Cultura
PUBLICIDADE

Por Alex Marshall, do New York Times — Nova York

Após anos de apelos ignorados, negociações para a devolução à África de alguns dos tesouros mais valiosos do continente estavam finalmente se concretizando. A Smithsonian Institution, o Metropolitan Museum of Art e o governo alemão anunciaram que estavam devolvendo dezenas de esculturas, placas e ornamentos, os chamados Bronzes de Benin, que foram saqueados em 1897 por soldados britânicos na cidade de Benin, na atual Nigéria.

Contudo, o plano fracassou quando o presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, decidiu que os itens a serem repatriados pertencem a um descendente direto do antigo dono dessas relíquias. Trata-se de Ewuare II, o atual obá, uma espécie de rei de Benin.

O anúncio de Buhari, que deixou o cargo no último dia 29, ocorreu em março. Esse contratempo mostra como podem ser complexos os esforços de restituição do tesouro — que inclui placas de latão decoradas, estátuas de marfim esculpidas e máscaras cerimoniais.

A decisão, que só recentemente veio à tona fora da Nigéria, é vista como um movimento para encerrar a longa disputa sobre quem é o legítimo dono dos bronzes: o governo da Nigéria ou o próprio obá.

Ewuare II quer que os bronzes sejam expostos em museus da Nigéria e do mundo, segundo um representante da família real. Mas a transferência dos tesouros para mãos privadas preocupa museus que estão negociando a devolução dos itens. No mês passado, por exemplo, a Universidade de Cambridge adiou a cerimônia de devolução de 116 bronzes.

Bronzes de Benin em exibição no Fórum Humboldt, um complexo de museus em Berlim. Os museus de Berlim contêm mais de 1.000 bronzes, embora não os possuam mais — Foto: Andreas Meichsner/The New York Times
Bronzes de Benin em exibição no Fórum Humboldt, um complexo de museus em Berlim. Os museus de Berlim contêm mais de 1.000 bronzes, embora não os possuam mais — Foto: Andreas Meichsner/The New York Times

Fontes afirmam que as instituições ocidentais não deveriam interferir na discussão. “Não é da conta do Smithsonian” o que acontecerá com os bronzes, diz Linda St. Thomas, porta-voz do Smithsonian, que ano passado entregou 29 bronzes para o país africano. A Nigéria pode “dá-los, vendê-los, exibi-los”:

— Em outras palavras, eles podem fazer o que bem quiserem — garante ela.

‘Um desastre’

Hermann Parzinger, presidente do órgão que supervisiona os principais centros públicos dos museus de Berlim — onde centenas de bronzes são mantidos — disseram à imprensa que havia “uma necessidade urgente de esclarecimento”sobre quem é o proprietário dos itens e se eles ainda serão exibidos na Nigéria.

O governo alemão se comprometeu a transferir para o país africano a propriedade de mais de mil bronzes saqueados. Num gesto simbólico, em dezembro passado a Alemanha devolveu os primeiros 20 itens. Mas, três meses depois, o anúncio de Buhari causou consternação entre legisladores e jornais alemães, que questionam se o país não agiu precipitadamente ao transferir de volta as coleções de bronze.

Museu Britânico, em Londres, exibe dezenas de obras de Benin: “Saques coloniais”, diz especialista — Foto: LAUREN FLEISHMAN
Museu Britânico, em Londres, exibe dezenas de obras de Benin: “Saques coloniais”, diz especialista — Foto: LAUREN FLEISHMAN

Christiane Schenderlein, porta-voz do partido de centro-direita União Democrática Cristã, disse que os bronzes eram tesouros mundiais que deveriam estar em exibição pública. A decisão de entregá-los a um grupo particular, sem garantias de que será exposto, foi “um desastre”, disse ele.

A antropóloga suíça Brigitta Hauser-Schäublin ressalta que a Alemanha não havia considerado adequadamente questões de propriedade ao devolver os itens. Benin trocara escravos pelo metal usado para fabricá-los, acrescentou ela, e por isso os descendentes de pessoas escravizadas deveriam ter sido envolvidas nas negociações sobre onde as peças serão exibidas e quem se beneficia com elas.

A saga dos bronzes é anterior à Nigéria, bem como à época dos protetorados britânicos do norte e do sul da Nigéria; antes disso, a área era um mosaico diversificada de reinos e impérios.

Máscara da coleção de bronzes africanos do Horniman Museum, em Londres. Peças têm significado religioso — Foto: The Horniman Museum
Máscara da coleção de bronzes africanos do Horniman Museum, em Londres. Peças têm significado religioso — Foto: The Horniman Museum

Em 1897, cerca de 1.200 soldados britânicos invadiram o Reino de Benin na esperança de depor seu obá e se vingar de forma sangrenta pela morte de oficiais coloniais. Eles encontraram no palácio do obá esse tesouro de valor inestimável e saquearam toda a coleção antes levar grande parte para a Grã-Bretanha. Milhares de africanos foram mortos no ataque. A maioria da coleção saqueada foi enviada para a Inglaterra ou comercializada em todo o mundo, tornando-se atrações de destaque em instituições respeitáveis.

Quando a Nigéria conquistou a independência, em 1960, começou a pedir que os objetos fossem devolvidos, mas só recentemente os museus começaram a colaborar. A opinião está dividida sobre quem deve recebê-los, mas muitos na cidade de Benin pensam que, como os itens foram roubados antes da existência da Nigéria, seria inapropriado entregá-los ao seu governo federal.

Especialistas jurídicos nigerianos disseram ao New York Times que Bola Tinubu, o novo presidente da Nigéria, pode emitir uma declaração para anular a de seu antecessor. Mas poucos administradores de museus pareciam se arrepender de ter decidido devolver os bronzes. Barbara Plankensteiner, diretora do Museu Rothenbaum, de Hamburgo, Alemanha, disse que eventos recentes mostraram que a restituição era um processo complexo, provavelmente atingido por obstáculos.

— Os bronzes de Benin são saques coloniais — disse ela, e devem ser devolvidos como qualquer propriedade roubada. Cabia à Nigéria decidir o que aconteceria com os itens em sua posse, acrescentou.

Na cidade de Benin, o príncipe Aghatise Erediauwa, irmão mais novo do obá, diz que qualquer ocidental ou funcionário nigeriano que critica a propriedade do obá estava “fomentando a discórdia”.

Ele afirmou que muitos dos bronzes têm significado religioso, e que o obá Ewuare II, formado na Universidade de Rutgers e na Universidade de Gales, fez campanha pela volta dos bronzes por décadas, inclusive quando atuou nas Nações Unidas, em Nova York, e como embaixador da Nigéria na Itália.

Mais recente Próxima Autora de 'O homem de giz', C.J. Tudor troca o romance pelo conto em livro com histórias de horror
Mais do Globo

Ainda há chances de medalha: se passar da Sérvia, irá disputar o bronze

Olimpíadas de Paris: equipe brasileira do judô perde nas quartas de final e vai à repescagem

Moçambicana briga para ter reconhecida a união estável com o artista

Maria do Céu Harris precisa ser avisada sobre administração da herança deixada por João Gilberto, decide a Justiça

Mulher do príncipe William não queria ser comparada à sogra, Lady Di

Kate Middleton quase recusa o título de princesa de Gales

Campeã olímpica se imaginou numa 'competiçãozinha' no interior de São Paulo

Como série Grey's Anatomy e joguinho de celular ajudaram Beatriz Souza a conquistar ouro no judô

Avaliação do atual mandato do presidente é similar à feita do seu primeiro mandato, com 35% de 'ótimo ou bom', mas abaixo em relação ao segundo, com 64% nessa mesma categoria

Avaliação de Lula é igual à de Bolsonaro com mesmo tempo de mandato, diz Datafolha

Os jogos de handebol feminino acontecem nesta sábado (3) pelas Olimpíadas de Paris 2024, a partir de 9h. Brasil faz sua quinta partida contra a Angola

Brasil x Angola: onde assistir e horário do jogo de handebol feminino nas Olimpíadas 2024

Saiba quem mais foi convidado para a produção

Fernanda Montenegro vai estrelar filme dirigido por seu filho