Se Elon Musk cumprir a promessa, a partir deste sábado, 1º de abril, o Twitter começa a ficar menos azul. Todos os usuários que tinham o selo azul de verificação por notoriedade e relevância (distribuído pela plataforma para artistas, esportistas, jornalistas e formadores de opinião em geral, com o objetivo de atestar a autenticidade das contas) vão perdê-lo. A forma de reaver o blue check? Assinando o Twitter Blue por R$ 42, no caso dos usuários brasileiros. O pacote também dá direito a editar tuítes e ver menos anúncios, entre outras vantagens. Organizações, empresas e agências governamentais podem pagar até US$ 1 mil para serem verificadas, mas, ontem, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou, em nota, que o governo Lula terá os selos cinza gratuitamente. O mesmo vai acontecer com a Casa Branca.
A venda de verificação de perfis já havia causado gritaria quando foi anunciada pela primeira vez, no fim do ano passado. O check, que se tornou uma marca de status dentro da rede, começou a ter seu valor simbólico questionado agora que está ao alcance de qualquer cartão de crédito. Mas, na época, o bilionário ainda não havia tocado no assunto da “cassação” de selos concedidos antes de ele comprar a empresa.
— O selo azul foi uma forma que o Twitter encontrou de reduzir o problema de pessoas se passando por outras — explica Raquel Recuero, coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Mídia, Discurso e Análise de Redes da Universidade Federal de Pelotas. — O grande valor da plataforma está no conteúdo e em quem o produz. A partir do momento em que eu não sei quem são as pessoas e se o que elas produzem é verdadeiro, eu reduzo esse valor.
É neste ponto que mora a maior desconfiança em relação à estratégia de Musk: o Twitter tem mesmo condições de garantir a autenticidade das contas? Eles dizem que sim. Mas, quando a venda começou nos Estados Unidos, um perfil fake de uma empresa farmacêutica conseguiu um selo de verificação e fez um tuíte anunciando insulina de graça. Isso causou um caos na companhia verdadeira e queda de 4% nas ações — fora a falsa esperança de desafogo financeiro em milhões de pessoas com diabetes.
— Desinformação e autenticidade são problemas sérios em todas as plataformas. E por causa da dimensão delas, as decisões que tomam impactam a esfera pública de todo o planeta — diz Raquel. —Quem vai verificar os compradores desses checks? Quantas pessoas farão isso? Será rápido o suficiente para não ter problemas? É uma jogada difícil, arriscada. Vamos ver o que vai acontecer. A aposta deles é que as pessoas estão dispostas a pagar. Pode dar muito certo ou muito errado.
Pagando para aparecer
Segundo dados do pesquisador Travis Brown publicados no site Mashable, deve haver entre 275 mil e 325 mil assinantes do Blue atualmente e cerca de metade tem menos de mil seguidores. A partir de hoje também só essas pessoas terão seus conteúdos promovidos pelo algoritmo na timeline “para você”. Este é um outro importante atrativo que Musk quer usar para chamar a atenção dos grandes influenciadores.
Só que muitos peixes gigantes da rede juram que não vão colocar nenhum tostão no bolso no bilionário. O jogador de basquete LeBron James avisou ontem aos seus 52,8 milhões de seguidores que, se eles o conhecem de verdade, sabem que ele não vai pagar US$ 8 (valor da assinatura nos EUA) para ter um check. Entre os brasileiros, um dos mais desanimados com os rumos da rede é o comunicador e influenciador digital Felipe Neto, que tem 16 milhões de seguidores. Por ora, ele não pretende assinar o serviço.
— Não concordo com a forma como o Twitter vem sendo gerido, com o abandono de políticas de combate à desinformação e ao discurso de ódio e como a plataforma decidiu cobrar por coisas que sempre foram gratuitas — disse Felipe, que garante ter diminuído o uso.
O influenciador está preocupado com a mudança de apenas uma parte dessa relação, a relação com o usuário, mas não com o mercado publicitário:
—Não há prós no Twitter Blue se a plataforma continuar utilizando a coleta de dados individuais para venda de publicidade. Se o pacote fosse vendido sob a promessa de encerrar a coleta de dados e mapeamento, subvertendo totalmente o modelo de negócios da rede, este sim seria um pró substancial, mas não é o caso.