Catar. Lançou uma campanha nas redes sociais para descobrir a identidade do agressor. Por que é importante fazer esse movimento e o que você sentiu ao ver um patrimônio brasileiro como Gil ser agredido?

Senti a mesma indignação de quando falaram contra Fernanda Montenegro. A gente, realmente, se dividiu entre democratas e não democratas. Nem todo mundo percebeu isso. Todos os artistas, todas as pessoas, merecem respeito. Ninguém merece discurso de ódio, não podemos aceitar. Mas quando isso vem para pessoas por quem temos tanto respeito e afeto, que são fundamentais na cultura brasileira como Gil e Fernanda Montenegro, a indignação é maior. É como machucar uma pessoa da nossa família.

Acho educativo formadores de opinião e pessoas com visibilidade ensinarem que isso não é aceitável dentro de uma sociedade que se diz civilizada e democrática. Agredir, ofender é outro é proibido. Nem artistas que estão aí defendendo ideologias indefensáveis merecem esse tipo de agressão.

Defendi Gil com mais afinco ainda porque ele está defendendo a democracia desde que existe como artista. Os que não valorizam a democracia já não têm tanto a minha admiração... Quem defendeu Mussolini e quem defendeu a liberdade não pode ser tratado do mesmo jeito.

Sua atuação na campanha de Lula fez com que seu nome fosse citado para assumir o Ministério de Cultura. Esse convite aconteceu?

Não faço ideia do motivo de o meu nome ter surgido. Acho que é por ser uma artista conhecida e estar próxima. Como Lula já teve Gil... Não pretendo esse cargo nem falo como pretendente. Quando me aproximei da campanha, fui para levar demandas que falam das mulheres e da Cultura. Há anos participo de ambientes de discussão. Sou empresária cultural, artista independente, construí uma carreira sozinha. Tenho aproveitado esse espaço para falar da precariedade do setor cultural no Brasil.

Percebi o quanto a gente é desorganizado. Vimos que o Plano Nacional de Cultura é interessante, mas faltam mecanismos práticos. A gente não tem previsibilidade, acesso ao orçamento, os valores de incentivo são pequenos. É preciso criar uma cédula de crédito. Poderíamos empregar mais, exportar cultura, desonerar. Nem a direita democrática nem a esquerda conseguiram dar a importância que a cultura tem como setor.

Você entende da engrenagem da indústria criativa, está colocando propostas aqui. Se o convite viesse, de fato, você aceitaria ser ministra?

Acho estranho falar sobre uma coisa que não existe. Minha atuação independe disso. Quem for assumir o ministério precisa ter capacidade de articulação política, conhecer bastante as questões relacionadas à reestruturação do Ministério, que foi destruído completamente. A gente tem muitas pessoas excelentes que podem fazer isso. Também depende de a sociedade se organizar, não é uma questão só do governo. A gente precisa de gente forte que tenha poder junto ao governo para conseguir aprovar leis e até medidas provisórias para o setor, que está abandonado e enfraquecido há muitos anos.

Daniela Mercury sobre novo disco: 'Para descansar o coração, recuperar a saúde emocional' — Foto: Célia Santos
Daniela Mercury sobre novo disco: 'Para descansar o coração, recuperar a saúde emocional' — Foto: Célia Santos

Voltando ao disco... A letra de "Macunaíma", canção que aborda a Semana de Arte Moderna de 1922 e que você compôs em parceria com o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa, diz: "Mário (de Andrade) sai do armário"...

Isso é Zé Celso... Eu disse: "Zé, é isso mesmo? É a gente que vai falar do armário de Mário?". E ele: "Todo mundo sabe! E eu acho tão digno". Zé é um intelectual de São Paulo, conviveu com essa turma, é o cara do tropicalismo do teatro... Ele pode falar isso do alto da sua autoridade. Eu achei fantástico.

Sobre essa música... Comecei a trabalhar com simbolismos para encontrar formas de dizer o que precisa ser dito e discutir questões do nosso tempo. A luta contra o fascismo, racismo, machismo, desigualdade, a guerra cultural essa compreensão de quem somos como povo. Sou pós-tropicalista, tenho influência do manifesto antropofágico.

A canção "O samba não pode esperar", que diz "o dia a dia do povo tem sido/ um calvário, um sufoco/ você é como erva daninha , mata aos poucos, tira o ar" tem endereço certo, né?

Muita gente me diz: "Não aguento mais falar desse assunto". Mas ainda não caiu a ficha de tanta gente, né? O fascismo... Acho que como "Apesar de você", "Divino maravilhoso", "Cálice", "O bêbado e a equilibrista"... Fui educada com essas músicas, que permanecem. Cantei o "Samba não pode esperar" em Portugal e bateram palmas, estão celebrando a redemocratização do Brasil. A gente tem que cantar muito essas músicas. Vencemos uma parte, mas tudo é incerto. Temos eleições daqui a dois anos, não vamos poder descansar.

Em "Mulheres do mundo" você fala como a gente contribuiu para a melhora do mundo e diz que mulheres proclamaram a Independência do Brasil nos anos 2000. Pode explicar o que quis dizer?

Quando comecei a me aproximar do grupo de Lula para mostrar que estava preocupada e queria apoiar a campanha mais diretamente, dizer que é preciso pensar política públicas para as mulheres, encontrei militância de mulheres em todas as áreas. Não conhecia Janja, mas conhecia Lula de anos de trabalho na área social, sempre estive em Brasília durante os governos dele. No de Fernando Henrique Cardoso, participei do Comunidade Solidária com Dona Ruth.

Percebo que as mulheres vinham, desde 2018, com o movimento Ele Não, mostrando a cara contra o fascismo, dizendo que queríamos um governo democrático. Foi uma briga direta das mulheres no Brasil. Elas são protagonistas dessa transformação.

As mulheres estão acostumadas a lutar. Se mostram mais capazes de vencer dificuldades e não largam a mão uma da outra, da família, nem deixam de cuidar dos filhos. Aí, quando vou estudar a Independência do Brasil, aparecem Maria Quitéria, Joana Angélica , Clara Camarão, Maria Felipa. Estamos no momento de dar protagonismo às mulheres, aos negros, aos indígenas. Sempre senti falta de que novos gêneros da MPB trouxesse as lutas de seu tempo.

Estamos em 2022 e discutindo o que a Cultura tem passado, como ela é vista. E é mais ou menos como a mulher. Não há apoio para as que necessitam para trabalhar, não há creches. Nosso desenvolvimento profissional passa muito pela falta de infraestrutura que o Brasil dá para esses dois assuntos.

Você resgata Carmen Miranda, fazendo uma referência a ela na capa do disco...

A vida inteira falo desses artistas que me fizeram chegar onde cheguei. Trouxe o tema baiana nesse disco como referência a Carmen e o ícone tropicalista que ela foi. Também sou filha de portugueses como ela, mas a conheci como pilar do samba, da brasilidade, da alegria.

Você se cobra essa alegria constante? Força uma barra para parecer feliz ou respeita quando está triste? Alguma vez já acordou de mau humor?

Passo a vida defendendo a alegria (risos). Os problemas são contundentes, mas acho que é mais difícil encontrar alegria. Há preconceito contra a alegria, contra a felicidade. A gente assume fora de casa o que é dentro de casa. Sempre fui a que não desiste, a que encontra caminho, a que diz "vamos resolver".

Tenho consciência da dureza do mundo, do sofrimento, e é isso que me faz querer ser luz para quem não enxerga a alegria. Acredito no ser humano. Sou uma mulher de fé e acho a arte o fruto mais espetacular do ser humano. O que produzimos culturalmente é o que resta de nós. Nossa comida, pintura, arquitetura... É o que fica da gente.

Sou introspectiva. Apegada às minhas raízes familiares, à minha cidade, ao meus país. De resto, sou soltinha, sempre fui livre. Sou feliz independentemente da infelicidade da injustiça social que me indigna todos os dias. Sou politizada desde criança. É impossível viver feliz num mundo encantado. Sou mulher nordestina, há preconceitos que se somam. Mas sou branca, privilegiada. Quanod cheguei lá disseram que era por causa da minha beleza. Não posso reclamar, ela me ajudou, mas também sei de tudo o que ela dificultou.

Fui vencendo. Com 15 anos li Simone de Bauvoir, cadernos de Pagu, Clarice Lispector. Minha mãe é arretada, minhas avós, tenho referências maravilhosas.

E sempre curti muito fossa, nem como eu virei rainha do axé (risos). O meu axé vem com carga política, confronta, não se conforma. Levaram 30 anos para entender o axé. O ritmo camufla, mas são músicas que falam contra o racismo, canções tristes, em tom menor. Como o samba brasileiro, que está impregnado de mensagens. A gente consegue compreender um blues triste, mas não consegue ver o samba e a música da Bahia como a canção de revolta que é.

Em 2020, você me disse que continuava apaixonada pela Malu. E agora, após uma pandemia e 10 anos de relacionamento?

A gente saiu da pandemia mais apaixonada ainda. Acho que tem a ver com compromisso. A gente vai amando mais quem se compromete com a gente. Compartilhamos sonhos parecidos para o país. A luta pela democracia, pelas artes, contra a LGBTfobia nos aproximou. É muito bom ter uma mulher corajosa, parceira e cidadã ao meu lado. Temos uma trajetória e uma visão de mundo parecida, apesar de ela ser mais jovem do que eu.

O que achou de Ludmilla, cantora lésbica, fazer show no Catar, país que não respeita direitos humanos e persegue a população LGBTQIA+?

É um gesto que pode ser lido coo um ato afirmativo, como um protesto. Ela é uma artista LGBTQIA+, negra, do funk. É o próprio ícone da resistência, a própria luta contra a LGBTfobia, o racismo e a discriminação.

Estou vendo aqui no Zoom... No seu nome de identificação está: Daniela Verçosa. Você incorporou o sobrenome da Malu no seu nome?

Peguei (risos) e tenho muito orgulho. A gente fez uma anarquia. Peguei o nome da mãe dela, ela, o da minha mãe e jogamos nos filhos. Falamos para os pais da gente que estamos valorizando as mulheres.

Sua energia não arrefece. É assim também em relação à libido?

Libido tem tudo a ver com a perspectiva de imaginário. Tesão tem a ver com admiração em qualquer idade. Não sinto diminuição nenhuma. Já perguntaram tantas coisas íntimas desde que eu e Malu nos casamos... Respondo: "Vocês não tem noção, né?". As mulheres sempre foram privilegiadas em relação às suas possibilidades sexuais de prazer. Sempre achei que os homens tinham inveja das mulheres. Alguns já verbalizaram isso. Caetano diz isso numa obra dele.

Uma vez eu disse a ele: "Não sei porque os homens têm tanta segurança, falam de serem mais sexuais ou aproveitarem mais a sua vida sexual do que as mulheres se a gente tem muito mais orgasmos, se a gente vive muito mais tempo". Ele disse que eu tinha toda razão. E disse numa música que tinha inveja da nossa longevidade e dos orgasmos múltiplos.

Sempre tive uma vida sexual maravilhosa e continuo a ter. Eu e Malu queríamos ter mais tempo para namorar. Sempre falamos em ter uma segunda lua de mel num lugar paradisíaco. No momento em que a teve teve que parar de trabalhar, acabou tendo que trabalhar por outras causas, porque não dava para ficar quieto vendo a destruição pela qual o Brasil estava passando.

Você sempre falou de sexualidade feminina de maneira tranquila. Acha que ainda é um tabu debater sobre o assunto?

Nas minhas músicas, sempre estou falando de prazer. Em "Macunaíma", falo "grita e goza". Meus filhos até reclamam que falo disso com muita facilidade. "Minha mãe!", dizem. Respondo: "Ah, que coisa chata, que polícia em volta de mim" (risos).

Sexo é algo de que precisamos falar, faz parte da nossa saúde psicológica e emocional, da nossa alegria de viver. Não tem como pensar na vida sem sexo. É algo muito importante para mim, sempre foi. A energia sexual é a mesma que a criativa, não dá para dissociar.

Sou essa mulher animada no palco porque sou uma mulher sexualmente feliz. Tenho muito prazer. Acho que ainda é tabu falar sobre esse assunto, é algo impregnado na cabeça das mulheres. Se a gente fala de sexo, somos descomportadas. Então, sou a rainha má (risos).

A grande questão da luta feminista é pelo direito ao prazer. No final das contas, isso nos é negado. Nunca deixei que essa negação chegasse. Imagine agora! Quanto mais livre, altiva, dona do meu nariz, mais dona do meu corpo. E fiz várias músicas de amor para Malu...

Vai gravar um disco dedicado a ela?

Guardei as canções porque digo que ela está muito mal acostumada (risos). Em 2023, a gente vai comemorar 10 anos de casadas, quem sabe? Para eu fazer música assim significa que ela está me inspirando muito.

Eu só fazia para os meus exs quando a gente estava se separando, era a única hora intensa. Eu achava que as obras ficavam interessantes. Com ela, não. É uma relação com tensão, confronto, descobertas, não é nada tranquila (risos). Digo "me deseje, lute por mim, mostra que quer, faça questão". Vê o que eu passo, Maria! (risos).

Precisamos escolher se queremos paz ou tensão na relação, não é? Pois eu não abro mão da tensão. Mas até que a gente esta mais light (risos).

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