Existe um limite para conhecer o seu ídolo? Para assistir aos shows da primeira turnê de Taylor Swift no Brasil, vale tudo. A "febre Swift" atinge fãs brasileiros, que gastaram mais de R$ 3 mil, acamparam na fila e fariam ainda mais para ver a "loirinha". As apresentações "The Eras Tour" começam nesta sexta-feira, com apresentações até o dia 19 de novembro, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, os shows serão no Allianz Parque, entre 24 e 26 de novembro.
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Em junho de 2023, ocorreram as vendas dos ingressos, que esgotaram em 37 minutos. Após a alta demanda, datas extras foram anunciadas. Mas ainda assim, muitos "swifties" não conseguiram entrada para o show. Inicialmente, a América Latina não estava no roteiro da turnê da artista. Quando soube que teriam apresentações da “The Eras Tour” no Brasil, a estudante de Direito Giulia Lobo, 21, ficou aliviada. Ela estava em um intercâmbio nos Estados Unidos e não tinha conseguido comprar os ingressos para nenhum dos dias de performance.
— Eu via as transmissões ao vivo do show o tempo todo e acompanhava tudo que podia pela internet, só imaginando o quanto eu queria estar lá. Quando as datas no Brasil foram anunciadas, foi um caos. Pensei: “meu deus, preciso de ingressos... vou guardar dinheiro para alguma emergência. Tem as roupas, as pulseiras... não acredito que isso está acontecendo” — detalha a jovem.
Giulia se tornou fã da Taylor Swift há 13 anos, quando ouviu “Love Story” pela primeira vez no filme “Cartas Para Julieta”. Desde então, a jovem acompanha a cantora e se identifica com as letras das canções. Segundo ela, Taylor “projeta emoções de um jeito tão realista que o ouvinte sente que viveu aquilo também” e ela não perderia a oportunidade de ver a ídola pessoalmente.
A estudante de Direito começou a se planejar há seis meses e afirma que o primeiro perrengue foi a compra dos ingressos. A irmã mais nova de Giulia, Manuela, só teve êxito na venda geral para a data extra do show, e precisou interromper uma consulta médica para conseguir. Por só ter ingressos VIPs disponíveis, elas deixaram de comprar as entradas dos pais. Com o show garantido, as irmãs se voltaram para a customização das roupas.
— A gente queria que esse momento se estendesse ao máximo, já que não sabemos se a Taylor vai voltar. Queremos que a “Eras Tour” dure meses, ao invés de dias. Fizemos roupas e sapatos inspirados em looks da Taylor e gastamos um dinheiro bom em miçangas, pedras e tudo mais. Ao todo, foram cerca de 250 horas produzindo roupas e acessórios para ir ao show — conta.
Manuela produziu uma roupa inspirada no clipe de "Bejeweled", da era de "Midnights", de Taylor Swift. Giulia e a irmã mais nova colaram cada pedra em um body, um short e um sapato. A estudante de Direito também contou com a ajuda da mãe, que transformou uma calça em um conjunto de duas peças, que a jovem bordou miçangas à mão.
Para completar, Giulia e Manuela Lobo fizeram cerca de 130 pulseiras para trocar entre si e com outros fãs. A onda das “friendship bracelets” é inspirada em uma música da Taylor. Em “You’re On Your Own Kid”, a loira canta “so make the friendship bracelets” (“então, faça as pulseiras da amizade”, em português). Depois de fãs publicarem vídeos no Tiktok produzindo os braceletes, a comunidade aderiu.
Após passar meses procurando nas redes sociais, Giulia conseguiu ingressos para os pais e todos vão juntos ao show no domingo.
— Eu faria de novo e até mais, se precisasse. Com tempo e planejamento, consegui tudo. Cada roupa deve ter sido uns R$ 400 e os ingressos não foram baratos, mas são histórias para contar e que só trazem memórias boas. No final, é tudo muito gratificante — conclui.
'Amor e um pouco de loucura'
Giulia Lobo não foi a única fã que correu contra o tempo para conseguir preparar tudo que planejou. A professora de balé Mayara Lemmermann tem 25 anos, mas acompanha a Taylor Swift desde os dez. Com o passar dos anos, o sentimento de Mayara de admiração e carinho pela artista só aumentou.
— Quando somos fãs, fazemos algumas coisas que pensamos: “será que vai dar certo? É possível? Será que eu consigo?”. Eu acho que os sentimentos que mais descrevem um fã são amor e um pouco de loucura, também — confessa.
Mayara conta que já passou alguns perrengues para conseguir ver quem admira de perto. Além da Taylor Swift, a professora acompanha o cantor Harry Styles, ex-integrante da banda One Direction. Em 2014, ela acampou com a mãe na porta do show dois dias antes para garantir um lugar próximo ao palco.
— Minha mãe não foi ao show, mas acampou comigo. Na hora de entrar, eu fui sozinha com algumas amigas. Foi ótimo, porque ficamos lá na frente, coladinhas na grade, mas foi doideira. Na fila, tinham muitos mosquitos e era um calor fenomenal, mas faria tudo de novo. Não me arrependo de nada — diz a professora.
Para o show da Taylor Swift, Mayara vai relembrar a sua adolescência e acampar na fila novamente. Agora, por trabalhar em diferentes escolas de dança, fica mais difícil de conseguir tempo para garantir um bom lugar no show. Por isso, a professora de dança acionou a mãe.
— Já combinamos tudo: comprei garrafa de água, isotônico, biscoito... está tudo no esquema para levar. Eu vou ao show de domingo e minha mãe vai para a fila no sábado de madrugada. Ela vai chegar por volta de meia-noite e, às 4h de domingo, eu vou encontrar com ela para ficar o mais perto possível da “loirinha” — explica.
Para ir ao show, Mayara Lemmermann produziu um collant igual ao que Taylor usa na abertura. A professora de dança pediu para uma costureira fazer o modelo e, depois, comprou as pedrinhas para colar individualmente.
— O collant é o ápice da loucura. Eu nunca tinha feito uma roupa exclusivamente dedicada para o artista, essa é a primeira. Já tem dois meses que eu estou na produção. No collant, devem ter umas 8 mil pedras coladas e mais uns 600 paetês costurados. Ainda não terminei e estou correndo para acabar a tempo do show. Acho que já gastei uns R$ 350 nessa roupa, fora o ingresso, que foi mais de R$ 500. Ainda fiz mais umas 40 pulseiras para trocar. Então, foi bastante gasto, mas que vale muito a pena — revela.
Faça chuva ou faça sol
O estudante Junior de Paula, 23, vai ao show da Taylor Swift, mas é fã mesmo do RBD. A banda pop mexicana surgiu a partir da telenovela Rebelde. O grupo musical estreou com o álbum, “Rebelde”, em 2004, e encerrou as atividades em 2009, após o lançamento de seu último disco, “Para Olvidarte de Mí”. Em janeiro deste ano, foi anunciada a “Soy Rebelde Tour”, que esgotou os ingressos em minutos.
A primeira memória que Junior tem de ser fã do RBD é de quando tinha entre quatro e cinco anos. Ele começou a acompanhar a novela pela influência dos amigos, que gostavam.
— Foi ali que eu percebi o primeiro sentimento de fã que eu tive na minha vida. Eu lembro que, num aniversário meu, minha irmã me deu de presente um CD do RBD. Eu estava brincando na rua com outras crianças e parei tudo para entrar em minha casa e ouvir o álbum inteiro. Então acho que foi ali, quando eu percebi que eles tinham uma importância maior do que até brincar para mim, como criança — relembra.
Junior afirma que nunca imaginou poder ver os artistas que admira de perto, ainda mais 15 anos depois. Quando o anúncio da turnê foi feita, ele e os amigos começaram a arquitetar um plano para garantir que não deixariam de comprar os ingressos.
— A pré-venda ia começar em uma terça-feira. Decidimos ir para a Jeunesse Arena no domingo e ficar lá até o dia. Montamos um grupo de 12 pessoas e a gente fazia revezamentos para conseguir comprar o ingresso do show — detalha.
A barraca “Sálvame Squad” foi a quinta barraca chegar. Junior ficou encarregado de cobrir o turno da virada de segunda para terça-feira e conta que, naquela semana, fazia muito calor no Rio de Janeiro e uma chuva forte gerou perrengues.
— Na segunda-feira, tava um calor absurdo e começou uma chuva surreal no Rio. Ela levou tudo e quebrou a nossa barraca. A gente ficou na rua mesmo, porque era a única coisa que dava. Todos os panos que nós botamos na barraca coberta para passar a noite foram perdidos, porque ficaram molhados. Não dava para sair dali, senão a gente ia perder o nosso lugar na fila — relata.
Apesar do desgaste, Junior de Paula faria tudo de novo. Segundo ele, o show era também pela sua criança interior. Na época, os pais não podiam pagar um ingresso caro, mas, agora, ele pôde viver a experiência de ver os ídolos pessoalmente.
— O RBD mostrou que sonhos acontecem, que são reais, e isso mexeu muito com a minha criança interior e a de todos os fãs. Eu fiquei muito feliz de poder fazer isso por mim e por ela, mesmo achando que seria impossível — relembra.
*Estagiária sob supervisão de Daniel Biasetto