Por que reflexão de Paulo Vieira sobre família e amor-próprio chama a atenção da web no início de ano

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Na série de postagens, com mais de oito mil curtidas, Vieira traça uma linha na qual fala sobre a relação (criada por ele mesmo) entre o cantor americano Marvin Gaye (1939-1984), a deusa grega Afrodite e a migração de borboletas-monarcas do Canadá para regiões mais quentes.

O estopim para a reflexão iniciou, segundo o humorista, em uma conversa com uma amiga, cuja família é “horrível”. A partir dessa relação conflituosa ele desenvolve um pensamento sobre distanciar-se dos focos de atrito no núcleo familiar e começar a buscar novos horizontes, tendo como base o amor-próprio, visto como ponto central por páginas de pensamento de motivação e de astrologia para dar uma nova guinada para a vida.

Para isso, Vieira afirma, na postagem viral, que é preciso inspirar-se no nascimento de Afrodite (ou Vênus, na mitologia romana) e se erguer. A deusa grega, de acordo com os mitos, teria surgido como uma flor dos órgãos reprodutores de Urano, durante uma briga com o filho. Isso mesmo que resultasse em um distanciamento de parentes — se ela for, nesse sentido, causa de desavenças.

“’MDS’ Paulo! Que texto incrível! Eu não canso de te admirar, gratidão por essas palavras! Vou imprimir, ler todo santo dia, e sair distribuindo cópias dele por aí”, comentou uma seguidora na postagem.

O abandono da família, para alguns internautas, entretanto, foi visto como algo não obrigatório: “Eu não conhecia a thread... Li agora. Que texto! Incrível. E é possível atravessar toda essa passagem, essa transformação, sem deixar a família de fato. A viagem solitária acontece dentro da gente mesmo”, escreveu outra.

Deixando de lado ou não, fato é que a mensagem deixada por Paulo Vieira é como uma promessa para o ano novo. Os seguidores se apegam à ideia de recomeço — no caso, rompimento de ciclos para o início de novos — e do amor próprio.

Qual é o fio que liga Marvin Gaye, Afrodite e as borboletas peregrinas?

Faz tempo que eu quero ter essa conversa com vocês. Sempre naquele nosso combinado:

1) Eu converso [assim] como a Ana Maria Braga cozinha. Vou preparando e separando os ingredientes para no final misturar e isso fazer sentido como uma receita.

2) Tô pensando em voz alta.

Uma amiga minha tem uma família horrível. Pode ser seu caso também. Esses tuítes são parte da conversa que eu tive com ela. Parte da minha argumentação de: Você precisa cortar relações com sua família imediatamente!

Todo 1° de abril eu me lembro: foi em um dia da mentira que o artista mais tocado daquele ano de 1984, Marvin Gaye, foi assassinado pelo próprio pai. Morreu como viveu: defendendo sua mãe das brutalidades do marido. Marvin estava no melhor momento da sua carreira. Morava com toda família em uma mansão. Foi morto com dois tiros da arma que ele mesmo deu de presente para o pai.

Sempre que eu penso nessa vida interrompida, no que esse artista teria produzido e onde ele teria chegado... Sempre que eu penso nessa história, eu me lembro de Afrodite!

“Afrodite era a Deusa do amor”, sim. Mas tem um aspecto sobre o mito de Afrodite que é pouco falado, uma amiga iconógrafa me clareou as ideias e ela nunca mais foi “só” a Deusa do amor pra mim…

Nem Sasha Meneguel teve um nascimento tão glorioso que Afrodite: durante uma briga de Titãs, quando Cronos cortou os órgãos genitais de Urano (essa parte não é tão bonita)... Com o balançar das águas, das espumas do mar, dentro de uma concha de madrepérola ergueu-se Afrodite.

Afrodite é a beleza. Sobretudo, ela é a beleza humana em todo o seu esplendor. Da turbulência do mar (dificuldades?) se ergue Afrodite. Note que ela não nasce, ela se ergue po***! Desabrochada, plena, resolvida, sensual, divina… Afrodite é a beleza de quem chegou ao ápice da própria existência. Afrodite representa o nosso objetivo até a plenitude de sermos o que viemos ao mundo para ser. Por isso, ela é a Deusa da fertilidade. É a beleza de quem gestou o que veio gestar nessa ca***** de Terra, entende? E é por isso que ela não tem pai nem mãe.

Para nos lembrar que nosso caminho é único. Para nos lembrar de duas coisas:

1) Cortar o que te impede de ser plenamente você. Seu melhor “eu” não tem pai nem mãe. Viemos para nos “gestar” sozinhos.

2) Só esse novo “eu” (sem pai e mãe) pode desabrochar e erguer-se numa concha de madrepérola. Só esse novo “eu” pode trazer o seu melhor ao mundo, a sua luz, sua arte... A sua beleza.

Entenderam?

Essa interpretação do mito de Afrodite me faz lembrar da etimologia da palavra: família é escravidão. O que me leva às borboletas...

Numa conversa com meu irmão eu criei esse termo: “crise da borboleta”. Todo ano, milhares de borboletas-monarcas deixam o Canadá buscando calor na Califórnia e no México. Um rolê de 4.828 quilômetros. Só que borboletas vivem pouco, ou seja, nenhuma borboleta faz a migração completa. A geração que sai, morre no caminho, aí vem uma outra geração que passa a vida no caminho e a terceira chega lá sem saber nem quem saiu. Eu sempre penso nessa borboleta do meio. E se ela simplesmente disser: “Não, obrigado, vou andar mais não. Tenho outros planos para minha vida”?

Essa é a “crise da borboleta”. Quando você se vê no meio de um projeto que não é seu. Tem gente que passa a vida voando e nem percebe que a rota foi pensada por outros, mas tem gente que acorda e quando isso acontece só tem um caminho... Afrodite (e 42) é a resposta!

Existe uma razão pra eu ter puxado esse papo no dia da mentira: na sociedade em que vivemos (a redação do ENEM chora) somos ensinados a fantasiar uma relação familiar que muitas vezes é impossível de ser vivida com a família que a gente tem. Muitas vezes nossa família não tem educação, cultura ou amor pra entender o que nós somos. É mentira que você precisa ficar lá tentando ser amado. É mentira que “família é assim mesmo”. É hora de cair fora e pular no mar até se erguer!

Todo mundo precisa romper com a família em algum nível. Isso é um tabu que a gente precisa quebrar. E aqui eu me dirijo diretamente a você, minha amiga: Você não pode salvar sua família agora. Você não tem força pra isso. Você está se afundando com eles.

É como em qualquer outra medida de salvamento: primeiro você. “Coloque a máscara primeiro em você, depois ajude”... Só quem está salvo pode oferecer ajuda.

Saia imediatamente desse submundo (como a versão oriental de Afrodite, Ishtar) e se erga [como] deusa. Só aí tu poderá fazer alguma coisa. É muito triste ver Afrodite no fundo do mar… É isso. Desculpa a falação, espero que misturando tudo tenha feito algum sentido.

P.S. Esqueci! E é por isso que Afrodite é a Deusa do AMOR: Ela está cheia de si, então, está livre para amar plenamente!