Cultura
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Por — Austin, Texas

Se você é fã de Elvis Presley, lamenta absurdamente sua morte e tem uma fixação tão intensa que gostaria que houvesse uma música dele com seu nome (1977!), seus problemas acabaram. Digamos que você se chame “André Miranda” e seja um jornalista carioca. A inteligência artificial faz o resto, e eis um trecho — bastante exagerado nos elogios — da criação do ChatGPT: “In the land of samba and sun/ Andre Miranda’s always on the run/ From the favelas to the beach/ He’s the journalist that everyone seeks.” (Ou, em tradução beeeem livre e sem estilo: “Na terra do samba e do sol/ André Miranda está sempre fugindo/ Das favelas para a praia/ Ele é o jornalista que todo mundo procura.”)

E a tecnologia não para por aí. Elvis pode voltar da morte e emprestar sua voz para comerciais de televisão. Pode cantar funk, escrever um pagode e até vencer uma ainda imaginária categoria do Grammy chamada “Melhor canção feita por inteligência artificial”.

Haveria poucas dúvidas sobre a qualidade do que este Elvis artificial poderia criar. No entanto, há muitas perguntas sobre ética e direito autoral envolvendo as possibilidades de uso da inteligência artificial (IA) na música, como mostrou o debate “Elvis está de volta dos mortos?”, realizado no South by Southwest, festival de inovação que acontece em Austin, Texas, até amanhã.

No palco, estiveram o vice-presidente de Políticas Públicas e Relações Governamentais da Warner, Mark Baker; a vice-presidente de Inteligência Musical do Soundcloud, Hazel Savage; e o head de Áudio e Música da Fiverr (empresa que conecta freelancers), Adam Fine. Todos foram unânimes em afirmar que as ferramentas de IA já são amplamente utilizadas na produção musical, e o fã é que nem sempre se dá conta.

— Eu também sou músico, e gosto de beatbox nas minhas produções, mas não sou entusiasta em ficar programando batidas no computador. Então uso IA para fazer os beatbox de que preciso — disse Fine. — A inteligência artificial aumenta a capacidade de as pessoas criarem. Será algo ilimitado, e vai ser bastante interessante acompanhar esse progresso.

De outro mundo

Hazel Savage já vive esse avanço há mais tempo. Em 2018, ela lançou a Musiio, startup que utilizava IA para ajudar amantes de música e profissionais com necessidade de escolher alguma obra específica a fazer playlists. A motivação foi simples: enquanto um ser humano que estuda, trabalha, come e dorme tem o tempo de ouvir música limitado pelas tarefas diárias de todo ser humano, o Musiio coloca robôs para ouvir músicas e dar match das cancões a partir do gosto do usuário. Assim, em segundos alguém pode ter à sua disposição uma playlist de, por exemplo, sambas de todo o mundo cantados em inglês com o estilo leve da voz do Cartola.

O borogodó do Musiio chamou atenção da indústria, tanto que a companhia foi comprada pela gigante Soundcloud. E Savage foi junto.

— Há muitos anos, trabalhei no departamento de música clássica de uma loja. A gente recebia uma dezena de discos novos por semana e ouvia todos. Hoje são lançados milhares de discos novos por dia. É impossível acompanhar tudo, ninguém tem tempo — disse ela. — Outro uso para essa tecnologia é em processos de plágio, para dizer o quanto uma música é igual ou não à outra.

Outra utilização de IA citada por Savage foi o de um software que recria a voz de um artista. No caso de alguém que fica impedido de cantar permanentemente por questões médicas, seria o caminho para preservar sua carreira e garantir uma remuneração.

‘Será mais barato contratar a voz de um artista do que ele próprio’

Mais uma aplicação da reprodução de voz por IA está na relação com os fãs. A tecnologia, aliada à elaboração de conversas por IA, pode fazer com que artistas se “comuniquem” concomitantemente com centenas, milhares e até milhões de admiradores no mundo. Cada um pode, até, ter uma composição personalizada com o seu nome, feita na hora.

— É uma decisão ética que teremos que tomar. Vamos permitir que uma voz esteja em mais de um lugar ao mesmo tempo? — questionou Adam Fine. — No futuro, imagino que o preço de contratar a voz de um artista será mais barato do que contratar o próprio artista.

Representante de uma grande gravadora que atua junto a autoridades para pensar as arapucas jurídicas envolvidas no debate sobre IA, Mark Baker defendeu que haja regulação e que os direitos autorais dos criadores sejam respeitados.

— Temos bem claro que, para usar nosso conteúdo de qualquer forma, é necessária uma licença — disse Baker. — Nossos artistas passam anos investindo em criar uma voz e um estilo que os fazem únicos. E hoje você pode pedir para uma ferramenta de IA criar uma música da Aretha Franklin. Não é justo que o detentor do direito não diga como esse conteúdo é utilizado e que ele seja monetizado pelo uso.

Adam Fine, por sua vez, ponderou que o próprio ato de dar o comando para se criar a inteligência artificial — o que, no meio de tecnologia, é chamado de prompt — deve ter seu direito protegido e, por que não?, ser considerado uma forma de arte. Ventilou-se, até, um futuro em que o Grammy dedique uma categoria, mais uma de suas quase cem, para criações em IA.

— É preciso desenvolver habilidades para fazer um prompt. Não é simples, tem muita criatividade envolvida no processo — disse Fine.

Baker replicou:

— Códigos de computador têm regras de direito autoral diferentes da música. A questão é você medir o quanto é criação original e o quanto não é. Música é arte, é expressão humana. Uma escultura vem da inspiração de um artista, que considera tamanho, material, formato... São infinitas escolhas relacionadas ao processo artístico.

No fim do debate, a única certeza de todos é que Elvis Presley não vai voltar dos mortos para lançar novas músicas. Mas, ainda assim, vai lançar novas músicas.

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