Cultura
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Por O GLOBO — Rio de Janeiro

Não foi nada fácil a vida de Palmirinha Onofre, apresentadora e cozinheira conhecida como a "vovó mais querida da TV" — e que morreu, aos 91 anos, no último domingo (7), em decorrência de um agravamento de problemas renais crônicos. Filha de uma imigrante italiana, a paulista nascida e criada em Bauru, em São Paulo, foi vendida na adolescência, pela própria mãe, para um fazendeiro e sofreu violência doméstica até os 45 anos. Parte dessa difícil trajetória está narrada no livro autobiográfico "A receita da minha vida" (Editora Benvirá), atualmente esgotado e apenas possível de ser encontrado em sebos.

"Apanhei muito", contou a cozinheira, numa entrevista concedida à jornalista Marília Gabriela, em 2012, quando lançou sua biografia. A relação conturbada de Palmirinha com a mãe começou cedo, na infância, no sítio onde a família morava no interior de São Paulo. Italiana que veio tentar a vida no Brasil — e que conheceu o marido, baiano, logo que desembarcou do navio em solo tupiniquim —, a mulher europeia não gostava da relação afetuosa que Palmirinha cultivava com o pai.

"Meu pai tinha uma paixão por mim. Comecei a crescer, e minha mãe via a paixão que ele tinha comigo, e que não tinha com os outros quatro filhos. Minha mãe era muito severa, e ela não aceitava qualquer tipo de carinho. Então aquele carinho que meu pai não podia fazer na minha mãe, ele tinha comigo. E aí minha mãe ficou com raiva de mim. Ela me maltratava muito. Apanhei muito com vara de marmelo. Ela foi abusiva e me maltratou muito", relembrou Palmirinha.

'Adotada' aos 6 anos

Aos 6 anos, Palmirinha foi adotada por uma senhora francesa — sem as formalidades legais, mas com o consentimento dos pais — e se mudou para a capital paulista. "Ela prometeu para o meu pai que eu seria uma dama de companhia dela, e que ela iria abrir uma caderneta de poupança em meu nome", recordou a apresentadora de TV. E assim foi feito. Por dez anos, Palmirinha viveu com aquela mulher, trabalhando como secretária, atendendo telefonemas e acompanhando-a em seu negócio como administradora de uma empresa para serviços domésticos.

"Fui uma dama de companhia para ela. Dormia na mesma cama. Ela tinha uma posição social e um poder aquisitivo bons. Então, ela depositava sempre um dinheirinho para mim. E ela me levava todo domingo em algum lugar e contava a história daquele local, como museus, teatros...", rememorou Palmirinha. À época, a jovem acabou abandonando os estudos e não conseguiu concluir o Ensino Médio.

Vendida por cinco mil réis

Aos 16 anos, tudo mudou. Depois que o pai morreu, sua mãe italiana foi para São Paulo tentar retirar o tal dinheiro que a francesa havia depositado, ao longo desses dez anos. Por questões legais, ela não conseguiu, no entanto, sacar o valor. A mãe sugeriu então que Palmirinha voltasse com ela para Bauru — e a senhora francesa, com medo de ser denunciada por viver ilegalmente no país, achou melhor que fosse assim.

Vovó Palmirinha: apresentadora era querida entre o público na TV — Foto: Reprodução
Vovó Palmirinha: apresentadora era querida entre o público na TV — Foto: Reprodução

No interior de São Paulo, Palmirinha foi vendida por cinco mil réis (moeda da época) para ter relações sexuais com um fazendeiro paulista, numa situação armada pela própria mãe. Ao chegar em casa, após o expediente como funcionária das Lojas Americanas, a então jovem de 16 anos foi para seu quarto, tirou a roupa para tomar banho e... de repente deparou-se com um senhor deitado em sua cama. "Minha tia, que morava do lado, quebrou a parede de madeira e me tirou de lá", recordou-se.

'Eu ia trabalhar com o olho roxo'

Aos 19 anos, após completar pouco mais de um ano de namoro com um rapaz, aceitou se casar — muito mais para sair, enfim, da casa de sua mãe. Teve três filhas com o marido (Tânia, Nancy e Sandra) e foi vítima de violência doméstica até os 45 anos, quando decidiu se separar. "Depois que eu casei, voltei a estudar. Queria fazer uma faculdade, mas infelizmente meu marido achava que eu iria namorar ao invés de estudar. Apanhei muito", ela contou.

O marido "bebia muito, tinha várias amantes e me maltratava muito", como ela repassou. "Não me rebelei porque eu achava que se eu me separasse, eu iria prejudicar o casamento das minhas filhas. Então, eu aguentei até o fim, porque meu sonho era que minhas filhas se casassem bem para não ter o mesmo destino que o meu", ela contou.

Palmirinha disse, nessa mesma entrevista, que quase sempre ia trabalhar com o olho machucado e roxo. "Às vezes, eu ia para o trabalho com a boca saindo sangue ainda. E eu falava assim (para minhas colegas): 'Caí e bati no canto da mesa'. E uma amiga falava: 'Que nada, ela apanhou do marido'. Isso era muito triste para mim, sabe? Eu queria inventar uma coisa, e a pessoa me desmentia. Eu me sentia muito humilhada", ela relembrou.

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