Cultura
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Por — Rio de Janeiro

“Olha a Imperatriz chegando!” O bordão de Dominguinhos do Estácio (1941-2021) abre o disco dos sambas-enredo de 2024 com um certo sabor de passado: Imperatriz campeã, cigana, destino... “Com a sorte virada pra Lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda” rende um dos melhores sambas do ano, leve, melódico e bem puxado por Pitty de Menezes. Também com cheiro de passado vem “Gbalá: viagem ao templo da criação”, composto por Martinho da Vila para o carnaval de 1993, que a Unidos de Vila Isabel leva novamente à Avenida 31 anos depois e que segue lindo, mesmo pouco conhecido.

Imperatriz Leopoldinense — Foto: Brenno Carvalho
Imperatriz Leopoldinense — Foto: Brenno Carvalho

De uma máquina do tempo semelhante vem a Unidos da Tijuca, misturando Brasil e Portugal em “O conto de fados”, samba cadenciado e assobiável puxado pela fera Ito Melodia. Os luso-enredos são uma tradição da escola do Borel desde o Descobrimen... os anos 1980, cortesia de Fernando Horta, português presidente da escola.

Unidos da Tijuca — Foto: Roberto Moreyra
Unidos da Tijuca — Foto: Roberto Moreyra

Na Mangueira, a homenagem a Alcione remete a um tempo em que Braguinha, Caymmi e Drummond renderam títulos: tambores de mina do Maranhão, a força feminina e os deuses africanos se unem em um belo samba. Vizinho da Mangueira em São Cristóvão, o Paraíso do Tuiuti também faz lembrar antigos carnavais em “Glória ao Almirante Negro”, sobre o marinheiro João Cândido e a Revolta da Chibata, em 1910. Apesar da grife Moacyr Luz-Cláudio Russo (entre outros parceiros), o samba não se destaca em meio à boa safra.

Desfile da Mangueira — Foto: Brenno Carvalho
Desfile da Mangueira — Foto: Brenno Carvalho

Chega de passado: o Salgueiro faz sucesso ao abordar de forma agressiva um assunto sério: “Você quer me ouvir cantar Yanomami/ Pra postar no seu perfil/ Entre aspas e negrito/ O meu choro, o meu grito, nem a pau, Brasil!”, diz uma das melhores letras do ano, do enredo “Hutukara”. Também política, a Portela é pura raça negra em “Um defeito de cor”, inspirado no livro homônimo de Ana Maria Gonçalves. O vozeirão de Gilsinho defende a triste melodia com a firmeza de sempre: “Nasci quilombo e cresci favela”.

Em outra praia, a tropicalista Mocidade Independente de Padre Miguel também emplaca um hit pré-carnavalesco em “Pede caju que dou... Pé de caju que dá”: “O mel escorre, olho claro se assanha/ Se a polpa é desse jeito, imagine a castanha” diz o irresistível refrão do meio, em levada frevo-axé de sotaque nordestino. Campeã em 2022, a Grande Rio também vem bem-humorada e leve no folclore pop-amazônico de “Nosso destino é ser onça”, um dos mais saborosos da safra. Quase um caju maduro.

A Beija-Flor vai a Alagoas contar “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, que, boa notícia, foge da fórmula que a gigante de Nilópolis segue há décadas. A lenda Neguinho da Beija-Flor faz bem seu trabalho, mas o samba escorrega no refrão “Aqui é Beija-Flor/ Doa a quem doer”. Para que tanto ódio no coração, Deusa da Passarela?

Vinda de um título, dois vices e um terceiro lugar nos últimos quatro anos, a poderosa Unidos do Viradouro traz o cantor Wander Pires e seu estilo operístico em “Arroboboi, dangbé”. A intrincada lenda afro-baiana acaba resultando em um samba difícil, que dará trabalho à bateria de Mestre Ciça. Também do lado de lá da Baía, a Porto da Pedra, de São Gonçalo, retorna ao Grupo Especial trazendo o “Lunário Perpétuo”, clássica publicação espanhola do século XVI, traduzida para o carnavalês com sabor nordestino, em boa levada de baião (em fevereiro deste ano, com a Imperatriz, deu em título) na voz experiente de Wantuir.

Com baterias bem gravadas, temas recorrentes, abordagens novas e tradicionais, o disco do Grupo Especial ratifica o bom momento que vive o gênero samba-enredo.

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