Cultura
PUBLICIDADE

Por Maria Fortuna — Rio de Janeiro

Nanda Costa passou boa parte de sua vida real interpretando um papel 24 horas por dia. Uma personagem que usava saia lápis para se obrigar a sentar de pernas cruzadas, vestia scarpin até para ir comprar pão na esquina e posicionava a voz num tom mais doce e agudo do que o seu natural. Tudo para evitar “dar pinta”. Valia qualquer esforço para controlar gestos que pudessem ser lidos (ou registrados por paparazzi) como masculinos. Que denunciassem um segredo com o qual nem ela mesma ainda sabia lidar: gostava de mulher.

A atriz de 36 anos primeiro virou o orgulho de sua Paraty natal, protagonizando novelas como “Salve Jorge”, para, só depois, ter coragem de bancar sua sexualidade. O fato de ter se tornado querida antes de “sair do armário”, como diz, a blindou do preconceito quando revelou ser “sapatão”, acredita. Não que tivesse planejado esse percurso. Foi o tempo que levou para se permitir ouvir a voz interna que batalhara por anos para abafar.

Nanda Costa: 'Já sentia uma culpa por ter nascido na hora errada. Minha mãe engravidou aos 16 anos. Então, passei a sentir culpa também por ser diferente. Além de ter vindo antes do tempo, ainda não vim do jeito que gostariam?'  — Foto: Divulgação / Fe Pinheiro
Nanda Costa: 'Já sentia uma culpa por ter nascido na hora errada. Minha mãe engravidou aos 16 anos. Então, passei a sentir culpa também por ser diferente. Além de ter vindo antes do tempo, ainda não vim do jeito que gostariam?' — Foto: Divulgação / Fe Pinheiro

Parte dessa história ela revisita no programa “Do amor e de luta”, que estreia nesta terça-feira (6), no GNT, ao lado de sua companheira, a percussionista Lan Lanh. Essa é uma relação que Nanda demorou quatro anos para assumir, período em que chegou a pedir à namorada que saíssem em carros separados para não serem flagradas juntas. Mas o desconforto ficou no passado e a paixão seguiu tão intensa que rendeu frutos: as gêmeas Kim e Tiê, de 1 ano e meio.

‘Cheia de pelo'

A gravidez elas compartilharam intensamente pelas redes sociais, o que as fez ocupar um lugar de referência entre famílias LGBTQIAPN+. Nesse período, constataram que representatividade era mais importante do que a preocupação em não expor as meninas, o que fazem de forma tranquila para naturalizar outras famílias plurais. É com elas que conversam em quatro episódios, exibidos às terças, 23h15.

O programa marca uma volta mais intensa de Nanda ao batente. Logo que acabou a licença-maternidade, ela chegou a encarnar Konga, a mulher gorila em “Cine Hollywood”, e a Vovó Tartaruga de “The masked singer”. Foram trabalhos que mexeram com sua vaidade.

— Imagina eu, com a autoestima no pé, fazendo a Konga, cheia de pelo, mais ou menos como eu mesma me encontrava (risos)... Depois da Vovó Tartaruga, então, eu pensei: “Pronto, agora é ladeira abaixo, é de Konga para Vovó” — diverte-se.

Nanda estava saindo de uma depressão pós-parto. Emendada com um final de gravidez bastante tenso.

— Tive sangramento e precisei tomar hormônio para segurar até o parto. Tive pré-eclâmpsia, minha pressão subiu demais, fui parar na UTI, meu rim parou de funcionar, corri risco de não resistir — conta. — Daí, minha filha também precisou de UTI, fiquei presa no elevador da maternidade em obras, tudo de ruim aconteceu. Quando achei que tinha acabado, veio o depois... Se me perguntarem o que é o inferno, respondo: o puerpério com depressão pós-parto. Foi a pior coisa do mundo, e dá vontade de dar um empurrão nas mães que romantizam.

Nanda Costa sobre puerpério: 'Minha autoestima foi no pé' — Foto: Divulgação / Fe Pinheiro
Nanda Costa sobre puerpério: 'Minha autoestima foi no pé' — Foto: Divulgação / Fe Pinheiro

A atriz vivia atormentada pelo pânico de não dar conta das bebês. Quando uma saia do peito, a outra entrava. Uma dormia, a outra acordava. Mas o maior medo de Nanda, no entanto, era outro:

— Eu pensava: não vou mais conseguir trabalhar, minha vida acabou. Fiquei dez meses sem dormir. Achava que elas poderiam ter alguma doença, ninguém podia visitar por causa da Covid e houve um falso positivo de um teste do pezinho.

Foi um momento que jogou por terra toda aquela expectativa de bebês fofinhos dormindo no quarto ao lado.

Família: Lan Lahn e Nanda Costa com Kim e Tiê — Foto: Rebecca Alves
Família: Lan Lahn e Nanda Costa com Kim e Tiê — Foto: Rebecca Alves

— A gente idealiza, né? Quando elas nasceram, não foi amor que eu senti de imediato. Antes, veio o medo de perdê-las. Por tudo que havia passado. Corri risco de morte, elas não nasceram com peso suficiente... Tinha medo de sentir esse amor todo e não poder viver aquilo.

Mas pôde. E o amor aumenta à medida que as meninas crescem. O trabalho também voltou com força total. Dia 22, Nanda estreia o filme “Derrapada”, de Pedro Amorim. No longa, ela interpreta uma mulher que foi mãe aos 16 anos, assim como sua mãe.

A atriz também está rodando a segunda temporada de “Justiça”. Linda e loura graças a um mega-hair, Nanda interpreta Milena, que será presa injustamente e, ao sair da cadeia, vai se lançar como cantora de piseiro. Também terá um caso com a personagem de Paolla Oliveira, que vive uma empresária de artistas.

Nanda trabalha ainda na transposição do livro “O ano em que morri em Nova York” para o cinema. A atriz comprou os direitos da obra de Milly Lacombe e estará à frente da produção, ao lado de Patricia Andrade e Kiki Lavigne.

— Talvez eu também faça o papel da Milly e dirija junto. Porque quero que tenha a minha assinatura na forma como a história será contada.

Do apelido de 'macho man' à descoberta da sexualidade

Nanda Costa ficou “maluca” quando seu então namorado, Fernando, um menino delicado e de aparência andrógina, apareceu vestido de mulher num carnaval. A atriz tinha 16 anos e lembra de sair mostrando aos amigos, orgulhosa, “como ele estava linda”. A empolgação foi tanta que o garoto estranhou. Nanda não o beijava daquele jeito quando ele estava “normal”. O episódio acendeu alerta vermelho na menina que, até então, negara seu desejo mais secreto.

Havia crescido como uma garota diferente. Não colocava um vestido no corpo, amava ganhar carrinhos de aniversário e sonhava ser jogadora de futebol. Trocava qualquer brincadeira por uma boa pelada. Encarava de frente a provocação dos meninos que, para constrangê-la, sugeriam que jogasse no time sem camisa. Ela não recuava. Não se deixava abater nem diante do apelido que lhe deram: macho man.

Na escola, evitava intimidade física com amigas. Tinha receio de que pensassem que gostava especialmente daquilo. Quando demorava o olhar em determinada garota, tentava se convencer de que não era atração, mas, vontade de ser como ela.

Só lá pelos 20 anos, Nanda passou a ter suas primeiras experiências com mulheres. Mas até se assumir publicamente foi uma longa jornada. Profissionalmente, não tinha referência de atrizes ou atores que falassem abertamente sobre o assunto. Ouviu que, se revelasse que era gay, atrapalharia a própria carreira.

Após anos de terapia, entendeu que um dos motivos que a fizeram lutar tanto contra sua natureza foi o sentimento de inadequação.

— Já sentia uma culpa enorme por ter nascido na hora errada. Minha mãe engravidou aos 16 anos e precisou abrir mão dos estudos e de muitas coisas. Cresci ouvindo para não repetir o erro dela. Talvez por isso, tenha sido uma criança que não deu trabalho — analisa. — Então, passei a sentir culpa também por ser diferente. Além de ter vindo antes do tempo, ainda não vim do jeito que gostariam? A gente é educada para ser hétero. E eu fingi ser hétero bastante tempo.

Ter vivido uma personagem que engravida na adolescência no filme “Derrapada” conectou Nanda à mãe. E serviu para que a atriz curasse parte de uma dor.

— Rodei quando estava no processo de fertilização. Como eu também estava buscando a maternidade, minha mãe se abriu de forma diferente. Me disse que quis engravidar de mim, que não fui um acidente, o que ouvi a vida toda. Me disse: “Te desejei muito, você não foi um erro, foi meu maior acerto”.

Nanda também foi uma criança sem pai. Ele sumiu no mundo quando ela tinha 1 ano. Tinha, como ela diz, “alma cigana”. Mas também, podemos chamar de privilégio macho. Ela não se ressente da omissão dele. Diz que essa ausência, bastante suprida pela presença do avó materno, foi fundamental para que desenvolvesse a garra de ser independente, de ganhar o próprio dinheiro e o mundo.

Ainda que essa coragem toda tenha vindo bem depois da época em que passava os aniversários esperando que ele aparecesse. O que só veio acontecer quando ela estreou na TV, na novela “Cobras e lagartos”. Aliás, um dos motivos para que escolhesse ser atriz, foi o pai. Achava que, se aparecesse na TV, ele a reconheceria e voltaria. Bingo. Os dois se aproximaram antes de ele morrer, no início do ano. Nanda ficou especialmente feliz de ter tido tempo de apresentar as filhas ao avô por chamada de vídeo.

Mais recente Próxima Sidney Magal recebe alta depois de 11 dias internado
Mais do Globo

Idade avançada continua sendo motivo de preocupação para seus colegas exilados, que temem que Pequim nomeie um sucessor rival para reforçar seu controle sobre o Tibete

Dalai Lama diz que está em bom estado de saúde após cirurgia nos Estados Unidos

Mikel Merino deu a volta na bandeira de escanteio para homenagear o genitor após selar a vitória espanhola na prorrogação

Pai de 'herói' da Espanha na Eurocopa marcou gol decisivo contra alemães no mesmo estádio há 32 anos; compare

O craque aproveitou para agradecer pelo apoio da torcida

Cristiano Ronaldo faz publicação nas redes sociais após eliminação de Portugal na Eurocopa: 'Merecíamos mais'

Com os criminosos foram apreendidos drogas, dinheiro, máquina de cartão de crédito e diversos celulares roubados

Polícia Civil prende em flagrante três homens por tráfico e desarticula ponto de venda de drogas no Centro

Sem citar caso das joias, ex-presidente citou ‘questões que atrapalham’ e criticou a imprensa

Após indiciamento por joias, Bolsonaro é aplaudido em evento conservador ao dizer estar pronto para ser sabatinado sobre qualquer assunto

Embora Masoud Pezeshkian tenha sido eleito com a defesa do diálogo com nações ocidentais, decisões sobre política externa ou nuclear permanecem sob aiatolá Ali Khamenei

Vitória de candidato moderado no Irã pode aliviar, mas tensões nucleares não vão acabar, dizem analistas

Notícia foi dada pelo neto, Fidel Antonio Castro Smirnov

Morre Mirta Díaz-Balart, primeira mulher de Fidel Castro e mãe de um de seus filhos

Mãe da filha caçula do compositor, Claudia Faissol afirma ter sido companheira dele entre 2006 e 2017

Herança de João Gilberto: jornalista pede à Justiça reconhecimento de união estável com o gênio da Bossa Nova

Esse tipo de câncer surge de células que se desenvolvem nos músculos, sendo muito comum na infância; congestão nasal e olhos lacrimejantes estão entre os sintomas

O que é rabdomiossarcoma? Tumor que foi confundido com rinite e levou à morte de menino de 13 anos