Foi como uma máquina do tempo. Quem esteve no Espaço Unimed, casa de shows na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, no último dia 7, se transportou para o início dos anos 2010. As calças coloridas de boa parte da plateia (majoritariamente composta de empolgadas jovens) entregavam quem logo subiria ao palco. Dez anos depois do fim, a banda Restart voltou.
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O quarteto formado por Pe Lanza, Pe Lu, Koba e Thomas, expoente entre as “bandas coloridas” (nomeadas assim em oposição ao visual escuro das bandas emo), se reuniu para uma turnê que vai correr o Brasil. O nome, sugestivo, vem de um hit do grupo: “Pra você lembrar”. Ontem, eles se apresentaram na Fundição Progresso, na Lapa, região central do Rio, em noite de ingressos esgotados. Em agosto, o quarteto deu entrevista ao GLOBO num hotel na Barra, onde estava hospedado por ocasião da gravação de um programa de TV.
— Olhando pra cena do rock, vivemos o melhor momento. Todo mundo fez as pazes — pontua Pe Lanza.
A frase tem motivo. No auge, o Restart foi perseguido por alguns de seus pares. Chorão, Dinho Ouro Preto e Tico Santa Cruz foram alguns dos detratores — os dois últimos, aliás, já pediram desculpas por críticas passadas.
Início underground
Os integrantes da Restart se conheceram no colégio franciscano João XXIII, em São Paulo. Entre um corredor e outro, munidos de violão e com gostos musicais em comum, se aproximaram. Tiveram, por volta dos 15 anos, uma banda chamada C4, que percorreu a cena underground de São Paulo. Depois, mudaram o nome para Restart e importaram dos EUA conceitos e até figurinos.
Um dia, uma amiga voltou de viagem com uma mala cheia de roupas. Entre elas, calças coloridas que eles aproveitaram para uma sessão de fotos. Nascia ali a marca de um dos maiores fenômenos da música brasileira daquele período.
— Tinha uma lógica do que estava rolando na cena do pop punk americano. A gente escutava muito All Time Low, Cash Cash, Forever The Sickest Kids. Visualmente, fizemos uma versão mais low budget. A Restart nasce desse rolê — diz Pe Lu.
O primeiro show da Restart foi num prostíbulo no Centro de São Paulo. Mas, com ajuda do MySpace, então “a rede social da música”, a banda ganhou visibilidade na internet, o que trouxe fãs fora dela (mais rápido do que se esperava).
‘Puta falta de sacanagem’
Ficou famoso o episódio de março de 2010 em que cerca de 3 mil adolescentes foram à loja Fnac da Avenida Paulista onde eles dariam autógrafos. O evento acabou cancelado. A garotada se enfureceu e gerou memes históricos, vide “puta falta de sacanagem” e “vou xingar muito no Twitter”.
— Começavam a perceber uma força que a internet tinha e que transcendia a própria internet. De repente, tinha 3 mil pessoas na Paulista pra ver uma banda que ninguém sabia quem era — recorda Koba.
Lanza completa:
— A gente percebeu que estava ficando grande.
A partir daquele dia, foi só ladeira acima.
— Ouvimos muito não, depois todo mundo queria. Fizemos umas 35 capas de revista em seis meses. Tinha final de semana de a gente estar às 14h num programa de TV e às 16h em outro — diz Pe Lu. — Rolou superexposição.
Nos shows da nova turnê, há memorabilia do grupo exposta para os fãs, como muitas das capas de revista ou do figurino que eles usaram quando venceram cinco troféus no VMB da MTV, em 2010. Mesmo assim, saíram vaiados por parte do público na cerimônia.
— Era outro tempo. Tinha menos conversa. O rock tem um pouco isso. Num primeiro momento, o novo é excluído — avalia Pe Lu.
Pe Lanza reflete:
— Tem quem não goste. Mas a gente sempre recebeu muito mais carinho e amor.