Cultura
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Por Emanoelle Santos, El País

O Spotify está inundado com músicas feitas por inteligência artificial (IA) e excluiu dezenas de milhares delas nesta semana em uma tentativa de conter uma onda de fraudes. A maior empresa de streaming de áudio do mundo diz que as remoções não se deram necessariamente pela origem artificial das músicas, mas sim por uma prática chamada de “streaming artificial”, que envolve o uso de contas falsas (bots) para atuarem como ouvintes e aumentarem o valor pago aos criadores.

Ainda assim, a empresa tem estado na mira de multinacionais que detêm os direitos autorais de grandes artistas por permitir o avanço de músicas feitas por IA. A Universal Music Group, maior gravadora do mundo, vem alertando há meses sobre a proliferação de novas músicas em plataformas como o Spotify, onde cerca de 100 mil canções são adicionadas todos os dias.

No mês passado, o Financial Times revelou que a gigante da indústria da música havia chamado as plataformas de streaming para "reprimir" o uso de IA generativa. — Se a recente evolução explosiva da IA ​​generativa não for controlada, haverá uma avalanche de conteúdo indesejado nas plataformas e problemas relacionados às leis de direitos autorais existentes — alertou o presidente do Universal Music Group, Lucian Grainge.

Um caso em que obras criadas por computadores ganharam atenção foi recentemente, quando faixas falsas, geradas por inteligência artificial, estavam sendo vendidas como músicas supostamente vazadas antes do lançamento do cantor/produtor Frank Ocean.

O negócio fraudulento ocorreu em uma comunidade lotada de colecionadores de música na rede social Discord, conforme revelou o portal Vice, que analisou mensagens e postagens do próprio fórum. Em comunidades como essa, os golpistas vão atrás dos fãs que aguardam ansiosamente novos lançamentos de seus ídolos e os colecionadores, que geralmente comprariam músicas que podem ter vazado antes de seu lançamento oficial.

Os membros dessas comunidades estão preocupados: — Esta situação prejudicou a credibilidade do nosso servidor e resultará em desconfiança de qualquer fornecedor novo e não verificado em todas essas comunidades — disse Gamma, proprietário de um servidor Discord que compila gravações inéditas de Frank Ocean.

Ao Vice, um dos golpistas disse que chegou a contratar um músico para produzir as nove melodias que seriam vazadas do Frank Ocean, com as quais faturou 13 mil dólares canadenses (aproximadamente 46,5 mil reais). É uma operação que busca fazer negócios, repetindo padrões de sucesso em experiências anteriores.

No mês passado, uma suposta música de Drake e The Weeknd, gerada com um software chamado SoftVC VITS, viralizou nas redes sociais e em plataformas de streaming, que remuneram os criadores, até ser apagada pelo Tiktok, YouTube e Spotify.

Avanço do ‘streaming artificial’ com a IA

As dezenas de milhares de músicas agora removidas do Spotify foram geradas pelo Boomy, uma plataforma que usa inteligência artificial generativa para criar músicas com apenas alguns cliques em qualquer navegador da web. Ainda que a validade das canções do tipo seja debatível, o motivo para a retirada, na verdade, é porque essa IA favorece o chamado “streaming artificial”.

O termo refere-se a um golpe que usa bots (robôs) para se passar por ouvintes humanos, a fim de aumentar o número de reproduções de músicas (ou criar novas listas de reprodução contendo essas músicas) e, assim, gerar royalties para os detentores de seus direitos.

Isso significa que as faixas criadas artificialmente, sem nenhum músico ou produtor humano, acabariam recebendo a receita de direitos autorais que deveria ir para os artistas. Conforme noticiado pelo jornal Financial Times, a remoção afetou 7% do número total de músicas do Boomy disponíveis na plataforma.

O fenômeno dessa armadilha não é novo. Antes do nascimento de ferramentas generativas de IA abalar o mercado de música, o Spotify já alertava os artistas para evitar ofertas de serviços para promover sua música usando bots. Em um vídeo postado em seu canal no YouTube no ano passado, os membros da empresa explicaram os riscos de longo prazo de estar vinculado à compra de streams, o que pode levar à exclusão de músicas do Spotify e à retenção da receita de direitos.

O problema está diretamente ligado ao modelo de negócios de plataformas de streaming como Spotify ou Apple Music, que distribuem royalties com base no número de reproduções das músicas. O assunto se agravou nos últimos meses devido à explosão na oferta de serviços que prometem sucesso nessas plataformas por meio da venda online de reproduções de playlists. Basta fazer uma rápida pesquisa no Google por “comprar streams no Spotify” para encontrar uma infinidade de anúncios que prometem exposição e visibilidade de forma simples e barata. Numa delas, mil visualizações no Spotify custam menos de cinco euros (26,7 reais).

Mas agora o negócio avançou com a inteligência artificial generativa. Com músicas geradas por computador, sem recursos artísticos, e tocadas repetidas vezes por bots, os impostores ganharam espaço no Spotify. A plataforma agora busca maneiras de impedir essas fraudes, embora não tenha especificado como fazê-lo. “O streaming artificial é um problema de longa data em todo o setor que o Spotify está tentando erradicar”, disse recentemente um porta-voz da empresa ao Financial Times.

Na França, um estudo realizado pelo National Music Centre constatou que entre 1% e 3% de todas as músicas tocadas nas plataformas de streaming mais populares daquele país foram solicitadas por bots. Este valor, de 2021, representa um número estimado entre um e três milhões de falsas reproduções.

Conforme especificado em seu site, a Boomy detém os direitos autorais de todas as músicas criadas em sua plataforma, embora os usuários recebam 80% dos direitos de distribuição. Assim, eles podem usá-los para fins comerciais e não comerciais, como em um vídeo ou podcast de mídia social. Com a recente exclusão, o Spotify parou de publicar novas músicas desta empresa por apenas cinco dias.

Mais de 14 milhões de músicas foram criadas com o Boomy, que nasceu há dois anos. Sua receita é simples e semelhante a outras ferramentas que utilizam inteligência artificial generativa. O usuário pode escolher um estilo, como música eletrônica ou lo-fi, e os instrumentos base. Então, é possível adaptar os ritmos e o usuário ainda pode adicionar uma voz, própria ou de outra pessoa.

Em menos de um minuto, o programa gera uma música supostamente original, que pode ser compartilhada ou baixada. Porém, em nota esclarecedora enviada ao EL PAÍS, o Spotify rejeita que o principal problema seja a inteligência artificial por trás do desenvolvimento das músicas: “As eliminações não se devem ao fato de a música de Boomy ser gerada por IA. É sobre os padrões de atividade em torno de uma parte dessa música. O Spotify confirmou [ao portal americano] Music Ally que algumas músicas foram removidas após a detecção de streaming artificial. O serviço também excluiu streams dessa música de seus cálculos de direitos autorais”, disse.

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