Quem foi Candonga, figura lendária do carnaval do Rio e pivô da confusão que envolveu Adriana Ancelmo na Sapucaí

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Guardião oficial das chaves da cidade, que a cada carnaval são entregues ao Rei Momo, e encarregado da apresentação das escolas de samba no Sambódromo, Candonga era funcionário da Riotur. Uma espécie de comissão de frente antes da comissão de frente, era ele quem costumava abrir caminho na passarela para as escolas e também orientar a entrada das baterias no recuo. Ritmistas em seus lugares, Candonga mandava distribuir água para os músicos, e também seu famoso cravo escarlate - tudo isso sempre com uma toalha nas mãos, dizia ele, para afugentar curiosos e jornalistas.

Reza a lenda que, a cada carnaval, Candonga pegava sua caravan de cor laranja, modelo de 1980 (o único veículo autorizado pela prefeitura do Rio a estacionar dentro da Sapucaí), e ia para o Sambódromo com litros de água e também do Cravo Escarlate, bebida alcoólica, cuja receita era secreta e, segundo Cadonga, tinha poderes afrodisíacos. A receita do cravinho, como a bebida é chamada nos bastidores da Sapucaí, continua sendo mantida em segredo pela família de Candonga.

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Sabe-se que o cravinho foi criado pelo bisavô de Candonga, e leva 16 ervas, vindas da Bahia, incluindo uma conhecida como "nó de cachorro". Em entrevista ao Jornal Extra, em 2013, Sérgio de Jesus, um dos filhos de Candonga, contou que o prefeito Eduardo Paes ofereceu o cravinho em uma recepção às autoridades do Comitê Olímpico Internacional e que Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva experimentaram o drinque.

— A Dilma (Rousseff) adorou, mas engasgou, não conseguiu beber de uma vez. Já o Lula gostou tanto que repetiu e pediu uma garrafa. Mas nós não demos, porque a tradição é vir beber aqui no carro — disse Sérgio de Jesus.

Se o cravinho é afrodisíaco ou não, só a ciência sabe. Mas talvez ele seja o segredo da energia de Candonga, que teve 47 filhos e 80 netos.

De tão folclórico, Candonga chegou a ser ele mesmo enredo da Inocentes de Belford Roxo, em 1990, quando a escola foi campeã. Em 2020, ano de seu centenário, uma exposição em sua homenagem foi realizada na arquibancada do setor 9, o mesmo onde fica o recuo da bateria, que passou a ser chamado de "Espaço Candonga".

A homenagem, aliás, levou três anos para entrar em vigor. Começou a tramitar na Câmara Municipal do Rio em 2016, e só foi aprovada em março de 2019 depois que os vereadores derrubaram um veto de Marcelo Crivella, então prefeito do Rio e pouco afeito à folia de Momo.

Candonga morreu em 1997, aos 77 anos, em consequência de um câncer no estômago, mas sua água e seu cravinho continuam chegando aos ritmistas das escolas de samba do Rio.