Cultura
PUBLICIDADE

Por Maria Fortuna — Rio de Janeiro

Lulu Santos está tomando cogumelo. Essa é nova onda do cantor e compositor, que tem ingerido 15 gotas de um composto a base de Hericium erinaceus — também conhecido como Juba de Leão ou cogumelo da inteligência — três vezes ao dia. Os efeitos, ele conta, são imediatos em sua saúde neural: foco, concentração e equilíbrio cognitivo.

Se a cabeça está tinindo, do corpo ele cuida na esteira e dando braçadas na piscina de sua nova casa, no Itanhangá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A paixão pelo marido, o analista de sistemas Clebson Teixeira, de 31 anos, trata de manter a libido em alta.

Esse é o panorama da intimidade do artista prestes a completar 70 anos no próximo dia 4. Comemorar ele vai do jeito que mais gosta: no palco. Lulu fará a primeira apresentação da turnê, "Barítono: Lulu Santos 70 anos", no Teatro Multiplan, no VillageMall, com convidados especiais (na plateia e em cena) como Gabriel O Pensador.

Lulu Santos: 'A finitude sempre foi o plano original. Pensamos na morte, no fim, várias vezes ao dia' — Foto: Divulgação / Bispo
Lulu Santos: 'A finitude sempre foi o plano original. Pensamos na morte, no fim, várias vezes ao dia' — Foto: Divulgação / Bispo

O show, que depois segue para os Estados Unidos e em junho ganha temporada no Brasil, será transmitido ao vivo por Globoplay e Multishow. No dia 6, a TV Globo mostra os melhores momentos.

Os hits, claro, têm lugar garantido. Mas uma canção inédita também será apresentada. Outra novidade que marca o projeto é o début de Clebson à frente da carreira do marido. Ele agora é o CEO que gerencia tudo.

Mais do que comemoração particular, Lulu deseja dividir com o público que o acompanha há mais de 40 anos essa celebração.

—É um pouco o que aconteceu comigo quando li a biografia da Rita Lee. Claro que conheci a vida dela com mais detalhes, mas também lembrei do que estava acontecendo comigo a cada um daqueles capítulos — conta. — É sobre o efeito que essas canções e esse artista têm na vida das pessoas que me acompanham há 40 anos plus. Estamos chegando juntos nesse marco. O mote da turnê é: normalizar ser feliz. Porque se não aproveitar agora... (risos). Não se deve deixar a felicidade para depois, é desperdício — diz ele.

Como vai você, Lulu, profundamente falando? Assusta estar diante dos 70?

Celebremos, é importante. Para mim, intimamente, é mais um dia atrás do outro. O corpo não reage tão rápido, a cabeça, eventualmente, está meio enevoada, lenta.. É preciso descansar um pouco mais, mas tudo vem tão paulatinamente que você se adapta, busca contrapor. Faço exercício todo dia e tomo meus cogumelos. É a minha onda atual...

Como assim?

Chama Juba de Leão. Descobri com pesquisadores do Rio Grande do Norte no Instagram. Tomo 15 gotas três vezes ao dia para foco, concentração, regeneração do sistema nervoso. Percebo o efeito imediatamente. É quase uma viajadinha. Não no sentido de intoxicação, mas de clareza, de equilíbrio cognitivo. Também tomo o composto de outro tipo de cogumelo específico para a imunidade. E como cogumelo o tempo todo. Amo Portobello. Faço sopa, asso, refogo e bato com um bom creme de leite.

E a libido, segue firme e forte como você me contou no início da relação com o Clebson?

É aquele negócio da história do Asterix: acho que bebi demais dessa poção. E o moço (Clebson) tem 30 anos, né? (risos). Talvez seja aquilo do Woody Allen: “Você é bom no sexo?” “Sim, pratico muito sozinho”, respondeu ele. Pode ser que eu tenha tido muito tempo antes pra isso…

É bem resolvido com a sua escolha de não ter tido filhos?

Não é obrigação se reproduzir e nunca tive esse instinto. Como passei por uma experiência análoga de ter filhos (durante o casamento com Scarlet Moon), a experiência de criá-los eu já tenho. Num planeta hiperpopulado e com cada vez menos recursos, esse relógio do fim do mundo, acho que tem até uma coisa higiênica em optar por não se reproduzir. Não estou pintando um cenário apocalíptico para me eximir... Aliás, me eximir de que?

Como lida com a ideia de finitude? A morte é um problema para você?

Para qualquer pessoa, né? (risos). Mas é aquela outra história: eu não vou estar presente (risos)... A ideia do fim, da morte, me ocorre várias vezes por dia. A finitude vai acontecer, é o plano original. A gente nasce para morrer. Na hora em que eu tiver uma doença mais grave, que venha de um forma boa.

Lulu Santos: 'Faço exercício todo dia e tomo meus cogumelos. É a minha onda atual...' — Foto: Divulgação / Bispo
Lulu Santos: 'Faço exercício todo dia e tomo meus cogumelos. É a minha onda atual...' — Foto: Divulgação / Bispo

Pode falar com toda humildade: já sentiu algo que alguns chamam de genialidade, mas é mais uma visão instantânea das coisas do mundo como na realidade elas são? Sua inspiração vem do inconsciente?

Considero a genialidade dos outros e aprendo. Acho David Bowie o artista de rock mais inteligente e interessante. Ver o quanto ele produziu ativo me faz fazer coisas. Minha admiração por pessoas que foram geniais a vida inteira na minha cara, como Caetano, Gil, Chico, Madonna, Prince, Michael Jackson, Gal, Rita Lee, Beyoncé, que entrou também nessa lista, me dão, talvez, necessidade de corresponder em mim e para mim o que admiro nos outros.

Minha inspiração vem do inconsciente, mas traduzido pelo consciente para ficar legível. É o consciente formulando o que o inconsciente pede. Por que não dá para sonambular música, mas muitas vezes acordei com ela mastigada.

Em outra entrevista nossa, você citou Darwin: “Sobreviver é evoluir". Sente um progresso que vem da experiência?

Quando mais à vontade fico com minha experiência de vida, mais acho que estou encontrando o que era suposto encontrar, em vez de ficar navegando num nevoeiro de incerteza e hesitação. Quanto mais relax fico com a minha existência, mais acho que estou indo na direção certa para ter um bom fim, uma boa chegada.

Acho bonito quem chama de “passagem”. Há várias outras analogias para finitude que significam continuidade. Nem que seja em termos de transformação. O que eu talvez tenha conseguido ou busque é não deixar de estar em transformação.

Quando você fecha os olhos, qual é a primeira lembrança que tem da sua vida?

Tinha por volta de três anos e estava comendo Farinha Láctea num prato de plástico redondo, roxo, no terceiro andar do prédio sem elevador na Praça Del Vecchio, no Rio Comprido. Era 1956. Não sei se empurrei, só sei que vi o prato ir lá embaixo e quebrar.

Seu pai era militar. Teve disciplina e conservadorismo na sua educação? E como isso afetou sua vida?

Tenho 70 anos e saí de casa com 17. A maior ameaça que havia dentro de casa para maus comportamentos era: “Vou lhe colocar no colégio militar". Provavelmente, sou quem eu sou como uma resistência a essa ideia, a essa rigidez. É difícil disciplinar alguém para algo que ela não quer.

Como eu sabia o que queria e não era o mesmo desejo do âmbito familiar, tomei as rédeas o mais rápido possível. Me equilibrando entre a possibilidade de ter uma casa com cama e geladeira para me arriscar na vida do lado de fora. A canção “Minha vida”, diz: “Quando eu era pequeno, eu achava a vida chata…/ Os garotos da escola só a fim de jogar bola...”. Toda a restrição, a constrição do ideário masculino sempre foi difícil, distante e dominadora para mim.

Seu último disco, "Pra sempre" (2019), era sobre as estações da paixão, o passo a passo do envolvimento com Clebson. Cinco anos depois em que fase se encontra esse amor?

Em um estágio que não estava previsto, a sequência e consequência de tudo. Quando a gente se conheceu, eu morava num apartamento, onde fiquei 23 anos, gostoso, mas gavetinha. Tinha um jirau cheio de quinquilharia. Clebson começou a implicar. Ele dizia: "Essa casa tem vida passada demais”. E tinha mesmo. Ele queria inaugurar uma vida.

Cinco anos depois estou morando numa casa no Itanhangá. Isso é planejamento dele, que tem amor e respeito por mim, compreensão do que represento. De certa forma, passou para ele a responsabilidade do legado. Foi o que ele fez com a visão que tem das minhas finanças, da minha vida, do meu futuro e do dele junto comigo.

Mas não são só flores, a gente se estranha bastante. Sorte que a casa é grande e vai cada um para um lado (risos).

Essa mistura de vida e trabalho funciona?

A gente fica 24 horas juntos. O que temos que fazer é não deixar o trabalho tirar a essência da vida da gente. Mas não tira. Aprendi com as melhores pessoas que é bom misturar os dois. Se você gosta do seu trabalho e da sua vida, por que não ter uma fusão das duas coisas?

Pode contar um segredo do repertório do show?

Vamos desde uma canção inédita a resgates na tonalidade adequada de duas canções que eu sempre gostei, mas nunca pude colocar no repertório por essa tecnicalidade do registro vocal: “De repente”, minha com Nelson Motta, e "Esse brilho em seu olhar". Baixar o tom fez com que elas ficassem ao meu alcance.

Minha voz tem se tornando mais grave, encorpada. Quando do comecei a fazer música, 40 anos atrás, não tinha tanta prática de ser um cantor e compositor. Era um guitarrista de uma banda de rock progressivo. Depois, viro um artista em demanda que precisava fazer show e estar com a voz boa.

Conforme o tempo foi passando, fui ajustando as tonalidades à medida em que ia conhecendo melhor a minha voz, meu equipamento. O tempo e o uso me esclareceram a cerca de como eu sou. Por mais que eu tenha gastado muito tempo e energia buscando algo que não estaria ao meu alcance, que é ser um cantor tenor, mais agudo, como a grande maioria do pop, eu sou barítono por natureza. Como João Gomes.

Demorei um pouco. Como várias outras questões fundamentais da vida das pessoas, tive um florescer tardio para assumir a voz grave.

Sobre o que fala a música inédita?

Chama-se "Presente" e diz: “Eu sempre achei que assim caminha a Humanidade/ Depois eu percebi que ainda engatinha (gatinha)/ Não me acostuma que alguém passe necessidade, ao lado de quem/ Sempre quer mais do que já tinha/ Foguetes varando o espaço/ Brinquedos pra se exibir/ De quem é o foguete mais pica?/ Garotos sempre querem competir/ Pega do início da história/ E corta a cena da maçã/ O fato é que as mulheres de hoje/ Serão as donas do amanhã”.

Que comece o matriarcado...

Nem tanto ao mar nem tanto à terra (risos). Mas se for uma contraposição ao patriarcado, sim. Hegemonias costumam ser iguais. A gente quer uma boa mistura. No showbusiness, o mundo é das mulheres. Rihanna, Beyoncé, Anita, Luísa Sonza, Iza, Ivete, Ludmilla... Gloria Groove, Pabllo Vittar, por que não? A representação do feminino.

A música pop é uma forma de enxergar o andar da sociedade. Ofereci a Cássia Eller uma canção, mas acho que ela não entendeu nada. Chamava: "Quero a minha mãe”. Penso que ela interpretou como covardia, fraqueza, mas o refrão dizia: "Chama Diana, caçadora, deusa do templo lunar/ Pede a ela um antídoto para anular toda essa testosterona". Isso é de 1996.

Você tem a capacidade de soar sempre contemporâneo, e acho que isso vem do fato de ser ler o pop como um comentário da sociedade que avança. O que anda te interessando hoje em termos de linguagem de cultura pop?

É o que chamo de espírito do tempo, zeitgeist. Não é sobre si próprio, no máximo, você observa. Sabe o que acho super? Essa novela “Vai na Fé”, da Rosane Svartman. Tem uma virada feminina, elas que decidem aquelas histórias. E o personagem do Zé (Loreto), o Lui Lorenzo, é um homem não tóxico. Aquela maquiagem, aquela desconstrução da sisudez masculina num personagem hétero.

É uma coisa corrente da vida de todos, algo que democraticamente ilustra as possibilidades da Humanidade na melhor das hipóteses. Sobretudo, nos afastando do atoleiro que foram os últimos quatro anos, anos de merda, momento esgoto a céu aberto da sociedade brasileira. Os mais retrógrados e conservadores sentimentos. Todo aquele horror que a gente testemunhou e que, por pouco, se livrou.

Na pandemia, você me disse que via a vida melhor no futuro. E agora, rolou uma desilusão ou constatou um novo começo de era?

Acho que melhorou, poderia ter sido pior. Na medida que a gente saiu para claridade, minha profecia se concretizou. Biden ganhou do Trump, a luz voltou por um tempo. Mas a Humanidade é pendular. Cada momento de democracia e liberdade corresponde a um próximo de extrema direita.

Essa é uma música de redenção, é uma forma de se convencer daquilo e infundir o espírito da possibilidade da melhora. Volta e meia, a gente tem possibilidade de comemorar isso. Recentemente, tivemos a troca de uma administração sombria, tristonha e ameaçadora para uma coisa que é o oposto disso. Não digo que seja uma panaceia para todos os males, estou falando apenas em contraposição e significando essas pendularidades dos tempos, dos costumes e das pessoas.

Lulu, você vai sobrar de vítima das circunstâncias?

Isso é o que não vai rolar (risos). Foi o que a gente acabou de demonstrar. No auge do mal-estar, eu lancei “Hit”, a canção celebratória para provar que eu não ia sobrar de vítima das circunstâncias, que tinha espaço na minha vida para alegria e felicidade independente do baixo astral imposto.

Você tem ideias que existem na cabeça e não têm a menor obrigação de acontecer?

Cada vez mais. Poderia lançar um álbum de músicas novas, mas me dá certa preguiça. Sei qual o papel da música pop na sociedade e do tempo na música pop. Hoje, há música pop tão direcionada, consumida e adequada. Não vou ter a vaidade de achar que vou ter que ter relevância. Parece necessidade de afirmação.

Então, como vou lançar uma canção nova? Não é num álbum ou no streaming. É no meio de um espetáculo. Quem chegar para me assistir esse ano vai ganhar uma canção nova que ninguém mais ouviu, nem ela mesmo.

Mais recente Próxima Cleópatra tinha pele branca, diz governo do Egito após polêmica de série com atriz negra no papel da monarca
Mais do Globo

Os jogos de handebol feminino acontecem nesta sábado (3) pelas Olimpíadas de Paris 2024, a partir de 9h. Brasil faz sua quinta partida contra a Angola

Brasil x Angola: onde assistir e horário do jogo de handebol feminino nas Olimpíadas 2024

Saiba quem mais foi convidado para a produção

Fernanda Montenegro vai estrelar filme dirigido por seu filho
Azul amplia rotas em Jacarepaguá

Dois cineastas estão interessados na história do cantor

'De bambino a Roma', novo romance de Chico Buarque, deve virar filme

Outros 63 ficaram feridos; grupo responsável é vinculado à Al Qaeda

Ao menos 32 mortos após atentado islamista em praia da Somália

Gabriel Medina, Bala Loka e Hugo Calderano são alguns dos atletas registrados em momentos únicos nos Jogos

Olimpíadas de Paris-2024: Brasileiros brilham em fotos surpreendentes

Será exposto no Museu o famoso pijama de seda usado na ocasião de sua morte

70 anos da morte de Getúlio Vargas: Rio terá atos na FGV e na ABI, além de exposição no Museu da República

Máscara mortuária da cantora é um dos itens que serão apresentados apenas neste fim de semana

Museu Carmen Miranda celebra um ano de reabertura com shows e exposição especial