Parece que nunca foi tão fácil escolher o livro certo para dar de presente. Em 2023, as livrarias receberam novos títulos para todos os perfis. É o que avaliam personalidades da cultura ouvidas pelo GLOBO, que indicaram cada uma cinco livros para presentear neste fim de ano.
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— Livros são excelentes presentes de Natal. Sempre digo que transformaram minha vida. Foi um ano interessante para nos apresentar obras sobre política e sociedade — diz a advogada Gabriela Prioli, integrante do programa “Saia justa” (GNT), que em sua lista incluiu títulos de não ficção como “O descontentamento da democracia: uma nova abordagem para tempos periculosos” (Civilização Brasileira), de Michael Sandel, e “A fé e o fuzil: crime e religião no Brasil do século XXI” (Todavia), de Bruno Paes Manso. — São lançamentos que chamam a atenção ao explorar bem temas de fundo, nos dando alicerce para pensar questões relevantes.
O influenciador Felipe Neto é outro que aponta um ano “fantástico” para a não ficção. Seu destaque é “A máquina do caos” (Todavia), do repórter do New York Times Max Fischer, sobre o impacto das redes sociais na sociedade.
— É um livro essencial para a população do mundo inteiro, mas principalmente a brasileira — diz Neto, que aponta, contudo, um ano “menos aquecido” na área da ficção. — Os lançamentos de Stephen King (“Holly”) e Charlie Donlea (“Olhos vazios”) puxaram para cima, mas muitos autores ficcionais decidiram não publicar este ano, uma pena.
Em comum, a variedade
As listas de destaques do ano nunca foram tão variadas, com poucos livros repetidos em cada uma delas. E isso deve muito a uma democratização do mercado editorial, com novas vozes da literatura ganhando espaço em editoras tradicionais e a comunidade leitora criando novas formas de se conectar e falar sobre literatura.
Um dos grandes expoentes atuais do segmento jovem-adulto, Vitor Martins indica narrativas nacionais que primam pela diversidade: “Marketing do amor” (Intrínseca), de Renato Ritto, comédia romântica em que um engenheiro se apaixona pelo seu futuro chefe; e “Quarto aberto” (Companhia das Letras), de Tobias Carvalho, que retrata novos modelos de relações ao embaralhar as vidas amorosas de quatro jovens gays.
Com 2024 batendo à porta, nada melhor do que livros sobre o futuro. O ator Lázaro Ramos indica alguns livros para se reinventar no ano que vem, como “O potencial da mudança: o desafio de navegar pelas incertezas” (Objetiva), de Rodrigo Hübner Mendes, com dicas para enfrentar a adversidade. E, para os mais novos, “Pequeno manual de meditação”, de Kiusam Oliveira, autora fenômeno do universo infantojuvenil e uma das mais vendidas da última Bienal do Livro do Rio.
— Este ano, ela chegou com um livro belíssimo em todos os sentidos — diz o ator.
Expoente do movimento conhecido como afrofuturismo, Alê Santos indica dois livros no segmento da ficção científica: “O mundo superior” (Alt), de Femi Fadugba, e a HQ “Soundtrack” (JBC), de Rashid e Guilherme Match. No terror, ele lembra de “Dois mortos e a morte e outras histórias”, de Tanto Tupiassu.
— A ficção científica brasileira está caminhando, a gente vê novos nomes chegando nas grandes editoras, mas ela ainda precisa ganhar corpo nos eventos e nas bienais — diz o escritor, duas vezes finalista do Jabuti.
A própria existência
Editora por 30 anos da lendária José Olympio, Maria Amélia Mello chama a atenção para um fenômeno: a grande oferta de livros em torno do universo do livro. Há dois em sua lista: “Como organizar uma biblioteca” (Companhia das Letras), de Roberto Calasso, e “História do livro e da edição” (Atelier), de Yann Sordetseja. São ótimos presentes para pessoas que, como ela, vivem rodeadas de livros e querem refletir melhor sobre sua própria existência ao redor deles.
— Este ano houve livrarias abrindo as portas, adotando uma expressão identificada com as artes plásticas, a curadoria. Neste aspecto, uma curiosidade: muitos livros foram lançados com as palavras “livraria” e “biblioteca” nos títulos — diz Mello, ela mesma autora de um livro sobre livros, “Editando a Editora 10 — Maria Amélia Mello” (Edusp/ComArte), em que ela compartilha seu trajeto profissional.
A historiadora Mary Del Priore escolheu cinco lançamentos de Ciências Humanas e História. Ela alerta, porém, que os dois campos recuaram no mercado editorial. Entre os culpados, elenca ela, estão a pirataria de conteúdos, o sistema de apostilas na graduação e a crescente desvalorização do livro acadêmico como parte da carreira docente.
— Por falta de leitura, o Brasil demonstra uma ignorância crescente em relação ao passado e, entre nós, desinformação e equívocos transbordam — diz ela. — As picuinhas identitárias empobreceram qualquer discussão e ignoram as milhares de pesquisas que nos ajudariam a entender como e por que somos um país pobre, nepotista e corrupto, mas que tem na riqueza de nossa mestiçagem biológica e cultural uma janela para corrigirmos o que o sociólogo Manuel Bonfim chamou de “males de origem”.
Confira as listas completas
Igor Pires, poeta
- ‘O cozer das pedras, o roer dos ossos’ Patrick Torres (Astral Cultural)
- ‘O mar me levou a você’ Pedro Rhuas (Seguinte)
- ‘Nunca vi a chuva’ Stefano Volp (Galera Record)
- ‘Se a ansiedade tivesse um som, seria de uma ambulância’ Jessica Ferreira (Urutau)
- ‘Um traço até você’ Olívia Pilar (Intrínseca)
Felipe Neto, influencer
- ‘A máquina do caos’ Max Fisher (Todavia)
- ‘Nação Tarja Preta’ Anna Lembke (Vestígio)
- Amigos, amores e aquela coisa terrível’ Matthew Perry (Best Seller)
- ‘Holly’ Stephen King (Suma)
- ‘Olhos vazios: um livro eletrizante’ Charlie Donlea (Faro Editorial)
Mary del Priore, historiadora
- ‘Casa Grande & Senzala – 90 Anos’ Gilberto Freyre (Global)
- ‘Preconceito — Uma história’ Leandro Karnal e Luiz Estevam de Oliveira Fernandes (Companhia das Letras)
- ‘Mestiçagem, identidade e liberdade’ Antônio Risério (Topbooks)
- ‘Vinho e colonização — O Brasil e as bebidas alcoólicas 1500-1822’ Renato Pinto Venâncio (Alameda Editorial)
- ‘Pantanal — Origens de um paraíso’ Maria de Fátima Costa e Pablo Diuner (Capivara)
Lázaro Ramos, ator
- ‘A mais recôndita memória dos homens’ Mohamed Mbougar Sarr (Fósforo)
- ‘O potencial da mudança: o desafio de navegar pelas incertezas’ Rodrigo Hübner Mendes (Objetiva)
- ‘Pequeno manual de meditação para crianças que querem se conectar com o mundo’ Kiusam de Oliveira (Autora) e Rodrigo Andrade (Ilustrador)
- ‘A vestida’ Eliana Alves Cruz (Malê)
- ‘O último ancestral’ Alê Santos (Harper Collins)
Flávia Lins e Silva, escritora
- ‘O mago e a tempestade’ Rapha Pinheiro (Edição própria)
- ‘A casa de todos os ninhos’ Roseana Murray, Bia Hetzel e Mariana Massarani (Ilustrações) (Instituto Coral Vivo )
- ‘Dor fantasma’ Raphael Gallo (Globo Livros)
- ‘Os olhos grandes da menina pequenina’ Ondjaki e Carla Dias (ilustrações) (Mima Editora)
- ‘As pequenas doenças da eternidade’ Mia Couto (Companhia das Letras)
Gabriela Prioli, advogada e apresentadora
- ‘Trinta segundos sem pensar no medo’ Pedro Pacífico/@book.ster (Intrínseca)
- ‘Preconceito: uma história’ Leandro Karnal e Luiz Estevam (Companhia das Letras)
- ‘O descontentamento da democracia’ Michael Sandel (Civilização Brasileira)
- ‘A fé e o fuzil’ Bruno Paes Manso (Todavia)
- ‘Histórias de ninar para garotas rebeldes’ Elena Favilli (Outro Planeta)
Vitor Martins, escritor
- ‘Quarto aberto’ Tobias Carvalho (Companhia das Letras)
- ‘Marketing do amor’ Renato Ritto (Renato Ritto)
- ‘Os fantasmas entre nós’ Gih Alves (Seguinte)
- ‘As garotas de Grimrose’ Laura Pohl (Gutenberg)
- ‘Uma canção de amor e ódio’ Vinícius Grossos (Nacional)
Maria Amélia Mello, editora
- 'Como organizar uma biblioteca', Roberto Calasso (Companhia das Letras)
- 'De uma a outra ilha', Ana Martins Marques (Círculo de poemas/Luna Parque/Fósforo)
- ‘História do livro e da edição’ Yann Sordet (Ateliê Editorial/Edições Sesc São Paulo – Coleção Artes do Livro)
- 'Sempre Paris – Crônica de uma cidade, seus escritores e artistas', Rosa Freire D´Aguiar (Companhia das Letras)
- 'Todos juntos (1976/2023)', Vilma Arêas (Fósforo)
Alê Santos, escritor
- ‘Dois mortos e a morte e outras histórias’ Tanto Tupiassu (Rocco)
- ‘O escravo’ Carolina Maria de Jesus (Companhia das Letras)
- ‘O mundo superior’ Femi Fadugba (Alt)
- ‘Soundtrack’ Rashid e Guilherme Match (JBC)
- ‘Nunca vi a chuva’ Stefano Volp (Galera Record)
Andrea Pachá, desembargadora e escritora
- ‘Incerteza, um ensaio’ Eugênio Bucci (Autêntica)
- ‘Salvar o fogo’ Itamar Vieira Júnior (Todavia)
- ‘Peitos e ovos’ Mieko Kawakami (Intrínseca)
- ‘Oração para desaparecer’ Socorro Acioli (Companhia das Letras)
- ‘O céu implacável’ João Carrascoza (Alfaguara)