Cultura
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Por Gustavo Cunha — Rio de Janeiro

Dezenas de adolescentes fazem fila para entrar no teatro. Todos querem pegar um autógrafo com o escritor Igor Pires antes de assistir ao espetáculo inspirado no livro “Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente”, fenômeno editorial com mais 500 mil exemplares vendidos. Em janeiro, no fim de semana de estreia da peça — que segue em cartaz até o dia 26 —, a garotada lotou os 130 assentos do Teatro Ipanema, na Zona Sul carioca. O fato é real, atual... e raro.

Adolescentes se tornaram uma espécie em extinção na cena teatral nacional. Para se ter uma ideia, entre as mais de 50 montagens profissionais que aportaram no Rio de Janeiro desde o início do ano, apenas o espetáculo citado acima estabelece algum tipo de conexão com o público juvenil. Em São Paulo, o cenário não é diferente. E a perspectiva, até o próximo semestre, não traz mudanças. Faltam opções à vista para essa galera que ajuda, por outro lado, a ocupar cinemas e a aquecer a indústria de games e do universo literário.

— Tem que haver uma maneira de mostrar que nem tudo é só dancinha de Instagram ou TikTok— brinca Carlos Jardim, diretor de “Textos cruéis demais”, sobre dois rapazes às voltas com o término de um namoro.

Pedro (Edmundo Vitor) e Fábio (Felipe Barreto) em cena em Textos Cruéis Demais. — Foto: Divulgação
Pedro (Edmundo Vitor) e Fábio (Felipe Barreto) em cena em Textos Cruéis Demais. — Foto: Divulgação

O cenário já foi mais robusto. Entre a década de 1990 e os anos 2000, uma explosão de peças para jovens fez frente a espetáculos adultos e conquistou o horário nobre de teatros no país, abordando temas como sexo, virgindade, aborto, drogas... O movimento — que ganhou força com o sucesso de “Confissões de adolescente”, em 1993 — atiçou produtores da TV Globo, inclusive, a criar “Malhação”, novela teen que ficou no ar até 2020.

‘Síndrome de Peter Pan’

O que mudou de três décadas para cá? Autora, produtora e uma das atrizes do elenco original de “Confissões...” (ao lado de Ingrid Guimarães, Carol Machado e Patrícia Perrone), Maria Mariana enxerga a adolescência hoje como uma substância aguada, sem consistência. Recentemente, ela até rascunhou um projeto para voltar aos palcos, mas teve dificuldade em atualizar a trama para o mundo instável da geração Z.

— Cadê o adolescente de hoje? Sinto que essa fase da vida se diluiu nas idades, já que todos querem ser adolescentes. Há uma síndrome de Peter Pan invadindo a consciência de todos. E aí não dá mais para reconhecer esse período no tempo. Isso sem falar que todos os assuntos estão na internet. Como então quebrar tabus e escandalizar? — pergunta ela, que escreveu o texto de “Confissões...” aos 18 anos, estimulada pelo pai, o dramaturgo Domingos Oliveira.

"Confissões de adolescente":  Carol Machado, Maria Mariana, Ingrid Guimarães e Patrícia Perrone, no elenco original, em 1993 — Foto: Guilherme Rozenbaum/Agência O Globo
"Confissões de adolescente": Carol Machado, Maria Mariana, Ingrid Guimarães e Patrícia Perrone, no elenco original, em 1993 — Foto: Guilherme Rozenbaum/Agência O Globo

A história, baseada num diário, perdurou por 20 anos nos tablados. E mais: inspirou filme e série e trouxe à cena artistas como Deborah Secco, Maria Ribeiro, Carolina Dieckmann e Sophie Charlotte, que passaram pelo elenco.

— A peça fez sucesso porque era um local de encontro, mais do que só um espetáculo. Aquilo ali era a “resenha” dos jovens da minha época — acrescenta Maria Mariana.

Que o diga o produtor, diretor e ator Léo Fuchs, que assistiu ao espetáculo 49 vezes. Ele gostou tanto que decidiu, à época, fazer teatro: ingressou no mesmo curso de Maria Mariana, com a Companhia Atores de Laura; tornou-se amigo da turma; e produziu, nos anos 2000, obras como “Os melhores anos de nossas vidas” e “Beijos de verão”, esta última por quatro anos ininterruptos em cartaz — com Léo, Fernanda Souza, Giselle Policarpo e Bruno Ferrari no elenco. Para atrair público, os atores em início de carreira, já conhecidos por trabalhos na TV, peregrinavam por escolas e prometiam autógrafos e fotografias a quem fosse ao teatro. A peça durava uma hora, e a equipe se programava para ficar 1h30 com a plateia após a sessão.

— As estratégias hoje seriam quais? Fazer lives? Sortear ingressos nos stories do Instagram? — questiona Léo, ao pensar na possibilidade de uma remontagem. — Estaria aberto a chamar para o elenco youtubers, gamers... A geração de hoje não para de se reinventar.

Receio de produtores

Produtores ouvidos pelo GLOBO argumentam que realizar algo voltado para uma plateia restrita traz riscos, mais do que nunca. Charles Möeller e Claudio Botelho postergaram, não à toa, a reestreia de “O despertar da primavera”, sucesso entre jovens em 2009 — e que teve uma montagem curta em 2019 — para o fim deste ano. Até lá, a dupla apostará em títulos destinados a públicos mais abrangentes, como “Mamma mia!”, no Teatro Multiplan, na Barra.

— Espetáculos jovens exigem um pensamento de produção específico para atrair plateias. São pessoas que dependem do dinheiro dos pais — explica Möeller, ressaltando que o setor ainda se recupera de uma crise antiga, reforçada pela pandemia.

"Beijos de verão", peça que fez sucesso nos anos 2000: da esquerda para a direita, Léo Fuchs, Giselle Policarpo, Bruno Ferrari e Fernanda Souza — Foto: Verônica Pontes/Divulgação
"Beijos de verão", peça que fez sucesso nos anos 2000: da esquerda para a direita, Léo Fuchs, Giselle Policarpo, Bruno Ferrari e Fernanda Souza — Foto: Verônica Pontes/Divulgação

Nome por trás de peças juvenis ao longo de 30 anos, Francis Mayer tem estudado o comportamento das novas gerações. É um quebra-cabeças, diz ele, responsável por sensações na virada do milênio, como “Os meninos da Rua Paulo”, estrelado por jovens galãs como Theo Becker e Bruno Gagliasso; “O namoro”, com Natália Lage; “Teen-lover”, com Mohammed Harfouch; “Nó de gravata”, com Luana Piovani; “Se você me ama”, com Danielle Winits; e tantos outros exemplos que lançaram artistas com carreiras atualmente consolidadas.

— Meu olhar está voltado para entender quem é o nome de apelo hoje. Ele não está mais na novela, na série ou na TV. Está diluído ali na rede social ou em alguma ferramenta digital — diz Mayer. — Basta uma peça retornar e dar certo, e aí todo mundo vem junto. Mas sinto medo. E muita gente também cultiva esse receio. De certa forma, a gente nunca sabe o que o público quer ver. É preciso arriscar sempre, e pensando que teatro, além de reflexão, tem que ser sinônimo de diversão.

"O despertar da primavera": montagem de Charles Möeller e Claudio Botelho foi um marco no teatro adolescente em 2009 — Foto: Léo Aversa
"O despertar da primavera": montagem de Charles Möeller e Claudio Botelho foi um marco no teatro adolescente em 2009 — Foto: Léo Aversa

Mayer ressalta que, às vezes, o jovem vai ao teatro e tem uma experiência frustrante:

— Às vezes, vejo amigos fazendo projetos muito herméticos, e um espectador indo pela primeira vez ao teatro fica desestimulado. Temos que servir entretenimento, como faz o cinema, para seduzir as pessoas e formar uma nova geração de plateias. É uma captura.

Autora de livros bem-sucedidos entre o público jovem, Thalita Rebouças se empenha nesta missão: quer fazer o enteado de 17 anos deixar de dizer que “odeia” teatro. Após ver dois de seus romances adaptados para os palcos (“Fala sério, gente!” e “Tudo por um popstar”), a autora pretende levar aos tablados sua primeira dramaturgia inédita. O texto, acerca da relação entre pais e filhos, está sendo escrito totalmente do zero, sem o apoio de sucessos já consagrados no universo cinematográfico ou literário. É um desafio, em se tratando de uma seara marcada pela palavra “chamariz”.

— É o adolescente que vai ser o espectador de amanhã. Nossa tarefa principal é criar espetáculos com os quais ele se identifique. Se não há isso, ferrou! — frisa Thalita. — Bateu o bichinho do teatro em mim. E tenho pirado nessa ideia. Por que não criar uma linguagem 360°, que envolva o TikTok, o Instagram? Vamos ver no que isso dá. Estou botando a cabeça para trabalhar, para abolir essa implicância que o jovem tem.

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