Cultura
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Após passar um tempo frustrada com o seu lado feminino, Helena Rache buscou ajuda na força de uma rainha egípcia morta há mais de dois mil anos. Para mudar a sua vida pessoal e profissional, a atriz, influencer e graduanda de psicologia passou os dois últimos anos mergulhando fundo no universo de Cleópatra. Comprou uma estátua de mesa da monarca e adotou a imagem dela como fundo de tela do celular, buscando “absorver seus símbolos” sempre que mira o retrato. Também estudou a História do seu reinado e incorporou práticas que a notabilizaram. A cada escolha diária, Rache perguntava-se: “O que Cleópatra faria?”.

As técnicas da atriz de 25 anos se encaixam dentro de um conceito cada vez mais popular, que ficou conhecido nas redes como “ativação de arquétipo”. Inspirado nas ideias do psicanalista Carl Jung, tem como objetivo se conectar com a energia e as características de determinadas figuras históricas. Ao mentalizar Cleópatra VII Filopátor (69 a.C.-30 a.C), a pessoa se tornaria mais confiante, sedutora, estrategista — características que fizeram da rainha egípcia um dos arquétipos mais populares e ativados, mantendo-a em evidência.

Ideal feminino

Ao mesmo tempo ícone da sedução e girl boss, reconvertida em modelo feminino e/ou feminista no século XXI, Cleópatra continua a fascinar o público. No audiovisual, virou motivo de discórdia pela representação da sua pele — negra em um seriado da Netflix lançado este mês e branca em um filme previsto para 2025. Divulgado semana passada, o cartaz do longa destaca a israelense Gal Gadot no papel-título, o que não ajudou a aquietar as disputas raciais em torno da monarca.

— Cleópatra é um arquétipo poderoso porque ela representa um modelo de mulher que muitos consideram ideal — diz Rache, que já gravou vídeos sobre o processo em seu perfil no TikTok (@helena.rache) e no Instagram (@euhelenarache). — Muitas mulheres acreditam que, para incorporar suas respectivas energias femininas, precisam se tornar pouco assertivas. Outras acreditam que precisam se tornar masculinizadas para serem respeitadas. Mas Cleópatra nos mostra que podemos ser femininas e ainda assim impormos respeito.

'Visão estratégica'

Dependendo do interesse, Cleópatra pode representar o poder feminino tanto no campo amoroso quanto no profissão (ou nos dois ao mesmo tempo). Para incorporar a egípcia, há quem se vista como a rainha em casa, ou durma ouvindo “áudios de ativação” disponíveis nas redes. “Eu sou uma líder, governo com facilidade. (...) Sou uma mulher alfa, tenho visão estratégica”, diz a voz em um áudio produzido pelo @arquetipomagnetico.

Verdadeira “cleópater”, a modelo Yasmin Brunet contou este mês ao videocast PocCast que o arquétipo é um “ímã de homem”, tamanho o seu poder de atração. Para Helena Rache, porém, é mais do que isso: a rainha ajuda a combater o teor negativo associado ao desejo e a sensualidade feminina.

— A sensualidade feminina sempre foi alvo de controle e repressão — diz Rache. — Cleópatra representa uma oposição a isso porque é uma mulher autônoma, que possui domínio sobre sua sensualidade.

Vítima de fake news

A Cleópatra símbolo de empoderamento, porém, é um fenômeno recente, explica a historiadora Tais Pagoto Bélo, da USP. A representação negativa começou logo após a morte dela e de seu último companheiro, Marco Antônio. O imperador Augusto, que havia vencido a aliança da rainha egípcia com o general romano, atacou o rival já morto destruindo a reputação dela. Historiadores pra lá de oficiais descreveram Cleópatra como uma mulher fatal, alimentando a ideia de que Marco Antônio e, antes de dele, Júlio César, haviam sido meras “vítimas” de seu poder de sedução.

— Os romanos tinham uma tendência de não falar mal de seus rivais políticos, se eles fossem romanos e homens. Quando os criticavam, era através de suas mulheres — diz Bélo, especialista em Roma Antiga. — Cleópatra era uma figura que incomodava porque era estrangeira e também porque era uma mulher que ocupava um lugar de poder.

Elizabeth Taylor como "Cleópatra" no filme de 1963 — Foto: Divulgação
Elizabeth Taylor como "Cleópatra" no filme de 1963 — Foto: Divulgação

A representação de femme fatale persistiu na cultura, tanto na tragédia de Shakespeare “Antônio e Cleópatra”, dos primeiros anos 1600, quanto na série de TV “Roma”, quatro séculos depois. Apesar de seu protagonismo nessas histórias, a rainha costuma aparecer ou como uma figura um tanto inconsequente e impulsiva, ou, ainda, como uma mera sombra de Marco Antônio.

Fantasia dos homens

O fato é que se sabe pouco sobre Cleópatra. E justamente por isso todos querem um pedacinho dela, acredita a jornalista Arlete Salvador, autora do livro “Cleópatra” (Editora Contexto, 2011). As lacunas permitem que qualquer um possa se apropriar de sua imagem exuberante. Ela reúne todos os ingredientes de uma personagem de ficção — e ainda assim, é real.

— Cleópatra teve um reino curto, e séculos depois estamos aqui falando dela — diz Arlete. — Sua vida é cheia de grandes elementos: sedução, traição, poder, guerra. É por isso que continua tão resistente. Os homens sonham e fantasiam com esse tipo de mulher.

A série da Netflix, que estreou em maio (à esquerda) e o cartaz do longa previsto para 2025 — Foto: Divulgação
A série da Netflix, que estreou em maio (à esquerda) e o cartaz do longa previsto para 2025 — Foto: Divulgação

Branca ou negra?

O que não mudava na representação de Cleópatra (até agora) era a sua cor. Antes da nova série documental da Netflix, todas as cerca de 40 atrizes que a encarnaram no audiovisual eram brancas, da pioneira americana Theda Bara, estrela de um filme mudo de 1917, à isralense Gal Gadot, em longa que deve chegar em 2025. Até hoje, a que mais fixou a imagem de Cleópatra no imaginário é a britânica Elizabeth Taylor, no longa de 1963.

— Não podemos ter certeza se Cleópatra era branca ou negra, mas o que sabemos é que ela sempre foi construída como branca — diz Tais Pagoto Beló. — É uma história da África feita por brancos, europeus ou americanos, e isso levanta questionamentos do movimento negro.

Cleópatra era africana de origem grega. Seu ancestral Ptolomeu era um general macedônio, mas não se sabe exatamente quem foi sua mãe. O esqueleto de sua irmã mais nova, Arsinoe, indicou que ela tinha características de brancos europeus, antigos egípcios e africanos negros. É impossível realizar o mesmo tipo de análise da rainha, já que sua tumba nunca foi encontrada. Ainda assim, sua representação em moedas antigas indicam traços brancos.

Quebra de paradigma

A decisão de Jada Pinkett Smith, produtora da série da Netflix que leva o nome da rainha no título, de escalar a britânica Adele James, uma atriz negra, foi questionada por alguns historiadores e revoltou os egípcios, que a acusam de apagar a identidade do país. Um abaixo-assinado com mais de 60 mil assinaturas pediu o cancelamento da produção. O caso repercutiu entre o movimento negro brasileiro.

Em seu perfil “Vamos escurecer as coisas”, o estudante de História e influencer Vini Almeida afirmou que os comentários críticos à série refletiam “o racismo estrutural na sociedade e na indústria do entretenimento”. Para ele, personagens historicamente não brancos interpretados por atores brancos não costumam gerar tanto questionamento.

— Uma Cleópatra negra é uma quebra de paradigma essencial para combater uma perspectiva que retrata os negros como meros passivos da violência racial — diz Almeida, que vê a rainha egípcia dentro de um contexto de “ancestralidade subjetiva”. — Vejo nela a representação de um continente que não se resume apenas a escravidão e colonização. Pois existiam rainhas, reis, filosofia e matemática, entre tantas outras coisas.

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