Cultura
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Por Maria Fortuna — Rio de Janeiro

Quando Fábio Porchat disse à então companheira que não queria ter filhos, os dois desabaram numa crise de choro. A notícia fez a mãe do humorista questionar a própria conduta materna. E amigos lamentarem sob o velho argumento "mas daria um ótimo pai". Mais forte que as reações, no entanto, era a voz interna que cochichava em seu ouvido "ainda bem que não tenho filho" toda vez que chegava em casa.

Numa sociedade em que a mulher luta para não ser julgada sempre que decide não procriar, a cobrança é infinitamente menor sobre o homem. Mas eles não estão livres dela. E Porchat precisou de coragem não só para bancar sua escolha, como para lidar com a principal consequência dela: o fim de seu casamento, anunciado em janeiro, após 8 anos de relacionamento.

Enquanto ainda elabora sobre a nova fase, ele se joga no trabalho. Nesta terça-feira (14), lança novos episódios de "Que história é essa, Porchat?", no GNT. Pela primeira vez, apresentará o programa de estreia ao vivo. Também segue com a temporada paulista da peça "Histórias do Porchat", no Teatro das Artes. Os (800) ingressos (diários) estão esgotados até abril e, por causa dessa enorme procura, a temporada foi estendida até o final de julho.

Também em SP, no mês que vem, ele roda o filme "Evidências". É uma comédia romântica inspirada no hit de Chitãozinho e Xororó, idealizada e dirigida por Pedro Antonio, e escrita por Porchat junto com parceiros. O humorista também é o protagonista: um homem preso ao passado, incapaz de seguir a vida adiante porque, sempre que ouve a canção, é tomado por lembranças.

O humorista em cena de 'Histórias do Porchat' — Foto: Divulgação
O humorista em cena de 'Histórias do Porchat' — Foto: Divulgação

Em dezembro, há outro longa pela frente, "Amigo é pra essas coisas", sobre amizade. Antes disso, estreia "Só como e bebo, por acaso trabalho", talk-show que mistura papo e gastronomia, no canal português RTP. Fafá de Belém e Yamandu Costa são alguns nomes que participaram. Mas a maioria dos convidados são portugueses. Apesar de o programa ainda nem ter estreado, o que acontece ainda neste semestre, já há uma segunda temporada confirmada. Será rodada em agosto.

Fabio Porchat e a decisão de não ser pai

O ano em São Paulo - cidade onde morou por 19 anos, tem família e amigos de infância - será bom para Porchat aguardar sua nova casa, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, ficar pronta.

- Não tenho o menor tesão em escolher torneira. Tudo custou tão caro e está demorando tanto que vou entrar lá triste... O arquiteto destruiu meu sonho de casa - diz ele, às gargalhadas, do quarto do hotel onde conversou com O GLOBO por chamada de vídeo.

Como foi o processo de entender, dentro de você, que não queria mesmo ter filho?

Difícil. Fiquei oito anos com Nataly (Mega, produtora). Desde o início, ela falou: "Se não quiser ter filho, fale agora que a gente não fica mais junto". Eu falava "vamos ter, vamos ter". Até que a coisa começou a afunilar, ela fez 35 anos... Não posso ter filho por vias naturais (por causa da baixa contagem de esperma). Congelamos um embrião e, quando foi ficando perto de acontecer, eu só pensava: "Rapaz, não sei se quero isso na minha vida".

Bateu medo da responsabilidade?

Filho é irreversível, é uma coisa muito séria. Conversando com um amigo eu disse: "Vou ter filho". Ele respondeu: "Mas você não quer...". E eu: Mas vou ter que ter": E ele: Como vai ter que ter? Se não quer, não tenha". Fiquei com isso martelando na minha cabeça sem falar com Nataly. Entendo que foi um pouco injusto, mas eu precisava entender isso na minha cabeça primeiro.

Comecei a fazer terapia para entender se era só medo, que todo mundo tem, né? Aí, lá para novembro, dezembro, a Nataly disse: "Você tá esquisito, estranho". Eu respondi: "Não quero ter filho". Aí, tivemos uma crise de choro. E chegamos nesse impasse.

Resolveram, então, se separar. Como foi?

Separar é ruim sempre. Gostando da pessoa é ainda esquisito. Mas eu pensava que, se não queria ter filhos, precisava fazer isso rápido porque... Ela mesma falou: “Até eu encontrar alguém de quem eu goste...”. Eu poderia ter pedido a Nataly mais dois anos, mas pensava: “E se no final desses dois anos eu continuasse não querendo? Terei tirado dois anos preciosos de uma mulher que eu amo”. Então, é esse lugar de seguir a vida, né?

Como foi a reação dos mais íntimos? Se sentiu cobrado?

Todo mundo sempre cobra, porque é meio a ordem natural da coisas. Muita gente disse: “Mas você seria um pai ótimo”. Não tenho dúvida, mas não tenho interesse. E aí, falavam: “Você diz isso agora, já já vai querer”. Eu respondia: "Vocês não estão entendendo: eu não quero".

Também teve gente que veio dizer que não ter tido filho foi a melhor decisão que já teve, outros que estavam passando pela mesma situação de o parceiro querer e ela não querer. Mas não tem comparação, a pressão sobre o homem é bem menor. E existe a coisa chata da natureza. Se eu quiser ter filho com 88 anos, posso. Então, é uma decisão que impacta mais a mulher.

Como seus pais reagiram? Ficaram tristes?

Minha mãe ficou sentidíssima, disse: “Será que não fui uma boa mãe para você?”, ela questionou. Eu disse: “Mas já tem dois netos, se não tivesse, até entenderia..”. As pessoas ficaram tristes, gostam muito da Nataly, todo mundo ligou para ela...

Muita gente que não tem tempo para cuidar nem deveria ter tido filho... Sem falar na enorme quantidade de homens que não participam e tiram onda de pai no Instagram...

Muita gente acaba tendo filho porque é assim que tem que ser. Por incrível que pareça, muita gente me falou: “Para o homem é mais tranquilo, é um problema mais da mulher, quem vai cuidar é ela, e você vai ter babá”. É que se eu fosse pai, ia querer estar muito junto. Vejo as pessoas tento cada vez menos filho e mais tarde. Filho muda a vida, a relação. Não quero minha vida mudando. Tem muita coisa egoísta nessa decisão de não querer dividir meu tempo, a responsabilidade de ter outra vida mais importante que a minha. Mas o ponto crucial é eu chegar em casa e pensar: ainda bem que não tenho filho.

Não faz o menor sentido ter filho se você se sente aliviado dessa maneira sempre que pensa no assunto...

Tenho dois sobrinhos, um afilhado, a quem sou muito apegado. Ele fica comigo, dorme lá em casa, a gente só come porcaria, dorme tarde, é uma delícia. É quando me sinto mais feliz. Mas quando o devolvo para a minha irmã... que sonho!

Acredita que essa sua decisão é para a vida toda?

Hoje, sacramento que é para a vida toda, me parece bastante definitivo. Talvez com 88... (risos)

Ficou tudo bem entre você e Nataly?

Sim, temos até trabalho juntos. "Evidências" é da produtora dela.

Logo que vocês se separaram surgiu boato de que estaria namorando... Te incomodou?

O que aconteceu com aquelas colunas sociais que diziam “fulano e beltrano estão se conhecendo”? Era tão bom isso (risos). Mas entendo, é vida de solteiro, a gente conhece pessoas, se aproxima. Mas, sim, estou solteiro.

O que há de especial na nova temporada do "Que história é essa, Porchat?", que estreia nesta terça (14)?

Estreei o programa em 2019 do jeito que eu queria. Em 2020, veio a pandemia e ele teve que ser virtual. Depois, sem plateia. Em seguida, com o público de máscara e sem que eu pudesse me aproximar. Agora, é como se fosse a segunda temporada fazendo como sempre sonhei: me embrenhando no meio da plateia. Fizemos programas especiais, como o especial de 60 anos da Xuxa, com a Sasha, Juno, Carol Dieckmann, além de um especial LGBTQIA+.

Quando estreou "Histórias do Porchat", disse que resolveu fazer um espetáculo "sem polêmica e sem política, para as pessoas rirem um pouco". Isso serve para você também relaxar um pouco, já que mergulhou tanto no assunto nos últimos anos?

É um misto... Quando resolvi fazer esse show pós-pandemia, pensei que era o momento de as pessoas voltarem a rir juntas, não importa se são de direita ou de esquerda, se a família está brigada. E o que mais ouvi foi: "Fazia tempo que eu não ria assim". As pessoas não riam há tempos.

Não preciso falar de política em tudo que faço. E acho que as pessoas estavam querendo voltar ao teatro de maneira mais leve. O cinema está enfrentando uma crise, mas o teatro não. Porque oferece aquilo que, trancado em casa, a gente não tem. Cinema é apagar a luz, fazer uma pipoca e ver o filme em casa. Teatro, não. Voltou com tudo, as peças estão lotadas.

Você ficou dez dias na África no início do ano. Incluiu alguma história dessa viagem na peça?

A peça está pronta. Como é stand-up, não teve ensaio. Estreei e fui ajustando. Quando me apresentei no Rio, em junho, a peça já estava definitiva. É aquela coisa: ninguém vira para Shakespeare e diz: "Mas a Julieta morreu de novo? Não tem como fazer diferente dessa vez?" (risos).

'Gosto de sair do país porque problemas como cancelamento ficam tão pequenos...', diz Porchat

Fabio Porchat — Foto: Divulgação / Vinicius Mochizuki
Fabio Porchat — Foto: Divulgação / Vinicius Mochizuki

Em um post na África, você disse que nem sabia o quanto precisava daquele lugar. Por quê?

A primeira vez em que fui para essa região, no Quênia, lembro que, no momento em que pisei na Savana e vi um leão, pensei: "Meu Deus, preciso voltar e trazer gente". É um lugar que me cativa muito, me dá paz, tranquilidade. Pode soar como papo cabeça, mas parece mesmo uma reconexão. A gente veio de lá. Aquele povo do Zimbábue é de uma alegria... Têm o coração semelhante ao do brasileiro. É um lugar em que a gente percebe que somos bichos, e que somos muito pequenos.

Gosto de sair do país também porque percebemos que problemas como cancelamento ou alguém falar não sei o que no "BBB", ficam tão pequenos... Quando as coisas acontecem, no meio do furacão, a gente fica achando que tem que se posicionar sobre tudo, mas se afastando percebe: "Por que se preocupar tanto? Tem tanta coisa maior acontecendo".

Falando nisso, o que ficou da polêmica com Gkay?

Passou, só dei a minha opinião.

Dias atrás, a queixa-crime que Fabrício Queiroz abriu contra você por tê-lo chamado de "miliciano" ao comentar, em um podcast, sobre o histórico de corrupção envolvendo os integrantes e amigos da família Bolsonaro foi rejeitada pela 32ª Vara Criminal do Rio. O que tem a dizer sobre isso?

Segue o baile.

Voltando às viagens... Você documenta tudo pensando em posts?

Nunca tirava fotos nas primeiras viagens, com minha primeira mulher. Aí, separei e comecei a esquecer as lembranças das viagens. Por sorte, ela tinha fotos a que eu recorria. Agora, passei a tirar foto de tudo para não esquecer, ainda mais porque comecei a ter (o programa) "Porta afora" que, aliás, vai virar podcast. Nele, mostro fotos das viagens, assim como no "Que história é essa..." . Então, no fim das contas, é trabalho também. Vou tirando foto e fazendo vídeo de tudo que acho bonito e interessante.

Como surgiu a ideia do programa em Portugal, "Só como e bebo, às vezes trabalho"?

É um talk-show de gastronomia e papo na RTP. Começou na viagem que fiz para fazer o programa (inspirado na obra) do Saramago. A roteirista amou essa frase que falei e acabou virando essa ideia. Convido pessoas que têm a ver com temas que a gente escolhe para o programa: amor, religião, morte, memória.

Converso com quatro pessoas, anônimos e gente conhecida. Fafá de Belém e Yamandu Costa participaram. Mas a maioria é de portugueses. O programa nem estreou ainda e já tem uma segunda temporada encomendada. Como estarei em cartaz, faço a peça domingo, quando pego o voo para gravar lá segunda, terça e quarta. Volto na quinta para fazer a peça na sexta. E depois de novo...Tipo ponte aérea pra São Paulo (risos).

Você está rico?

Tô. Trabalhando muito consegui bons resultados e ganhar dinheiro. Minha felicidade é poder escolher o que faço. Mais do que dizer não, digo os sins que eu quero. Consigo planejar meus trabalhos, meus projetos, tenho muita ideia e tento estar sempre capitaneando. Comecei a contratar roteiristas para dar vazão a elas. Faço e digo "desenvolve aí, depois eu volto". Já estou com a ideia do Especial de Natal de 10 anos do Porta dos Fundos na cabeça. Só falta escrever.

Você criou o Prêmio do Humor, que acontece no próximo dia 15 no Rio, homenageando o ator Antônio Pedro, que morreu no último domingo (12)...

A gente homenageia quem nos fez chegar até aqui. O grande Antônio Pedro vai fazer falta. Como ele estava no hospital, conseguimos entregar o troféu a tempo. Ele partiu sabendo que a classe o adorava.

Criei esse prêmio porque comédia nunca ganha prêmio. Quando concorre, a gente já acha maravilhoso. Conseguimos patrocínio para os próximo cinco anos. Chamam de "prêmio do Fábio", mas não mando nada, os jurados que decidem.

É também um jeito de dividir um pouco os dividendos do seu sucesso...

Sinto que a gente tem que devolver para a comunidade. O ser humano é social, e a gente foi perdendo isso. O Brasil é tão duro, tem tanta injustiça... A gente vai garantindo o nosso e querendo que os outros se virem. Colocamos na mão do governo com aquele pensamento "ah, eu já pago imposto". Concordo, acho que o governo tem que fazer mesmo, mas que a gente tem que fazer o nosso também. Tem que doar dinheiro, tempo, divulgar boas iniciativas.

Tento fazer tudo de social que chega na minha empresa. Tem gente que diz "faz, mas não fala". Eu falo para as pessoas saberem o que está acontecendo e entenderem que podem fazer também. Uso dinheiro meu. Renê Silva, por exemplo, é um parceiro que sabe que pode contar comigo. E não é só dinheiro, tento fazer pontes. Xuxa, via Editora Globo, enviou cinco mil livros infantis para ele.

É isso, é ajudar não só a família, mas ver o que o seu porteiro está precisando. Sempre entro no táxi e pergunto: "E a família, como é que está?". Se a gente parasse para ouvir as pessoas, 50% dos problemas do mundo estariam resolvidos. Porque o mundo diz a elas que não significam nada.

Por causa dessa escuta você se tornou, mais que um humorista, um grande comunicador. O que na sua infância já dava pistas de que seria essa pessoa?

Sempre fui falante, comunicativo, adorava aparecer desde pequeno. Sempre gostei de contar piada, ganhava livros de piada das minhas tias. E sempre me interessei pelas histórias das pessoas. João Vicente (de Castro) diz que é um inferno viajar comigo porque, quando alguém vem falar, em vez de tirar uma foto e deixá-la ir embora, eu converso com a pessoa. Me interesso de verdade. Acho que todo mundo tem uma coisa boa para dizer, acrescentar. Vivo disso. O artista precisa ver como as pessoas vivem e reagem.

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