O diretor americano Quentin Tarantino falou sobre cinema para uma plateia de mais de 1.500 pessoas que lotaram o teatro Coliseu, um dos maiores de Barcelona, na Espanha, neste domingo. Ele protagonizou o evento "Quentin Tarantino: a especulação do cinema" e, com seu característico bom humor, deliciou o público, que o interrompeu várias vezes com aplausos. Em um desses momentos, ao falar sobre sobre o começo da sua paixão pelo cinema, quando ainda era criança, Tarantino disse que ficou perturbado com o filme "Bambi", clássico de animação da Disney que conta a história de um cervo.
— Fiquei realmente perturbado com o filme 'Bambi'. Ele afetou a cabeça das crianças por décadas. Era muito selvagem para mim e eu não aguentava, até porque não esperava o incêndio e a morte da mãe — disse o autor de Kill Bill e Bastardos Inglórios.
Os nove filmes de Tarantino
O cineasta também evocou a memória de quando viu Amargo Pesadelo (1972) aos 9 anos, o filme dirigido por John Boorman que inclui o estupro de um homem, e não entendeu muito bem o que estava acontecendo "porque não sabia o que significava aquilo", mas pegou a situação "pelo contexto".
Tarantino fez rir com suas anedotas de quando era criança e assistia a filmes para adultos com sua mãe e os namorados dela, especialmente homens negros com quem viu o gênero chamado "Blaxploitation" — filmes de baixo orçamento, com atores negros e para o público negro, como Black Gunpowder, de Jim Brown. Ele se lembra de ter ido à estreia daquele filme com entusiasmo e de ser o único homem branco na sala.
— Desde então passei minha vida indo ao cinema em um esforço para recriar essa experiência — contou o cineasta.
Tarantino destacou seu amor pelo cinema espanhol — ele é um grande fã de Almodóvar e especialmente do filme Matador (1986), protagonizado por Antonio Banderas e Carmen Maura — e citou ainda A casa dos Desejos (1969), de Narciso Serrador, os filmes de Jesús Franco e A Noiva Ensanguentada (1972), de Vicente Aranda.
De sua já conhecida "antipatia" em relação aos filmes de super-heróis, Tarantino disse que lia e gostava dos quadrinhos da Marvel e da DC e que, se os filmes tivessem sido feitos nos anos 1970, eles o teriam atraído.
— Mas agora é tarde demais, eles demoraram muito — brincou.
Quanto à violência, termo indissociável da sua filmografia, Tarantino tem considerado que a sua apresentação no cinema "pode levá-la a um patamar para além do 'normal'" e a uma "excepcional ligação" com o público, como no clímax do thriller Sob o Domínio do Medo (1971), de Sam Peckinpah.
O cineasta também dissecou alguns de seus filmes favoritos, como Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese, imaginando como seria se tivesse sido filmado por Brian de Palma, ou refletido sobre o que tem ou não de fascista. O realizador falou brevemente sobre o seu décimo e último filme, que será "sobre um crítico de cinema", e disse que tem havido muita especulação sobre quem é, mas que só ele sabe e que não dará mais detalhes.