Cultura
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Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro

A menina dentuça, de vestido vermelho e força de sobra, que anda pelo bairro do Limoeiro com sua turma — e seu inseparável coelhinho de pelúcia — está há seis décadas na vida dos brasileiros. Em 1963, Mauricio de Sousa se inspirou na filha Mônica para criar a mais famosa personagem infantil do Brasil. Sessenta anos depois, no clima do Dia dos Pais, ele se une a outro filho, Mauro Sousa, para celebrar sua criação e pensar em novos projetos.

Para comemorar o aniversário da “dona da rua”, Mauro, como diretor e produtor, e Mauricio, como supervisor geral, criaram o espetáculo “Circo Turma da Mônica — Mônica 60”. Após temporada no Teatro Bradesco, em São Paulo, o espetáculo estreou essa semana na Cidade das Artes, Zona Oeste do Rio, onde fica em cartaz até o dia 27. A produção conta com artistas circenses, atores, bailarinos, cantores e atletas para navegar por esses 60 anos da personagem, desde o nascimento até a “adolescência” na forma da “Turma da Mônica Jovem” — que tem filme em produção, assim como Chico Bento, enquanto a série com a turma “mais jovem” deve ter uma segunda temporada no Globoplay.

— Estou muito feliz com este momento — diz Mauricio, aos 87 anos, em entrevista por telefone ao lado de Mauro. — A Mônica merece uma grande festa de aniversário. Merece teatros lotados, filmes e tudo mais. Trabalhamos para que nossas criações estejam no cinema, no gibi e no coração das pessoas.

Na vida de Mauricio, suas criações e crianças se confundem. O quadrinista teve dez filhos e homenageou todos com personagens em suas HQs. As mais conhecidas do grande público são Mônica e a comilona Magali (inspirada em Magali Spada, um ano mais nova que a irmã), mas todos tiveram seu espaço, no gibi e na firma. Afinal, o pai da “Turma da Mônica” faz questão de manter a Mauricio de Sousa Produções (MSP) como um empresa familiar.

— Trabalhar em família facilita a vida e a produção. Nada como trabalhar com filhos que você conhece durante toda a vida. Sou um felizardo — diz Mauricio.

Mauricio de Sousa e Mauro Sousa — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Mauricio de Sousa e Mauro Sousa — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Inspirador do personagem Nimbus, garoto que ama mágica e foge de trovões, Mauro está há 12 anos na empresa. Ele lembra que não foi fácil separar a relação pessoal e profissional.

— Tivemos DRs, mas tudo funcionou para construirmos essa relação de pai/chefe e filho/empregado — conta Mauro, de 36 anos. — É um grande privilégio poder continuar o legado que meu pai construiu.

De casa para as telonas

Hoje responsável pela área de espetáculos da MSP, Mauro lembra que tinha sete anos quando começou a entender quem era seu pai e que ele próprio era um personagem dos quadrinhos. Ele brinca que se tornou uma “criança exibida”, que estava sempre de boca cheia para falar do pai. Agora, vê que por trás daquela postura convencida havia na verdade um grande orgulho.

Orgulho que é recíproco. Partiu de Mauricio a sugestão de que Mauro o interpretasse nos cinemas, em cinebiografia dirigida por Pedro Vasconcelos e que deve entrar em cartaz nos próximos meses. O longa, ainda sem título oficial, acompanha a vida do criador da “Turma da Mônica” desde a infância até o sucesso. Elizabeth Savalla, Thaty Lopes, Natalia Lage, Emílio Orciollo Neto, Zezé Motta e Othon Bastos também estão no elenco da produção.

— Foi uma experiência que tenho até dificuldade de descrever. Tive todos os sentimentos que alguém pode sentir. De felicidade e amor profundo a um medo e ansiedade extrema — relata Mauro. — Vamos mostrar um Mauricio sonhador, otimista com tudo, apesar de todos os obstáculos que encontrou pela vida.

Mauro Sousa interpreta o pai, Mauricio de Sousa, em filme inédito de Pedro Vasconcelos — Foto: Divulgação
Mauro Sousa interpreta o pai, Mauricio de Sousa, em filme inédito de Pedro Vasconcelos — Foto: Divulgação

Mauro conta que aprendeu muito sobre Mauricio durante as filmagens, pois sempre que ligava para tirar uma dúvida, o quadrinista passava horas contando histórias. O pai coruja lembra que os primeiros passos do filho na atuação foram em “produções domésticas”, quando era dirigido pela irmã Marina.

— Marina era uma diretora muito severa — brinca o pai. — Ele estudou teatro em Nova York, fez cursos, e desde criança o via em casa brincando de atuar. É uma coisa mágica ver o Mauro me interpretando, sempre confiei muito.

'A filosofia mauriciana'

Aos 7 anos, Mônica fez sua estreia nas tirinhas do Cebolinha, em 1963. Inicialmente, ela não era a protagonista, mas isso não demorou a mudar. Em 1970, foi lançada a primeira edição da revista “Mônica e a sua turma”, pouco depois rebatizada como “Turma da Mônica”. De lá para cá, o resto é história — e não somente em quadrinhos. A personagem estrelou gibis, séries, filmes, conteúdos para a internet, foi tema de jogos de tabuleiro e videogames e “garota propaganda” dos mais diversos produtos.

Evolução da Mônica — Foto: Divulgação
Evolução da Mônica — Foto: Divulgação

No momento, não apenas ela, mas toda a turma tem projetos em andamento. O filme “Turma da Mônica Jovem: reflexos do medo”, de Maurício Eça, teve as filmagens concluídas no primeiro semestre e chega aos cinemas em 28 de dezembro. Na última sexta-feira, Fernando Fraiha encerrou, no interior de São Paulo, as gravações do longa “Chico Bento e a goiabeira maraviósa”, com lançamento previsto para 2024. E ainda existem conversas para uma segunda temporada de “Turma da Mônica — A série”, de Daniel Rezende, no Globoplay.

Diretor Fernando Faiha com os atores Isaac Amendoim (Chico Bento) e Anna Julia Dias (Rosinha) em "Chico Bento e a goiabeira maraviósa" — Foto: Divulgação / Fábio Braga
Diretor Fernando Faiha com os atores Isaac Amendoim (Chico Bento) e Anna Julia Dias (Rosinha) em "Chico Bento e a goiabeira maraviósa" — Foto: Divulgação / Fábio Braga

A série conta com o mesmo elenco dos filmes “Turma da Mônica: Laços” (2019) e “Turma da Mônica: lições” (2021), ambos dirigidos por Rezende e sucessos de bilheteria.

Antes dessas produções, Mauricio chegou a duvidar das possibilidades de adaptação de suas histórias com atores infantis. Nos anos 1980, seus personagens foram protagonistas de filmes de animação que fizeram sucesso nos cinemas, com destaque para “A princesa e o robô” (1984). Mas a desconfiança ficou para trás e hoje ele comemora que grandes artistas estejam sendo formados em suas produções. A felicidade com seus atores é tanta que Mauro e Mauricio convocaram Giulia Benite, a Mônica de “Laços”, “Lições” e da série, e Sophia Valverde, a Mônica do inédito “Turma da Mônica Jovem”, para participações especiais por meio de projeções mapeadas no circo em cartaz

‘Turma da Mônica Idosa’

A dois meses de completar 88 anos, Mauricio não quer saber de se aposentar. Ele concede a entrevista ao GLOBO diretamente de seu escritório, de onde trabalha quase todos os dias e lida com as questões criativas e comerciais da empresa. No momento, trabalha com a ideia de criar uma “Turma da Mônica Idosa”, com uma Mônica contadora de histórias.

— A cabeça pensa tudo ao mesmo tempo. Adoro tudo que eu faço. Adoro o desenho e os projetos que desenvolvemos — destaca o cartunista. — Sou muito feliz com minha equipe, e é especial ver que meus filhos estão aí colaborando para que o estilo e a filosofia do que fazemos se mantenham.

Mauro é testemunha da atuação incansável do pai:

— Meu pai ama o que faz. Ele acorda e dorme pensando no trabalho. Trabalho, para ele, é amor. É o tempo inteiro pensando. É o que o mantém feliz e vivo. Esta é a filosofia mauriciana

Em abril deste ano, o quadrinista, que em 2022 recebeu o prêmio Faz Diferença, do GLOBO, concorreu à cadeira número 8 da Academia Brasileira de Letras, mas acabou superado pelo filólogo e linguista Ricardo Cavaliere.

— Não significa que não voltarei a concorrer. Se houver possibilidade, pode ser que volte a falar sobre isso. No momento, estou fora — diz Mauricio, que afirma ter muito orgulho de colaborar para a alfabetização indireta de milhões de brasileiros por meio de seus gibis. — Gosto tanto do que faço e do que fiz, que só quero continuar assistindo ao espetáculo enquanto puder.

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