Cultura
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Por Gustavo Cunha — Rio de Janeiro

Autor de algumas das mais populares marchinhas de carnaval do país, João Roberto Kelly acaba de lançar "Eu sou gay", canção em exaltação à comunidade LGBTQIAP+. O compositor de 84 anos ressalta que a letra é uma celebração a "quem faz a folia acontecer", como diz. De uns anos pra cá, parte da obra do carioca — como os clássicos atemporais "Cabeleira do Zezé", "Maria Sapatão" e "Mulata bossa nova" — foi banida do repertório de alguns blocos por ser considerada politicamente incorreta.

— Os gays são os verdadeiros donos do carnaval. Vejo o gay fazendo o carnaval, e todo mundo achando graça do gay... Não acho graça nenhuma. Pelo contrário: acho que eles merecem um elogio, uma homenagem. E sem piada! — diz Kelly. — Veja bem, desde o mais humilde ferreiro que está pregando uma alegoria numa escola de samba menor até os grandes organizadores de bailes famosos, a folia é feita por eles, essencialmente. Não adianta tapar o sol com a peneira.

Ele considera injustas as críticas que recebe, vez ou outra, pelo fato de "Cabeleira do Zezé" soar homofóbica. Diz a música: "Olha a cabeleira do Zezé... Será que ele é? Será que ele é?". Nas ruas, parte dos foliões costuma complementar a sugestiva questão com a seguinte palavra: "Bicha".

— Digo sempre: essa bicha não é minha (risos). Não sei quem foi que inventou de acrescentar isso na letra, sem minha autorização. Fico muito chateado. É algo que me aborrece — afirma ele. — "Cabeleira do Zezé" não foi feita com a intenção de gozar dos gays. De homofóbica, não tem nada. A música foi criada em 1964 como uma brincadeira para um garçom cabeludo de um bar no Leme que eu frequentava muito.

Composta em parceria com o produtor Lucio Mariano — e gravada por Carlinhos Madame —, "Eu sou gay" embalará, neste ano, o desfile do bloco Confraria do Peru Sadio, com cortejo marcado para a segunda-feira de carnaval, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

— Essa é uma música importante para mim. Não sou gay. Tive até fama de pegador no passado (risos). Mas sempre fui muito amigo de travestis e "musiquei" o primeiro show de travestis no Brasil, o espetáculo "Les girls" (na década de 1960), que lançou Rogéria, Divina Valéria, Jane Di Castro, Cláudia Celeste e outras mais... — rememora. — Sempre me perguntam se tive caso com elas. Não tive. Se quisesse ter, teria, sim.

Sem ofensas

João Roberto Kelly acredita que as letras do passado não devem ser julgadas sob a lente do presente. Hoje, claro, os tempos são outros, ele reconhece. O autor faz questão de sublinhar que sempre se guiou pelo bom humor, com a atenção de não provocar ofensas.

Em 1981, quando o apresentador Chacrinha o telefonou para pedir uma música sobre "mulheres lésbicas", nas palavras do próprio, o compositor recuou. "Poxa, acho melhor não fazer essa", respondeu, de pronto. Depois de tanta insistência, surgiu "Maria Sapatão", assim como "Bota a camisinha", outra encomenda de Chacrinha.

— Acompanhei todas as mudanças de comportamento e de liberação sexual ao longo de tantos carnavais. Minhas músicas são crônicas de tudo isso, coisas que eu não tive medo de falar — frisa ele. — Na época em que essas letras foram feitas, a cabeça era outra. Isso era tido como uma grande brincadeira. E é isso que penso hoje. O carnaval é isto: homem se veste de mulher; mulher se veste de homem; outra pessoa se fantasia de super-homem... É um "faz de conta"! Ninguém estava preocupado em achar que o "índio quer apito" era uma ofensa (em 1961, quando a marchinha foi lançada). Acharia justo o patrulhamento se a música fosse lançada hoje. Mas naquele tempo não tinha isso. E as músicas ficaram consolidadas. Ninguém canta com a intenção de ofender alguém. Aliás, nenhuma de minhas marchinhas foi feita com essa intenção.

'Eu sou gay'

A seguir, confira a letra da nova marchinha de carnaval "Eu sou gay":

Eu sou gay
O mundo é meu
Você não é?
Azar o seu!

Eu sou gay
O mundo é meu
Você não é?
Azar o seu!

Eu sou fantasia
Alegria sem igual
Se não fossem os gays
não existia o carnaval

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