Nada mudou, nada mudará. A conclusão a que chega Marcelo Drummond, acerca da disputa judicial entre o Teatro Oficina e o Grupo Silvio Santos, em São Paulo, não traz lá muita novidade. Um mês após a morte de Zé Celso, fundador da companhia teatral mais antiga do Brasil, o ator e viúvo do diretor afirma que representantes do dono do SBT não demonstraram, até agora, qualquer alteração de postura com relação à antiga batalha pelo terreno contíguo à sede do teatro. "Eles querem dinheiro. É tudo por dinheiro. Dê o dinheiro e eles entregam", afirma Drummond.
Em entrevista ao "Uol", Marcelo Drummond lembra que, em 2017, Zé Celso recebeu uma ligação telefônica de Silvio Santos. Na ocasião, segundo Drummond, o apresentador e empresário teria oferecido a divulgação da peça "O Rei da Vela" na programação da emissora e ressaltou que faria de Zé um homem rico. Em troca, o diretor precisaria abrir mão da área ao redor do teatro, que — no projeto original da arquiteta Lino Bo Bardi —, se transformaria num parque cultural e público. À época, ao comentar o fato, Zé Celso revelou que Silvio havia ofertado R$ 5 milhões para que ele desistisse da disputa imobiliária.
"Vi o Silvio Santos ligando lá para casa. Atendi o telefone e passei para o Zé. Era a secretária do Silvio. O Silvio Santos oferecendo dinheiro para ele desistir", rememorou Marcelo Drummond. "E o Zé respondeu: 'Você já foi mais elegante'. Foi antes de 'O Rei da Vela'. Aí sugeriram que ele daria dinheiro e daria muita propaganda no SBT. Para o Zé ficar rico. E o Zé não aceitou".
Veja fotos do dramaturgo José Celso Martinez, o Zé Celso
Ao longo de quatro décadas, o diretor e dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa — que morreu, aos 86 anos, em julho deste ano — empreendeu uma luta na Justiça para que o projeto original do Teatro Oficina, de 1958, fosse mantido. A sede da icônica companhia teatral, no bairro paulistano do Bixiga, foi reformada entre 1984 e 1994, com projeto de Lina Bo Bardi (1914 -1992) e Edson Elito, e é considerada patrimônio histórico pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). O edifício tem como característica uma grande janela lateral, que permite ver a cidade durante as montagens. Há 43 anos, porém, o apresentador e empresário Silvio Santos comprou um terreno contíguo ao teatro para erguer um prédio com mais de cem metros de altura para o Grupo Silvio Santos.
Com o tombamento do local em 1981, Silvio Santos viu-se impossibilitado de empreender construções no terreno. Desde então, o dono do SBT não desistiu do local. Em 2017, o Grupo Silvio Santos conseguiu reverter na Justiça a decisão do Condephaat. E o fato se arrasta, desde então, na Justiça.
Silvio Santos e Zé Celso se encontraram em várias reuniões, mas não houve uma solução consensual. Um "abraçaço" no quarteirão do Oficina, convocado por Zé Celso, reuniu em 2017 mais de mil pessoas, entre elas o apresentador Marcelo Tás, o ator Sérgio Mamberti, o cantor Otto e o então vereador Eduardo Suplicy (atualmente deputado estadual pelo PT).
No ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) proibiu a prefeitura de autorizar a construção de um empreendimento imobiliário com mil apartamentos no terreno, que havia sido liberada pelos órgãos de preservação municipais. Um projeto para a criação do Parque do Bixiga (que seria negociado com uma permuta de terrenos com Silvio Santos) foi aprovado em duas votações, mas acabou vetado em 2020 pelo prefeito em exercício Eduardo Tuma. O Grupo Silvio Santos recorreu à segunda instância. Até o momento, representantes do SBT não se manifestaram sobre as declarações de Marcelo Drummond.