Cultura
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Por Bolívar Torres — Rio de Janeiro

A escritora Ali Hazelwood é daquelas figuras com trajetórias tão singulares que parecem boas demais para serem verdade. Nascida na Itália, viveu no Japão e na Alemanha, e fez um doutorado em neurociência cognitiva nos Estados Unidos. Usando o seu background científico, escreveu a comédia romântica “A fórmula de amor”, sobre uma cientista avessa ao romance que se lança, com um colega, em uma falsa relação por conveniência. Elaborado originalmente como uma fan fiction despretensiosa de Kylo Ren e Rey (dos últimos filmes de “Star Wars”), o livro se tornou o primeiro grande fenômeno literário do TikTok.

Principal atração da última Bienal de São Paulo, em 2022, a autora lança agora a trilogia “Odeio te amar”. Tal qual a acadêmica que se reinventou como autora de comédias românticas, os personagens das tramas buscam equilibrar razão e emoção nos relacionamentos. A vida pessoal da italiana, porém, é muito pacata. Pelo menos, é o que ela conta, em entrevista por Zoom de sua casa, na Itália — para a qual surgiu na tela sem se importar com formalidades.

Você está de pijama?

Eu até queria me vestir... Mas começo a escrever de manhã cedo, por quatro ou cinco horas seguidas, e quando vou almoçar coloco algo que pareça uma roupa de verdade. Hoje estava com muita pressa e simplesmente não tirei o pijama.

Você tem uma história de vida muito interessante, morou em muitos países, mistura ciência e comédia romântica...

O meu dia a dia é dos mais comuns. Eu escrevo o dia todo e depois eu e meu marido vamos jantar e terminamos assistindo algo no streaming. Somos as pessoas mais entediantes do mundo.

O que o background científico trouxe para a sua escrita?

A academia traz uma disciplina, no sentido de que há muitos prazos, muitas coisas que você precisa deixar prontas. Eu coloco metas de palavras que preciso escrever todos os dias. Como temos que escrever muito na academia, acho que os artigos científicos me deram a mentalidade de que, às vezes, você tem que simplesmente sentar e escrever mesmo não tendo certeza do que você quer fazer ou de como vai ficar no fim. Tem que escrever e ver aonde a história vai, mergulhar de cabeça.

Falando em ciência... Já experimentou a ferramenta ChatGPT para escrever?

Ajuda a pesquisa. O novo livro que estou escrevendo se passa em uma startup, um universo que não conheço. O ChatGPT me ajudou reunindo informações que eu até poderia googlar, mas teria que cavar muito para conseguir. Posso perguntar a ele como um escritório de start-up se parece e quantas pessoas trabalham nele, por exemplo. Ele não ajuda na escrita, mas é um guia de informações. Nunca tentei fazer nada criativo com ChatGPT.

Já imaginou a inteligência artificial substituindo escritores?

Não consigo ver a inteligência artificial reproduzindo ficção criativa. Se conseguir, deve ser só daqui a décadas.

A comédia romântica tem uma fórmula perfeita?

Eu só escrevo o que gostaria de ler. Tenho certeza de que há fórmulas. Mas muito honestamente acho que o sucesso de um livro depende 90 por cento de estar no lugar certo e na hora certa. Tive a sorte de estourar na pandemia, quando as pessoas buscavam uma válvula de escape para a realidade. Queriam algo radiante, viram a capa do livro e acharam que era radiante.

E teve a sorte de cair no gosto dos booktokers, que divulgaram o livro na plataforma.

Verdade, o TikTok mudou o mercado e a medida do que é um livro de sucesso. Mas vou ser honesta: eu mal sabia o que era TikTok antes de o meu livro sair (risos). Agora gosto muito, especialmente vídeos de gatos. O conteúdo de gato do TikTok é excelente.

Quantos gatos você tem?

Tinha dois, agora tenho três. Acabei de pegar um novo, depois de uma longa negociação com meu marido. É a primeira vez que pego um filhote. Os meus chegaram adultos, se davam bem, mas não se amavam. Agora com o novo filhote, mudou tudo, viraram pais. É o triângulo perfeito. Estou muito feliz, muito feliz.

Os gatos não atrapalham o seu trabalho?

Preciso trancá-los do lado de fora do escritório, ou não não consigo me concentrar.

Como foi sua passagem pelo Brasil no ano passado?

Sinto falta do Brasil por causa do brigadeiro. Comi tanto por aí. Meu editor brasileiro teve que me dar um remédio para ajudar a digerir.

Muitos estrangeiros acham o brigadeiro doce demais. Não foi o seu caso, então?

Não. Nunca. Sou grande fã de doces.

O que mais gostou daqui?

Acho que outro prato favorito foi picadinho. Amo a consistência da farofa. Trouxe tanta marmelada para casa e acabou de terminar. Está na hora de voltar

Não estava perguntando só sobre comida...

Ah, sim (risos). Encontrei pessoas incríveis. Brasileiros são leitores incríveis, todo mundo me deu presentes. Foi a viagem de uma vida, nunca terei uma viagem tão boa. Minha coisa favorita foi ter visto os macaquinhos na descida do Cristo Redentor. Tão fofo. O Rio foi o meu lugar favorito.

Acha que o Rio é um bom cenário para uma comédia romântica?

Seria perfeito. Tem tudo, tem a praia, montanhas, a cidade.

E macacos...

Seria um cenário fantástico! Espero ir e ficar mais tempo para pesquisa. Prometo ir, prometo ir!

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