Música
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Por , Em The New York Times

NOVA YORK — Ao longo de quatro décadas, evolução, rebeldia e resiliência têm sido as marcas registradas de Madonna, sendo que o ímpeto é sua força vital. Como uma figura central da música pop, constantemente em movimento, por que ela faria uma pausa para contemplar suas conquistas ou revisitar o passado, arriscando-se a perder o fôlego?

Assim, na Celebration Tour, sua primeira turnê dedicada aos sucessos passados e não a um novo álbum, há nuances compreensíveis de desafio e relutância. A fase americana da retrospectiva teve início na noite de quarta-feira no Barclays Center, no Brooklyn, incorporando todas as características clássicas de um espetáculo de Madonna. No entanto, em contraste com suas 11 turnês anteriores desse porte, esta foi marcada por fantasmas — alguns convidados e outros, intrusos.

O set list começou com um momento de nascimento, marcando não o início da carreira de Madonna, mas a chegada de seu primeiro filho. A música foi "Nothing really matters", de seu álbum de 1998, "Ray of light", sobre como a chegada de um filho reorganiza nossas prioridades. O anacronismo estabeleceu o tom: a Celebration Tour conta a história de sua vida, e a narrativa é permeada por suas experiências com a perda da mãe e com a própria maternidade. "Nunca esqueça suas origens", instrui uma dançarina que representa sua versão mais jovem, em quem ela então dá um abraço maternal.

Madonna e bailarino em sua 'Celebration tour' — Foto: The New York Times
Madonna e bailarino em sua 'Celebration tour' — Foto: The New York Times

A primeira parte do show, dividido em sete capítulos, foi a mais descontraída ("Everybody", "Holiday", "Open your heart"). Mas a alegria foi se construindo sobre adversidades. Antes de Madonna entrar em cena, o mestre de cerimônias da noite, Bob the Drag Queen, recordou ao público que a cantora chegou à cidade de Nova York vinda de Detroit com US$ 35 no bolso, incluindo algumas cédulas falsas.

Vestindo um espartilho azul-petróleo, minissaia preta e uma jaqueta adornada com correntes, Madonna, aos 65 anos, evocou a energia sombria da cena urbana do fim da década de 1970, onde se deparou com mentes criativas semelhantes à sua.

— É um alívio estar de volta — disse ela em meio a uma enxurrada de impropérios, enquanto pegava uma guitarra elétrica para apresentar uma versão poderosa de "I love New York" misturada com "Burning up".

Fotos antigas do CBGB, onde fez um de seus primeiros shows, iluminavam a tela atrás dela.

Madonna:  por mais de duas horas, ela conta a própria história — Foto: The New York Times
Madonna: por mais de duas horas, ela conta a própria história — Foto: The New York Times

A alegria logo se transformou em melancolia: a comunidade de artistas que a acolheu foi devastada pela Aids, e Madonna cantou "Live to tell" como uma poderosa homenagem. Telas suspensas ao redor do palco, por quase todo o comprimento do piso em uma série de passarelas, inicialmente exibiam rostos isolados. As imagens então se multiplicaram, revelando a escala da epidemia. Havia histórias demais para contar.

Durante mais de duas horas, Madonna evitou os caminhos mais óbvios para contar a própria história. Depois da primeira seção, o show seguiu uma ordem apenas vagamente cronológica, explorando temas como sua sexualidade ousada ("Erotica", apresentada em um ringue de boxe, e "Justify my love", encenada como uma quase orgia); sua busca pelo amor (com uma versão lasciva de "Hung up" e a favorita dos fãs, "Bad girl"); e sua rebeldia (marcada pelo sucesso "Don't tell me", com tema de caubói). Ela apimentou o show com referências a turnês e vídeos anteriores, mas optou por não incluir as escolhas óbvias ("Papa don't preach", "Express yourself"), escolhendo em vez disso o duvidoso tema de 007, "Die another day", e um cover acústico de "I will survive", de Gloria Gaynor.

O momento mais impressionante foi "Like a prayer", que ela cantou em um espetacular carrossel giratório com dançarinos sem camisa em poses que imitavam a crucificação de Cristo. O baixo pulsante da remixagem produziu tensão, e uma transição rápida para "Unholy", de Sam Smith e Kim Petras, ressaltou a influência duradoura da canção original.

Madonna nunca se rendeu à nostalgia antes e, nesse show, o motivo ficou evidente. Nos anos 80, ela estava ocupada reformulando as expectativas sobre o potencial de uma carreira pop. Nos anos 90, testava os limites da expressão explícita de seus desejos. Nos anos 2000, encontrava uma nova liberdade na pista de dança. Na década de 2010, trouxe novas vozes para sua órbita. Mas, em uma turnê que celebra o passado, é impossível ignorar a passagem do tempo. Agora, há menos futuro diante de Madonna, e não se sabe como a artista vai lidar com isso.

Até recentemente, sua carreira inovadora era uma demonstração de força física aparentemente impossível. Mas, perto do fim dos shows de 2020, promovendo seu último álbum de estúdio, "Madame X", lesões graves a afetaram. O corpo antes incansável de Madonna falhou poucos dias antes do início da Celebration Tour, em julho, e ela foi hospitalizada com uma infecção.

No Barclays, ela permitiu que seus dançarinos assumissem a maior parte do trabalho, embora ainda tenha liderado a coreografia na maior parte do show, quase sempre de salto alto. Às vezes, saltitando pela passarela com o cabelo loiro ao vento, ela lembrava a novata despreocupada que revolucionou o mundo pop. Em outros momentos, com um leve atraso no ritmo, parecia uma veterana dos palcos que suportou décadas de trabalho físico extenuante.

Filha em destaque

Madonna, reconhecida há muito tempo por ser perfeccionista, parecia mais descontraída e falante durante toda a noite. Ao longo da apresentação, fez várias pausas para interagir com o público, mostrando entusiasmo durante uma homenagem divertida à cena do salão de baile destacada em "Vogue", na qual sua filha Estere, de 11 anos, brilhou na passarela. Em "Ray of light", a cantora pareceu se divertir muito dançando dentro do elevador retangular que a levou acima da plateia.

À esquerda, Estere, filha de Madonna: destaque no palco — Foto: The New York Times
À esquerda, Estere, filha de Madonna: destaque no palco — Foto: The New York Times

Há muito tempo, Madonna conhece o poder do vídeo, e a síntese mais eficaz de seu impacto veio na forma de uma montagem antes do penúltimo ato do show, uma compilação de manchetes e notícias sobre sua capacidade inigualável de chocar o mundo. "A coisa mais controversa que já fiz foi permanecer aqui", afirmou a artista em um discurso de 2016, destacando sua persistência na luta contra os males do machismo e do etarismo.

No palco, ela observou que os nova-iorquinos não gostam que lhes digam o que fazer. Mas talvez o fato de finalmente parar para olhar para trás tenha revelado outro caminho a seguir: a merecida era de seu legado. "Alguma coisa está chegando ao fim, e alguma coisa começa", entoou ela em "Nothing really matters", enquanto se movimentava sozinha pelo palco.

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