Cultura
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Por Bolívar Torres

Em “Odeio te amar” (Arqueiro), recém-lançada trilogia de comédias românticas escritas pela italiana Ali Hazelwood, as protagonistas estão no fim dos seus 20 anos. Tecnicamente, podem ser chamadas de adultas, mas ainda vivem descobertas outrora reservadas aos mais jovens, como iniciar no emprego dos sonhos, dividir apartamento, viver o primeiro grande amor.

Hazelwood se tornou um fenômeno de vendas explorando os dilemas desse limbo etário, espremido entre a vida adolescente e a adulta. Conhecido no mundo editorial como new adult (“novo adulto” em bom português), o rótulo ganha força à medida que o próprio conceito de adolescência é questionado por especialistas. Um estudo recente da revista científica The Lancet defendeu que, diante das mudanças da sociedade, o fim desta etapa da vida não deveria ser mais aos 19 anos, como estabelecido, mas aos 24.

— Acho que há uma demanda mundial por histórias de amadurecimento — diz Hazelwood, em entrevista ao GLOBO por Zoom. — Por conta da maneira como o mundo é hoje, essas histórias acontecem mais tarde. Eu mesma, na faixa dos 30, mais perto de me acomodar, às vezes me pergunto: meu Deus, o que eu estou fazendo? O que está acontecendo?

Novas experiências

O "novo adulto" pode ser um pouco de tudo, do mistério à fantasia, mas tem se destacado especialmente na área da comédia romântica, com autoras como Collen Hoover (“É assim que acaba” e “É assim que começa”) e Beth O’Leary (“Teto para dois”) comparecendo regularmente na lista dos dez livros mais vendidos do país.

Na lógica editorial, o rótulo é visto como a etapa seguinte do young adult (jovem adulto), destinado à faixa dos 12 aos 18 anos. Ambos retratam personagens que amadurecem enquanto se deparam com novas experiências. Mas, se no young adult abundam temas como o despertar da sexualidade, a entrada na faculdade ou o entendimento do próprio corpo, no new adult há uma evolução natural para outras descobertas.

— Os problemas que esses personagens enfrentam são um pouco mais pesados — avalia a americana Talia Hibbert, autora de “Acorda pra vida, Chloe Brown” (Paralela), sobre uma jovem adulta com dores crônicas que, após escapar de um atropelamento, percebe que sua vida não foi eletrizante como gostaria. — Um universitário de 18 anos pode ter que lidar com colegas de quarto, trabalho e dinheiro curto, mas um jovem de 28 com problemas semelhantes sofre com uma expectativa social mais pesada.

Young Adult x New Adult

'YOUNG ADULT’

  • Protagonistas de 12 a 18 anos;
  • Temas são relacionamentos no colégio, primeiro crush, despertar da sexualidade, questões familiares;
  • Cenas de sexo ausentes;
  • Capas: coloridas e com ilustrações fofas.

‘NEW ADULT’

  • Protagonistas de 19 a 27 anos;
  • Temas são experiências no primeiro emprego, primeiro relacionamento sério, perrengues financeiros, dificuldade com aluguel, frustração com vida morna, medo do tempo passando;
  • Cenas de sexo frequentes;
  • Capas também coloridas e com ilustrações fofas.

A escritora concorda que, para a geração nem-nem (nem trabalha, nem estuda), o estágio inicial de descoberta e estabelecimento leva mais tempo:

— Agora vemos personagens mais velhos lidando com questões como sair de casa ou tentar encontrar sua vocação enquanto tentam arranjar tempo para perseguir seus sonhos.

Formada em publicidade, Nathalia Neves, de 24 anos, é um caso modelo de leitora que começou a migrar do young adult para o new adult recentemente.

— Estou prestes a fazer 25 anos, me formei na faculdade e eu me sinto ainda uma criança — diz ela. — Então quando a gente vê personagens passando por coisas parecidas, em faixa etárias parecidas ou até maiores, tipo os trinta, dá até um certo alívio saber que você não está sozinho nessa. E acho que o crescimento do NA vem muito disso, dessa identificação que gera no público. Ainda amo livros YA, principalmente pela vibe filminho de sessão da tarde que alguns deles passam, mas sinto que não é mais uma prioridade de leitura para mim.

Curiosamente, o público dos dois rótulos se confunde cada vez mais. Vale lembrar que tanto os livros de Hazelwood quanto os de Hibbert são sucesso entre gerações mais novas — não por acaso, são fenômenos no TikTok. As capas dos livros para novos adultos também em nada se diferenciam das de jovens adultos, com cores vivas e desenhos fofos. Editora da Alt, selo jovem da Globo Livros, Paula Drummond conta que constatou a intersecção entre os dois rótulos na Feira de Bolonha, evento editorial dedicado ao universo infanto-juvenil:

— Dependendo do país, o mesmo livro pode ser apresentado como young adult ou new adult.

Talvez a diferença mais reconhecível do new adult em relação ao seu irmão mais novo seja o conteúdo sexual mais explícito. Quando o selo começou a se popularizar, alguns anos atrás, chegou a ser definido como “Harry Potter” encontra “50 Tons de cinza”. Mas não é obrigatório: em “Reticências” (Alt), Solaine Chioro retrata o medo diante da primeira “conexão real” afetiva. Para complicar, o romance entre Davi e Joana começa on-line, sem que um saiba a identidade do outro.

Defasagem na vida

A comédia romântica da escritora da Baixada Santista explora uma questão que ecoa fundo entre os jovens que começaram a ficar adultos na pandemia — período em que o isolamento acabou retardando primeiras experiências. De certa forma, o livro reflete uma questão tácita em todas as histórias do new adult: como reinventar a vida adulta em um mundo em constante transformação?

— Vejo que meus pais tiveram uma vida muito diferente da minha, casaram mais cedo, tiveram filho mais cedo, exploraram a vida mais cedo — diz Chioro. — Penso muito nesses jovens que começaram o colégio ou a faculdade em meio a pandemia sem aulas presenciais. É uma defasagem enorme, demora muito mais para se viver certas coisas.

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