Cultura
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Por Gustavo Cunha — Rio de Janeiro

Amigo, colega e parceiro profissional de Zé Celso — com quem fundou, na década de 1960, a longeva companhia Teatro Oficina —, o diretor Amir Haddad destaca, em depoimento ao GLOBO, lembranças cultivadas ao lado do diretor, que morreu, nesta quinta-feira (6), em decorrência de complicações por queimaduras de um incêndio em casa.

'Zé Celso cultivou a liberdade de fazer o que bem tivesse vontade'

Leia o depoimento de Amir Haddad, na íntegra, a seguir:

"No momento em que desaparece materialmente uma figura tão importante, determinante e participante na cultura, é necessário relembrar da vida. Não dá para falar sobre a morte de Zé Celso. Só é possível discorrer acerca da vida. Falemos de tudo o que ele fez e realizou — e daquilo que ele significa, significou e continuará significando na vida pública brasileira, sobretudo para o teatro.

Zé Celso correu passo a passo comigo. Começamos e caminhos juntos — eu sempre do lado dele, e ele sempre do meu lado. Fundamos o Teatro Oficina, numa época em que dividíamos os bancos de escola da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a USP. Tínhamos uma identidade em comum devido às nossas inquietações. Nesse período, havia um grupinho que se sentava junto nas salas para conversar sobre outras coisas e não prestar atenção nas aulas: éramos eu, Zé Celso, Renato Borghi, Moracy do Val e Carlos Queiroz Telles. Compúnhamos uma turminha que olhava a vida, um pouco desligado de tudo, enquanto esperávamos que algum caminho se apresentasse para nós.

Pelo terceiro ano da faculdade, Renato Borghi me convidou para dirigir a peça "Cândida", de George Bernard Shaw, no auditório do Colégio São Bento, onde ele havia estudado antes. E eu falei 'tá bom', com certa inconsequência que todos nós compartilhávamos. E ali a gente foi se descobrindo. Éramos um bando de jovens talentosos, e a montagem deu muito certo, com vários elogios. Fomos então sendo chamados para outros lugares e seguimos caminhando, com essa paixão pelo teatro que floresceu por meio de nosso desinteresse no curso de Direito. Está aí a origem do grupo Oficina. Tudo foi fruto de um processo, sabe? Não houve um dia em que falamos assim: 'Fundamos a companhia'. Entendemos, pouco a pouco, essa vocação em nós.

Nesse início, Zé Celso era escritor. Ele não tinha nenhuma pretensão de ser diretor ou ator. O que queria mesmo — e gostava — era escrever. A formação era a seguinte: Zé fazia os textos, eu dirigia e Renato atuava. Mais tarde, quando começamos a montar pequenas peças nas casas de algumas pessoas em São Paulo, num esquema que chamávamos de 'teatro a domicílio' — em troca de um bom lanche —, a coisa foi mudando. E pronto: Zé Celso foi embora na vocação dele.

Zé era uma pessoa de personalidade muito forte. Para mim, era uma ameça enorme ter essa presença do meu lado. A todo momento, achava que ele era melhor do que eu. Mas nunca falei isso para ninguém. Não pude mais ficar perto dele, nem na mesma cidade. Zé Celso era excepcional e imorredouro. Um artista grande mais. Acabei saindo fora, porque não cabia mais eu. E deixei para ele São Paulo, essa cidade que é maior do que o próprio Brasil.

Zé Celso cultivava um descompromisso com qualquer coisa pronta. Essa é a maior marca dele, e única na linguagem que desenvolveu. Ele cultivou a liberdade de fazer o que bem tivesse vontade. Sempre foi muito livre. 'O Rei da vela', criação dele, é um dos melhores espetáculos que eu já vi em toda a minha vida. Lembro de ficar encantado ao assistir à peça. À época, eu era diretor do Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, e imediatamente dei um jeito de trazer aquela montagem para a cidade. Foi um sucesso enorme, retumbante.

Fará muita falta, Zé Celso. Fica um buraco agora. O teatro brasileiro não tem peça de reposição para Zé Celso. A vida cultural brasileira que o produziu não produz mais pessoas dessa qualidade. Espero que a gente continue semeando o novo, como Zé Celso fazia — e que essas sementes frutifiquem".

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