Cultura
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Quarenta anos separam a abertura da primeira Bienal do Livro do Rio, no hotel Copacabana Palace, e a da 21º edição, que acontece entre 1º e 10 de setembro no Riocentro. Ao longo dessas últimas décadas, o principal evento de entretenimento e literatura da cidade refletiu as mudanças sociais, econômicas e culturais do país, mas também a evolução do mercado editorial. Nesse meio-tempo surgiram, por exemplo, novas mídias e tecnologias, deixando para trás os modestos estandes e sessões de autógrafos.

Mas, diferentemente do que muitos previram, a concorrência com outras formas de entretenimento não matou o livro. Pelo contrário, ela o valorizou, diz Marcos da Veiga Pereira, vice-presidente para Assuntos Administrativos do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), que organiza o evento junto com a GL Events Brasil. Afinal, o livro se tornou o centro de um grande sistema no qual gravitam filmes, games, grupos de fãs, parques de diversões, conteúdos de influencers em mídias sociais.

— Nas primeiras bienais, o que tínhamos para oferecer eram apenas as sessões de autógrafos — lembra Pereira, que participou das primeiras edições quando ainda era editor da Salamandra. — Era a forma como o público interagia com os autores na época. Hoje temos auditórios, debates, shows e festas. Quando a Leya põe em seu estande o trono do “Game of thrones” (série de sucesso inspirada em uma saga de livros escritos por George R. R. Martin), vira um evento. E isso vende muito livro.

Planta baixa da Bienal do Livro de 1987 — Foto: Divulgação
Planta baixa da Bienal do Livro de 1987 — Foto: Divulgação

A Bienal, agora quarentona, soube perceber esse fenômeno plural. Considerada histórica por conta da efeméride, a 21ª edição do evento reunirá literatura e entretenimento tradicionais, mas apresentando também narrativas além dos livros. Com expectativa para receber de 600 mil pessoas ao longo de dez dias, vai reunir mais de 300 autores e personalidades (nacionais e internacionais) em mais de 200 horas de atrações.

Matéria-prima

Diretora de Negócios da GL Events Brasil, Tatiana Zaccaro acredita que as próximas bienais apontam para uma relação cada vez mais elástica com o livro:

— Se o evento começasse hoje, talvez não se chamasse Bienal do Livro, mas Bienal das Histórias ou Bienal das Narrativas. A matéria-prima nunca vai deixar de ser o livro, porque é ele que dá origem a tudo, mas a gente pode expandir as fronteiras.

A Bienal passou por muitas fases antes de ganhar ares de megaevento. Criada por um grupo de editoras e livrarias, foi inicialmente batizada como Feira Internacional do Livro. E, de fato, o formato da primeira edição se aproximava de uma — modesta — feira. Mas há diferenças: uma feira é um local com volume de oferta maior do que o das nas livrarias, e só. Já a Bienal dos anos 2020 é um evento cultural muito mais completo, com maior número de atrações e interação entre público e autores.

— Naquela época, era uma coisa romântica, pequena e ainda experimental — lembra o editor Eduardo Salomão, organizador do livro “A grande festa do livro: 40 anos da Bienal Internacional do livro do Rio de Janeiro”, que será lançado no dia 1º, na abertura do Café Literário, um dos espaços desta 21ª Bienal. — O público procurava só o livro. Hoje, ele vai em busca de mais.

A primeira Bienal, no Copacabana Palace — Foto: Juscelino Sorrentino / Agência O Globo
A primeira Bienal, no Copacabana Palace — Foto: Juscelino Sorrentino / Agência O Globo

Já na primeira edição, em 1983, a Bienal do Livro recebeu grandes convidados, como Luis Fernando Verissimo, João Ubaldo Ribeiro e Antonio Callado — além de Gilberto Freyre, que celebrava os 50 anos de “Casa-Grande e senzala”. Os nomes ilustres continuaram marcando presença ao longo das décadas. Dois dos autores brasileiros mais vendidos da história, Paulo Coelho e Jorge Amado tiveram um encontro marcante em 1995. O português José Saramago compareceu em 1999, um ano após receber o prêmio Nobel da Academia Sueca. Dois dos maiores responsáveis pela formação de leitores no país, Mauricio de Sousa e Ziraldo lançaram livro juntos em 2011.

Eduardo Salomão participou de todas as edições do evento, ora como expositor, ora como organizador. E testemunhou a evolução.

— Na primeira edição, algumas poucas pessoas faziam todo o trabalho, montavam o estande e atendiam o público — lembra. — A coisa foi ficando cada vez mais sofisticada e ganhou uma outra dimensão. É muito difícil encontrar hoje um evento igual a esse, que não apenas reúne um público enorme como cria um movimento cultural enorme.

Os números falam por si só. Em sua estreia, a Bienal teve 86 expositores e 104 estandes montados lado a lado dentro do Copacabana Palace, num espaço relativamente apertado: 1.500 metros quadrados. Cerca de 20 mil pessoas passaram pelo evento — um público considerado satisfatório pelos organizadores. Agora comparemos com a última edição, de 2021. Ainda sob restrições da pandemia, o Riocentro teve 250 mil visitantes nesses mesmos dez dias. Na edição anterior à Covid, em 2019, foram mais de 500 mil.

Após conhecer a elegância do Copa, a Bienal foi transferida para o São Conrado Fashion Mall em 1985 e, em 1987, encontrou seu cenário atual, o Riocentro, em Jacarepaguá. Ocupando, na época, sete mil metros quadrados de área útil no pavilhão de convenções do complexo, consolidou-se como o evento editorial mais importante do país. Tanto que, agora, ocupa nada menos do que 90 mil metros quadrados no mesmo Riocentro.

O livro “A grande festa do livro: 40 anos da Bienal Internacional do livro do Rio de Janeiro” mostra o perfil do “leitor médio” que passou pela primeira edição do evento: pouco mais de 30 anos, curso universitário completo, renda de média para alta, amante da literatura de ficção, mas também interessado em ciências.

De lá para cá, o perfil do leitor médio rejuvenesceu consideravelmente. Em 2007, 13% dos visitantes tinham entre 20 a 29 anos e 11%, de 15 a 19 anos. Em 2021, metade do público tinha entre 18 e 25 anos. Atenta a esse fenômeno, a Bienal foi oferecendo atrações para esse nicho, como a Arena Jovem, criada em 2007 e considerada um divisor de águas no tratamento dos autores como astros pop. Nomes como Meg Cabot, Christian Figueiredo, Kéfera Buchmann e Larissa Manoela passaram por lá atraindo multidões.

A escritora Thalita Rebouças na Bienal de 2019 — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
A escritora Thalita Rebouças na Bienal de 2019 — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Poucos autores encarnam esta transição como Thalita Rebouças. Ela esteve em todas as bienais desde 2001 (e estará novamente nesta, distribuindo autógrafos nos dias 2, 7 e 8), conquistando o leitor mais jovem com coleções como “Fala sério”. Ela já vendeu três milhões de livros, e a Bienal foi parte importante nesse sucesso.

— Sempre falo que a época em que as pessoas costumam perder o interesse nos livros é justamente entre a infância e a adolescência: é aquele pré-adolescente que fica sem os livros com ilustração e fica achando chata a leitura de livros só com texto — diz ela. — A Bienal é um evento divertido em que as pessoas vão lá para ver painéis, conhecer e olhar no olho os seus autores preferidos.

Esta ligação com os mais jovens fez da Bienal um polo importante na formação de leitores. Desde 1997, o projeto de visitação escolar garante a entrada livre na Bienal para alunos da Secretaria Municipal de Educação do Rio, que também são beneficiados com um voucher para a compra de livros.

— É muito comum ouvir as pessoas dizerem que compraram seu primeiro livro na Bienal, e em muitos casos isso aconteceu durante a visitação escolar — diz Tatiana Zaccaro. — É muito bacana andar pela Bienal e ver um grupo de crianças combinando: “Ah, então você compra esse e eu, esse, e depois a gente troca”.

Segundo Zaccaro, a Bienal vende hoje, em média, seis a sete livros por pessoa. Um número maior do que a média anual de leitura dos brasileiros, que não chega a cinco títulos, conforme aponta a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro.

—A Bienal virou uma potência para o mercado editorial porque conseguiu o fenômeno de sensibilizar sobre a importância da leitura e fazer com que elas consumam livros, mas não só — diz Tatiana. — Acho que o futuro é cada vez mais romper com a ideia de que um livro é só um papel que você carrega na mão. As histórias que estão no livro estão em vários outros lugares, no audiovisual, no game ou em um parque de diversões.

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